quarta-feira, 20 de julho de 2011

SILÊNCIO E NÉVOA

Hoje amanheceu luz e silêncio. A nuvem ocupou o vale, de modo que não tínhamos mais montanhas ao redor, apenas o branco lençol ocupando o mundo e o sonoro vazio entre as folhas balouçantes.
Os pássaros resolveram descansar mais um pouco e daqueles que se aventuraram ao voo na manhã fria não se ouvia ruído das asas. Assim é quando a névoa nos brinda sua beleza. É desse jeito que o silêncio reina quando a neblina alimenta nossos desejos de luz suave e sonhos.
Aí as pessoas ficam mornas em seus movimentos – esticando-se sob os lençóis, cobertores – garantindo calor negado pelo tempo invernal. Bom para carinhos àqueles, os descuidados da saudade. A outros, manhã calada, com o sigilo das noites vazias e a falta doce referindo-se a quem distante existe e cujos pensamentos sabe-se dormitando em si.
Calma luz matinal do dia nevoento, sossego de aves nos ninhos, paz em olhos preguiçosos do dia, sol caminhando calmo dentro da bruma, segredo de folhas murmurado quase inaudível pela brisa expectante. Tempo quase taciturno de uma taciturnidade que não se concretiza pela graça desta luz pálida, mas ubíqua e penetrante.

7 comentários:

  1. Doutor-poeta ou poeta-doutor???

    Ambos, sim? rssrrs

    Quanta sensibilidade. Quanto olhar e percepção.

    A maioria das pessoas odeia o inverno, a neblina, a chuva.

    Só se encontram no verão especialmente porque a estação do sol ardente lembra a Carnaval, praias lotadas, pagodes, remelexos, rebolations.....rsrsr, a "loura geladissima", enfim.

    Claro que eu tambem curto muito o verão mas só se for em meu vilarejo pois eu tenho o grande privilégio de ter um refúgio com os pés nas águas calientes e transparentes ainda, daquele canal de mar e por ser nascente e super ventilada.

    Caso contrário eu deprimiria. Eu tenho horror a sentir calor. O calor me adormece, me deixa tensa, letárgica, irritada. Detesto o sol pelante com a sensação térmica torrante e os verões baianos cada ano é uma forno só.

    Mas quando chega o inverno eu me encontro.

    O inverno dá o recolhimento necessário e no meu caso, eu adoro o friozinho, a neblina, a chuva, o aconchego, o agasalho, a comida que conforta. Fico melhor no inverno. No verão parece que eu fico meio diabinha rsrsrsrrrrs.

    E sem contar, como uma boa nordestina, o inverno traz junto os folguedos juninos, o som do forró, o chiado da sanfona que eu tanto amo.

    E assim como vc, meu caro poeta, eu tambem tenho no meu vilarejo, uma paisagem bela, ornada por neblina pois bem em frente à minha casa, ladeando o canal do mar, os verdes montes verdes, os últimos pedaços da nossa querida Mata Atlântica que se veste de neblina quando chega esta época. Eu fico exultante de tão feliz.

    E no inverno, o mar fica liso, parado, adormecido também.

    Lindo texto, amigo. Adoro o seu blog.

    Receba um abraço invernal....

    bjs

    Jussiara

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  2. Sensivel, luminoso, suave, belo como a bruma que nos aquieta e penetra na alma trazendo paz e recolhimento

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  3. Sabem de uma coisa? O Vale do Capão é lindo em qualquer época do ano, claro, mas para mim, o inverno é o grande momento. O frio, a chuva, os jogos que a água faz com a serra, as cores do céu. Ah! as cores do céu!

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  4. Que texto bonito...
    Áureo, faz um tempão que eu enviei seu presente. Hoje rastreei a encomenda no site do correio e descobri que o envelope está no correio de Palmeiras, "esperando retirada".
    É assim mesmo? como é que chega no Capão?
    bjo

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  5. Legal que a paisagem, assim encoberta, lhe agrade. Eu me sentiria prisioneiro, sem horizontes abertos. Neblina parece coisa inviável aqui, numa beira de mar tropical.
    Mas, em qualquer lugar e ambiente, é imprescindível que a pessoa se sinta em paz consigo mesma, e isso, infelizmente, está se tornando artigo de luxo no nosso tempo agitado.
    Abraço brumoso.

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  6. Martha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Recebi ontem o livro. Fiquei absurdado e impressionado com a qualidade de seu escrito. Amei. Foi um belíssimo presente que recebi. Leio as poesias degustando-as lenta e cuidadosamente.
    Leitores do blog, procurem o livro CHUVA DE MARIA de MARTHA GALRÃO.
    Tesco, realmente o horizonte aqui é bem próximo. O que acontece é que com isso o VAle tem uma coisa uterina e aconchegante. Qdo faz falta largas vistas, subimos lá pros gerais e aí é como se fosse um oceano de ondas verdes, com os capins açoitados pelos ventos que lá são eternos. Gostei do abraço brumoso.

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  7. Aureo, que bom que você gostou!! Isso é que é presente para mim.
    Um abraço,

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