O sol está bem preguiçoso estes tempos aqui no Vale, mas quando sai irradia tanta luz que as folhas parecem ornadas de diamantes. O sorriso das pessoas fica mais fácil; as serras rebrilham úmidas, justificando o nome de Chapada Diamantina, não apenas pela riqueza passada, mas também pelo brilho diamantífero das paredes lavadas pela chuva que insiste em ficar e botar o rio e os córregos pra correr.
Uma terça-feira veio o carro da prefeitura me buscar. Ocorre que nas terças atendo comunidades distantes e então a prefeitura, quando o carro próprio da secretaria de saúde está ocupado contrata motorista a buscar-me. Fiquei com pena daquele que veio desta vez. Um senhor com seus sessenta anos. Ele deu bobeira e o carro caiu num rego na beira da estrada. Ficou tão fundo que logo o motor descansou no solo. Caro custou pra tirar o bichinho. Enxada, enxadão, macaco, pedras, foi uma luta. Confesso que adorei aquela movimentação de manhã cedo, quando fiquei (ou melhor, ficamos) coberto de lama obrigando-nos a um banho delicioso. Mas foi um atraso tremendo nas consultas no povoado de Lavrinha. O povo chegou a pensar que eu não iria mais para o atendimento.
Apesar dos percalços, da lama que faz até galinha escorregar, prefiro (e nisso sou acompanhado por muita gente que aqui mora) o tempo de chuva ao tempo de sol. Entre lama e poeira, mil vezes lama. Além disso, os céus ficam feéricos, com suas nuvens multicores, prata e chumbo derretidos escorrendo do plúmbeo céu entre dourados, azuis e verdes. O mundo vira espetáculo teatral.
Recebam um abraço de Aureo Augusto.
Incrível como consegue transformar uma adversidade em poesia. É para poucos. Sempre estou por aqui, por vezes quieta, mas agora resolvi "falar". Parabéns, Dr. Áureo, pelo belíssimo trabalho e por ser essa pessoa que és. São desses doutores que precisamos.
ResponderExcluirUm abraço!
Eh Neila, grato por suas palavras. São um incentivo, inda mais se considero que é jornalista, consequentemente, sabe lidar com as palavras.
ResponderExcluirAbração,
(ainda bem que está por aqui, mesmo quieta)
Santa sabedoria amigo Aureo, "mil vezes a lama que a poeira". Por aqui vai iniciando o verao copm seu calor de 50 graus e eu dou gracas a Deus que so faltam 2 meses para as minhas ferias. Quero ver se esse ano tiro pelo menos uns dias no Capao para matar a saudade da natureza e dessa gente maravilhosa.
ResponderExcluirMeu amigo!!! Aí onde vc vive (para os que não sabem é no Kwait)o que mais tem é poeira, não é? Na verdade é areia. Tomara dê mesmo pra vir no Vale do Capão. Pena que não é agora, pois as quaresmeiras estão no auge!
ResponderExcluirÉ isso. Adoro os seus textos. tem uns que não esqueço. Me fascina os detalhes. É daqueles que agente fica com pena de ler rápido se não acaba logo, por isso leio devagar. Às vezes finjo que não entendo - me faço de abestalhado - para ler a mesma frase varias vezes: de tão boas que são. Abraços diamantados.
ResponderExcluirLindo texto.
ResponderExcluirEu adoro a época das chuvas para depois sentir o cheiro da terra molhada.
Mas com um Planeta tão maltratado, desgovernado, nem chover se pode mais. São tantas tragédias relacionadas às chuvas e por causa dos maltratos à Terra Mãe, com tantas vidas perdidas, que eu acabo sentindo receio por estas famílias dependuradas nos morros que circundam a cidade de Salvador, devido à explosão urbana que cada vez mais, faz um estrago danado ao visual e à qualidade de vida destas famílias.
Quendo eu estou no meu vilarejo, escuto o tamborilhar da chuva nas telhas de cerâmicas. São músicas para meus ouvidos e logo me vem uma vontade incrível de me enroscar no meu cobertor quentinho e mimi.....
Vc escreveu com tintas pinceladas a ouro.
Receba um abraço áureo....rsrs
Jussiara
Diogo, tenho o mesmo costume de ler devagar certas coisas. Tem uns caras que são incríveis. Machado de Assis, aquele mineiro que escreveu Grande Sertão, Veredas, tem um livro dele, pequeno, chamado No Urubuquaqua no Pinhém, leio e releio. Fico feliz que vc escreva isso, pq escrevo com o mesmo espírito dessa leitura. Grato.
ResponderExcluirJussiara, vc me manda um áureo abraço, essa é boa. Te devolvo um Jussiárico abraço. Quem tem a oportunidade de viver (ou pelo menos passar tempos) em lugares como o Capão ou à beira mar, bebe a beleza da chuva. Sua sensibilidade a faz sofrer com a desgraceira que fazemos com a Terra e que volta para nós mesmos. Continuar abusando do planeta será um desastre. Pavoroso. Aí o belo pode ficar feio.
Abraço jussi.
Como diz uma musica da banda Cordel do Fogo Encantado: "A chuva vem pequena e grandiosa, acalenta ou revira nosso lar..." Nesse caso, revirou tudo, mas não deixou de te acalentar, não foi?
ResponderExcluirÉ bem verdade: lama é melhor que poeira!
Adoro chuva, céu nublado e trovões nas chuvas de dezembro...