Ultimamente o pique tem sido grande por aqui. O médico do posto de saúde de Palmeiras teve férias (merecidas) e como o município não pôde contratar outro para substituí-lo por causa de um tal índice de contratação de pessoal, estou trabalhando lá e cá. Um dia no Vale e outro na sede do município, o que implica em chegar em casa tarde e assim as escritas têm rareado. Embora meu coração fique triste ao perceber que o índice ficou assim não por causa dos funcionários e sim por razões que a própria razão consideraria, no mínimo, estranhas, tenho aprendido muitas coisas, em um posto que não faz parte da Estratégia de Saúde da Família, partilhando tempo e experiências com os colegas. Ao trabalho de ESF interessa integrar conhecimentos, experiências, vida das pessoas, enquanto no posto de saúde comum, há uma tendência mais evidente daquele atendimento dicotomizado, onde entrego uma informação sob a forma quase sempre de medicações ou ordem de conduta, sem uma interação tal que a pessoa chamada paciente assuma de maneira clara a responsabilidade pelo próprio processo. Fica um coisa de “dou e você recebe”. O tempo joga um papel importante, o sistema ideológico também e por aí vai. Parece-me necessário, porém mais como algo para apagar incêndios do que para evitá-los. Útil, porque vivemos uma situação calamitosa para a saúde, mas a meu ver a proposta da ESF se realmente cumprida (e secundada por outras) pode reduzir o número de pessoas necessitadas de socorro no posto.
Com isso, tem sido mais difícil trabalhar convenientemente no PSF daqui mesmo do Capão. Encontro menos os colegas, temos que resolver coisas às pressas em reuniões rápidas de corredores etc. e, ademais, nos dias em que estou aqui, há acúmulo de atendimentos e, consequentemente alguma redução da qualidade. Inda bem que é por pouco tempo.
Mesmo com estas dificuldades, tanto no posto da sede em Palmeiras, quanto aqui na USF-Vale do Capão, tenho tido a oportunidade de encontrar, conviver, ensinar e aprender com pessoas muito interessantes. Ontem encontrei Landinha, uma mulher extraordinária. Foi ela uma das que me ensinou a dançar forró. Admirei-me sempre de sua labuta com os filhos – uma vez que enviuvou por conta de uma cascavel que matou seu marido – mantendo o pique de dançar os forrós ao som da sanfona do finado Biu. Nesta vez, ela me contava, no meio de uma consulta, que sua mãe, D. Argentina, certa feita falou que, após uma traquinagem, ia apanhar do pai. Este se organizava para sová-la quando ela, num momento de intuição pura, lançou-se ao chão, fingindo desmaio. A mãe de D. Argentina acorreu e afastou do pai a Idéia de castigo, já que a menina não resistira e tivera um desmaio – podia morrer! Landinha, que não é gente, logo pensou em usar o sistema. Traquina demais, não lhe faltou oportunidade. Foi assim que pouco depois, D. Argentina pegou o cinto para lhe dar uma boa surra e ela, conforme me contou, caiu no chão estrepitosamente, com tal denodo que o osso da bunda doeu (repito suas palavras). E ali ficou estirada como morta. Mas D. Argentina não caiu no engodo e deu-lhe uma surra e tanto. Rimos muito os dois da história e foi bom para o meu coração vê-la sair da consulta feliz da vida, limpando lágrimas nos olhos, mas não de dor e sim de alegria. Quando você vier no Capão, procure conhecer Landinha, e, aproveite e compre a granola dela, deliciosa e feita com o maior cuidado e, claro, bom humor. Uma mistura de saúde e alegria.
Receba a minha alegria em 9 de dezembro de 2010, Aureo Augusto
Landinha... Eu lembro dela, talvez ela que não lembre de mim.
ResponderExcluirDiga se ela não é uma figura!?
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