domingo, 8 de agosto de 2010

OCASO

O ocaso do sol, quando o mundo fica silencioso e tranqüilo, tem às vezes um quê de melancolia. Os poetas, muitos deles, deixaram-se seduzir por isso, por essa saudade sem nome, sem motivo ou destino. Um sofrimento relativamente doce, sem a força da paixão ensandecida. Não gosto de ficar assim. Fico às vezes. Em alguns dias as insatisfações me vêm fazer visita. É quando o mundo perde o gosto, o rosto do sol não queima minha cara com o mesmo prazer. A lua chora logo que vislumbra as casas no seio do vale. Nestes momentos temos a sensação de que o mundo é triste, mas que não nos enganemos, pois nada disso se passa com o mundo. Sei que o mundo não chora, cora apenas à ida do sol, brilha ao seu retorno. As árvores permanecem mudas enquanto o vento não lhes traz o som às folhas. O horizonte será sempre frio ou quente, conforme meu coração o aqueça ou amealhe orvalhos de lágrimas.
Às vezes quando vejo o mundo à frente fico confuso. É que não há saída para a vida. Às vezes não vejo saída e o ocaso toca minha fronte. É uma morte aos poucos. Um envenenamento suave. Mas sei que não gosto de dor, coisa que conheço e bem. O mundo não é triste, faço-o. A alegria é arrancada de um vazio pelo meu sorriso. Nasce. Às vezes sou visitado por todas as insatisfações que aos poucos foram sendo deixadas na beira do caminho. Elas merecem minha atenção, mas jamais minha vida. Às vezes deixo de ver qual a saída para um beco sem saída em que posso estar metido. Mas no mais das vezes vejo que a vida não tem saída porque não faz falta saída, e o beco não é sem saída, porque simplesmente não há beco. Às vezes, quando estou dentro de um abrigo antiaéreo, como nos filmes de antigamente, descubro que não há guerra.
Amo minha vida, amo o estar aqui, neste lugar, convivendo com uma certa mulher que é um conjunto de bênçãos, encontrando amigos e gente que sofre, ajudando e sendo ajudado.
Hoje as visitas foram nostálgicas, não por elas, sim porque me fiz de pouso para aquilo que deveria ser visto, avaliado e esquecido... Se assim não fiz, isso não significa muito, embora um amante dos dramas que em mim há, queira. O mundo segue, a noite vai caminhando, agora posso me levantar para dar um bom passeio sentindo a brisa fresca do vale.
Aureo Augusto.

4 comentários:

  1. Engraçado,ontem senti-me assim melancólica,melancolia própria dos poetas e seus eternos dramas. Este texto me ajudou e muito e acho creio, que é este levantar e seguir, o contrapeso. Eu também acho o mundo bonito quando olho sua simplicidade apenas e esqueço sua complexidade, complexidade esta que às vezes sinto como total ilusão.Às vezes e quase sempre acho tudo tão previsível. Será que criamos mesmo nossa realidade? Medinho!!!!Este é um assunto longo e eu continuo sem entender a fúria dos deuses! Abraços, e um ótimo redespertar!!

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  2. Lindo texto.

    Sou virginina nata e tenho muito desses momentos.

    Mas graças a Deus, faço logo o movimento "sai dessa" e geralmente fico bem.

    É importante acolher estes momentos (que são nossos, somente nossos) e depois resignificá-los e deixar eles irem.

    E assim vomo vc no Capão, aonde se dar o prazer de ter este santuário abençoado ao seu dispor, para "lavar" a sua alma e a sua companheira, para lhe aquecer a carne e o espírito, eu tb tenho a sorte de ter Cações, tão rico de natureza e meu amado, o meu ombro amigo, o meu amor a me aquecer.

    E tb as pessoas de ambas comunidades, com os seus históricos de vida que muitas vezes nos fazem corar de vergonha, de um dia termos ficado tristes.

    Eu tenho um lema, Dr. Áureo.

    "De joelhos, somente para Agradecer ao Sagrado Coração de Jesus e Nossa Mãe Santíssima"

    E lembrar que, em todo "ocaso" tem um sol a brilhar, logo mais.

    Um grande abraço e feliz dia dos pais atrasado...rsrsrsr

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  3. Oi meu querido colega (pois te considero um educador nato) passei para parabenizá-lo pelos bellíssimos texto que li no seu blog, vvindo de você não esperaria coisa diferente. As suas palavras nos entam e emocinam, faz com que nossa alma dançe e se envolvam nos seus casos poetícos, suas histórias (ou seria nosso?) enfim o seu pensamento nos faz pensar, agir. reagia, regozijar nas delícias que se torna o amontoado de palvaras feito por você!!!
    Adoro os seu textos, parabéns!!!
    Ah! Obrigado pela visita em meu blog, veja outras coisas e dê sua opinião, os meu amigos foram notificados do seu blog.
    http://diariodeumeducadorbaiano.blogspot.com/

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  4. Nossa! Fiquei mto feliz com os comentários que recebi. Lília, sua fala me faz pensar. Creio que escreverei algo sobre o que ela me trouxe. Jussiara, o legal é que podemos olhar o mundo de um pto de onde vemos aquilo que somos e temos. Dá uma diferença.
    Caro Dermival, honra-me ser tratado como educador. Gostei do que vi no seu blog e me alegro por ter este colega de atividade.
    Um abraço para vcs,

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