quarta-feira, 20 de junho de 2012

PENSANDO ARTE NA NATIONAL GALLERY

Gosto de pintar e amo ler sobre história da arte. Por isso tenho alguns livros sobre estes assuntos, todos fartamente ilustrados. Ontem passei pela maravilhosa experiência de ver, ao vivo e a cores, aquelas imagens que antes via apenas nas fotos dos livros. Sentar em um confortável sofá pra ver um quadro de William Turner e poder ficar todo o tempo que quiser é uma experiência maravilhosa. O mesmo com os inúmeros artistas que fazem parte do inacreditável acervo deste museu. É outro presente que Londres oferece. Aliás, presente mesmo, pois é de graça. Infelizmente, todo o tempo do mundo é pouco para apreciar tanto. É bastante educativo comparar a maneira de pintar de Gainsborrough com Ticiano, por exemplo. A forma como Altdorfer lidava com a vegetação é muito diferente da maneira de Turner, que por sua vez se diferencia de seu conterrâneo, o também maravilhoso John Constable. Podemos pensar a pintura como um conjunto de problemas (ou questões) a serem resolvidas. Nós temos basicamente duas opções: 1. A representação do mundo ao redor. 2. A representação do mundo interior. Ambas as questões são intercomunicáveis, pois quando representamos o mundo ao redor muito do nosso mundo interno se manifesta. Se compararmos um quadro de Caravaggio veremos que seu mundo interior era bem mais dramático (e mesmo violento) do que o de Rafael. Aliás, Caravaggio se meteu em várias confusões por causa de seu gênio, digamos, tempestuoso. Goya, o maravilhoso espanhol, mostra os diversos momentos (e sentimentos) em sua vida, conforme sua pinturas, pois construiu em suas telas belas majas (vestidas e desnudas), cenas do anseio de liberdade de seu povo, pavorosas bruxas e demônios etc. Enfim, os dois mundos estão imbricados, embora, mais recentemente os pintores (e por extensão os artistas em geral) tenham feito um grande esforço para se afastar o máximo possível de qualquer representação externa. Seja qual for a proposta há o desafio de colocar ali na tela, ou em outro suporte (ou em outra forma de representação ou apresentação artística), aquilo que quero ver representado (alguns dizem que não querem representar nada, e nisso põem o caráter revolucionário de sua arte, mas acabam representando, ainda que seja o nada que são ou querem representar). É maravilhoso poder ver a forma como os antigos foram aos poucos descobrindo novas maneiras de representar o mundo, de se comunicar com ele, de imita-lo em algumas situações ou recria-lo em outras e, por fim, de inventar novos mundos. E a National Gallery é uma oportunidade de ouro. Estou grato em meu coração pelas oportunidades que tenho tido nesta viagem. Em tempo: estou avançando também no Inglês, embora lentamente. Recebam um abraço artístico de Aureo Augusto.

2 comentários:

  1. Para os amantes da arte, contemplar obras geniais de seres humanos incrivelmente sensíveis e especiais arrebata e desperta alegria interior intensa, quase infantil de tão pura. A National Gallery fisgou você, Áureo!
    Além disso, suas conclusões endosssam as de Carlos Cavalcanti e Van Doesburg.
    Escreveu Cavalcanti em seu livro "Como entender a Pintura Moderna": Ninguém poderá negar, nos transes históricos atuais, que estamos marchando, num processo inevitável, para novas formas de coletivismo, com predomínio ostensivo do social sobre o individual.
    E as palavras de Van Doesburg, companheiro de Mondrian, na criação do Neoplasticismo:
    A evolução da arte moderna para o abstrato e o universal, eliminando o exterior e o individual, torna possível, por esforço e concepção comuns, a realização de um estilo coletivo que, elevando-se sobre o pessoal e o nacional, expresse, de maneira determinada e verdadeira, necessidades de beleza as mais superiores, as mais profundas e as mais generosas.
    Cheers!
    Raimundo Cirilo - Junho de dois mil de doze.

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  2. Grato Raí por suas palavras, que merecem reflexão e, com certeza, qdo nos encontrarmos vamos voltar a este tema.
    abração

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