SIMPLÓRIO
Desde que a vida se desdobou
A meus olhos em suas pequenas
maravilhas
Ridículos monstros, belezas
insuspeitas guardadas
nos recantos recanteados do mundo
o mundo me ensinou a ser
simplório.
Nesse então foi quando aprendi a
amar
e entregar-me com o corpo
como se esse fosse velas ao vento
meu ser: velas ao vento, brisas, furacões
o que às vezes me faz chorar
litros
assim como rir tão feliz como
pinto no lixo.
Quanto me reconheci fraco
pude usar o machado a cortar
troncos
pois antes, povoado por minha suposta
força
e por minha ampla vaidade, rompia
as mãos na tarefa triste e inglória
sem saber usar a fraqueza no
conduzir
o pesado instrumento de trabalho.
Na mesma medida em que o mundo
denunciou-me e me fez cansar
da própria vaidade, sem deixar de
amá-la
como a um brinco enfeitando o espírito
sem que da alma a vaidade fazer-se
ama
descobri o oceano de humildade
em meu ser feliz no silêncio.
Agora saio pela manhã
beijando o orvalho como se fosse
os lábios da minha amada
regalo-me luxuosamente ao ver
flores miúdas, cogumelos, ou capim
dobrando-se manso à brisa.
O entusiasmo me cega frente
à borboleta, ao besourinho, vagalume
e corro buscando alguém pra
contar
a beleza da bobagem e falo e conto
canto alto como se não fosse
desafinado
e danço louco como se dançar
soubesse.
Aprendi a me sentir grato
até com uma queda horrível
que tomei alguns meses atrás
porque por ela descobri belezas
insuspeitas, e lições
inesquecíveis;
E, sendo homem de pouca fé
o grande mistério inda assim
torna-se em milhares de mãos
que delicadas me acariciam
e sei que é Ele, embora muitos
amorosamente me alertem
que nada mais é que a brisa
que é o vento roçando a minha
pele.
Por fim abdiquei de conhecer tudo
sem deixar de gostar do saber e
ler
fiz de mim o que sou: um tolo,
bobo tal que todos riem
de minha tolice e se regozijam
como a minha parca sabedoria
e minha tão alegre vivaz alegria
só por estar vivo e saber do meu
tino!
Choro algumas noites, padeço saudade
tristeza, dor, decepção, ânsia do
que não sei
sim, choro e esse é um dom: chorar
depois me desgraço a rir
e a minha gargalhada desregrada
ilumina a noite com a luz dos
simples
simplórios que cada dia mais
serei.
Em
15/8/20
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