Um amigo me disse que alguém lhe falou que “é mais fácil mudar o regime de um país que o regime alimentar de uma pessoa”. A frase é forte. Hoje trabalho no serviço público, ou seja, ao contrário de tempos atrás quando era procurado apenas por aqueles que, seja por desengano com outras técnicas, seja pelo desejo de mudar, sabiam de minha opção pelo neo-hipocratismo como sistema terapêutico. Quando alguém marcava uma consulta queria que lhe orientasse quanto à alimentação e procedimentos naturistas, não estava interessado em medicações. Agora, aquele que se senta a minha frente, no ambulatório, mesmo que saiba que sou “natural” (como às vezes me chamam), pode querer (e muitas vezes só quer) “remédios de farmácia” e não ervas e orientações dietéticas. Não pense o leitor que me sinto mal em receitar medicamentos. Ocorre que acredito no direito da pessoa tratar-se pelo método que lhe apraz. Claro, também noto que muitas pessoas querem medicações apenas porque não sabem de outras opções. Cabe-me prestar os esclarecimentos necessários para que o meu cliente tenha condições de optar. E o faço na medida do possível (houvesse eu estudado didática, seria bem melhor). Olho com alegria que algumas pessoas das comunidades que assisto já me pedem “remédios caseiros” e até, como ocorre em uma dessas comunidades onde havia reatividade à prática não alopática, já vêem com melhores olhos o “natural”. Ali uma senhora já rasgou uma receita que fiz onde constava um xarope feito em casa porque queria um similar da farmácia. Observei que para alguns, a palavra caseiro, soa a tabaroismo, e “natural” remete a incivil, quando querem se igualar ao personagem televisivo da cidade grande. Por sorte trabalho em um posto de saúde vinculado à Estratégia de Saúde da Família, que busca ativamente a ação educacional junto à comunidade. Por isso me dá uma alegria enorme ver senhoras vetustas dizendo que aderiram ao meu sistema de cozinhar arroz integral (isso significa que estão comendo integral), ou como me disse D. Zira, que comprava por mês 1kg de caldo de galinha, mas que hoje não compra mais: “Voltei ao tempero de minha avó”.
Alimentação não é somente um bolo nutricional que ingerimos. É parte figadal da cultura. Além disso é um dos lugares onde manifestamos e recebemos carinho. Lembro de minha mãe, quando eu era pequeno. Não era muito de passar a mão pela cabeça, mas em compensação fazia de tudo para satisfazer aos gostos dos filhos. Comer é momento de confraternizações familiares e alegria com os amigos. E, muitas vezes, abraçamos ávidos o social em detrimento do nutricional. Vai daí que pode, efetivamente, ser mais fácil fazer uma revolução em um país (inda mais se ele está situado em alguma área susceptível ao discurso salvacionista) do que mudar a alimentação de uma pessoa. Porém parece-me que as pessoas já estão mais interessadas em entender e mudar. Parece que alguma coisa está acontecendo no mundo e o número de pessoas que quer funcionar a partir da consciência está aumentando. Alguém poderá negar isso, dadas as notícias que nos trazem os jornais e revistas. Acho que o pessimismo no caso tem suas razões, sendo porém razoável que o que experimento no dia a dia de trabalho, venha a ser mais fiel representação de um novo momento da humanidade. Como se dizia antes: “Quem viver, verá”. Quero estar entre os vivos!
Abraço vivo e vivencial de Aureo Augusto.
Dr.Áureo,
ResponderExcluirEu sou uma das pessoas que teve a sorte de o encontrar em Salvador, quando a gente o procurava para obter uma nova dieta ou forma de viver. Ainda me lembro daquele seu livrinho de receita. Gostaria muito de obtê-lo, mas acho que o senhor não tem mais, ou tem?
Abraços de Ana Rosa
Ai........eu me enquadro neste tópico.
ResponderExcluirJuro que tento mas ainda estou aprisionada a padrões alimentares que com certeza estão incorrendo em aumento de meu peso e no momento somente isso. Aumento de peso pois para a minha sorte, ainda mantenho os índices glicêmicos e do colesterol nos limites normais e uma pressão arterial 11 x8, salvo em momentos de muito estresses.
But............apesar de gostar muito de legumes e verduras, amar frutas e consumir tudo isso com bastante regularidade e ter optado por pão integral, linhaça, azeite extra-virgem e....vixe acho que só, rsrsrs, eu ainda caio de quatro por tortas de chocolates, chocolates, manteiga, carnes (nem tanto mas como) e MARISCOS, ai como eu adoro mariscos, especialmente lambretas e ostras e siris. Pecado mortal? Mas eu li que os danados fortalecem os ossos.
Ai Dr. Áureo, diga que sim, que os mariscos são ótimos para os ossos...rsrrsr
Mas ao menos eu banir tudo que não é muito natural, especialmente os caldos de carnes, os Knors da vida, refris, sucos industrializados, extrato de tomates, enlatados, enfim......
E adoro um vinho tinto seco.
Abraços bem vivos.
Jussiara
Es mas fácil para las personas cambiar de religión que de alimentación.
ResponderExcluirOh, Ana Rosa, já há mto que os livrinhos de receitas (foram dois e na realidade não fui eu quem escreveu) se esgotaram. Pensei, com suas palavras que já é hora de fazer novos. Vou pensar nisso.
ResponderExcluirJussiara, vc é uma figura! Qdo comer os mariscos não esqueça de mastigar cuidadosamente as cascas para aproveitar bem o cálcio (rsrsrs). É claro que as modificações que fez na sua alimentação lhe trarão grande benefício, e protegem contra suas tendências apaixonadas aos doces, no entanto, cedo ou tarde terá que resistir com mais vigor. Os mariscos são carnes e trazem conseqüências negativas. PElo menos não os consuma em excesso. E continue apaixonada por frutas e legumes.
Francisco, tenho dúvidas de que é mais fácil mudar de religião. Mas, qdo paro pra pensar, existem certas coisas que se ombreiam em termos de paixão humana: religião, alimentação, futebol, ideologias... Estas coisas acabam virando "religiões".
Abraços a todos,