No silêncio descansado por entre os ruídos de um dia de
labuta, estou. Lá fora as pessoas (ou seja: nós) se agrupam ao redor de um
possível suspiro em suas dores. São tantas as dores! Mas também gosto de
apreciar que há silêncio de dores, naqueles momentos em que a graça do riso
transborda os lábios. O povo tem vivido mergulhado no labor de sobreviver e a
isso se acostumou. Pois hoje, neste agora de onde saltam tantas queixas vejo
minha gente aprendendo que há mais do que a sobrevivência. Vivemos! Vivamos!
Ontem entre os jovens notei interrogações. Percebi buscas e
perscrutei neles a sensação de que as coisas devem ser algo mais do que contam
os pais, mais do que dizem os livros, e muito mais do que falam as canções de
gosto duvidoso que aqueles aparelhinhos engraçados lançam nas orelhas, pelos
mesmos fios nos quais se penduram as cabeças. Os jovens têm olhares com formato
de sinais de interrogação e de admiração. E isso é o que há de mais lindo
neles.
Conversávamos (como parte de um interessante curso que
tomam) sobre drogas. Mas não dava pra tratar de algo tão chão para todos eles
do jeito tão “química de livro” comum nesses papos. Buscamos coisas por trás da
fumaça. Os jovens gostam de ir além do elaboradamente arrumado no cotidiano.
Isso é uma coisa linda neles e me estimula a caminhar por estradas de reflexões
inauditas.
No entanto, é terrível para mim encontrar que esses jovens
tão descotidianizados tantas vezes recotidianizam-se em padrões que não são os
padrões dos pais, mas o são de outros donos do comportamento. Existem TVs, cinemas,
existem amigos duvidosos sugerindo caminhos inusitados, mas tão iguais ao que
aconteceu no passado: Alguém lucrando em nome da liberdade ou da justiça. O de
sempre: Alguém lucrando através novos modismos que seriam capazes de torna-los
(aos jovens) diferentes, quando os fazem todos iguais.
Às vezes vejo-os com aquele jeito meio imbecil herdado da
maconha fumada há pouco, ou aquela cara totalmente debilóide imposta pelo álcool;
vejo-os também às vezes com rostos rijos atracados ao futuro, perdidos de si,
impondo-se futuros. Então entendo o que sentia Ulisses vendo seus companheiros
presos no país dos Lotófagos. Ali as pessoas que comessem as folhas do Lótus se
esqueciam de retornar para casa. Ah! Confesso que me dói ver estes belos seres
de olhares com formato de sinais de interrogação e de admiração tornarem-se
ovelhas dominadas dos pastores das drogas (cigarro, álcool, maconha, açúcar
branco, cocaína, heroína...). Meu coração ficaria feliz em ver estas criaturas
lindas retornando à casa – aquele lugar da liberdade responsável de onde saímos
e para onde voltaremos e não perdidos entre os lotófagos.
Vivemos, é verdade, no labor de sobreviver e lá fora nós nos
encontramos agrupados ao redor de um possível suspiro em nossas dores. Olhemos
para nossos corações; precisamos abrir-nos para ver o mundo com os olhos de
nossos corações. Precisamos romper com a lógica que nos leva a que curvemos
nossas cabeças a uma vida medicamentizada, drogada, dominada, midiatizada,
bigbrotherada.
Acredito!
Recebam um abraço de coração de Aureo Augusto.
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