sábado, 8 de junho de 2013

FÉRIAS 3 - MAIS COMENTÁRIOS S/O I ENCONTRO NORDESTINO DE PICs EM JUAZEIRO

Esta é a última postagem sobre o Encontro de PICs de Juazeiro. Quero partilhar umas poucas das inúmeras coisas que encontrei ali. Quem leu a última postagem verá que me repito em alguns comentários, mas as pessoas citadas merecem, tenham certeza disso.

A Enfermeira e parteira Suely Carvalho foi de uma propriedade e simplicidade (paradoxalmente) espetacular em suas falas no encontro. Admirável. Tem larga experiência com o parto domiciliar e é uma pena que não seja escutada como deveria. Pouco antes de ir ao Encontro li em jornal de Salvador uma matéria intitulada “Gestante peregrina quatro dias por hospitais em busca de atendimento”. Isso é fruto da hospitalização do parto. Entender o parto como patologia, como algo a ser tratado como doença leva a condutas que cada dia mais vão sobrecarregar o serviço público. O hospital e o domicílio deveriam ser vistos como complementares no atendimento à parturiente, como o que ocorre na Holanda, país que tem o menor índice de infecções puerperais e o maior índice de parto em casa.

Aproveito esta chamada sobre Suely para comentar que as filas enormes que o SUS acumula decorrem da medicalização da vida. Hoje somos chamados a ver cada um dos nossos problemas como passíveis de solução sem nenhum investimento emocional, ativo, pessoal, sem subjetividade. Somos tratados como objetos inertes diante da ação da doença a ser combatida pela intervenção salvadora do profissional da saúde. Urgentemente precisamos repensar o modelo de saúde. Faz-se necessária a adoção real da Estratégia de Saúde da Família em todos os municípios do Brasil e um amplo trabalho nos moldes da Terapia Comunitária do prof. Adalberto Barreto, ou da ação de Celerino Carriconde, como forma de atender a uma necessidade óbvia, mas pouco considerada, que é a participação efetiva do sujeito no seu processo de cura. Não espero que os clientes saibam mais que os médicos (contra-argumento usado frequentemente), mas espero que nós, profissionais da saúde em geral, entendamos que temos no cliente um sujeito com partes materiais (biológicas), dotado de subjetividade e que faz parte de um entorno socioambiental. Do ponto de vista da valorização econômica do médico pode ser útil medicalizar a vida, mas isso com o tempo irá gerar cada vez maior congestionamento dos serviços de saúde, para dizer o mínimo.

Vejam palavras de Celerino Carriconde: 1. “Onde está a palavra está o poder”; 2. “Quem não participa está desempoderado, está doente”; 3. “Não mais revolução para o povo, mas com o povo”. Em uma fala sobre a apropriação do conhecimento pela comunidade. Conheçam este sujeito e vão se admirar dele.

Chorei de emoção com a apresentação da professora Lenice Maia, sobre o trabalho que ela e equipe fazem no Hospital das Clínicas de Recife. As fotos dos pacientes encantados com corais, teatro e música... Os resultados quantificados em gráficos mostrando a recuperação e o conforto dos internados é algo de arrepiar o mais duro dos homens.

A professora Anamélia Franco da UFBa, falou sobre o Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BI). Fiquei com a maior inveja dos estudantes que passam por este curso que, em realidade introduz os jovens (e também os não jovens) em um mundo bem mais amplo do que aquele das estreitezas de uma carreira estrita. O contato com aqueles que são alunos da BI confirma amplamente isso. Tenho certeza que quem cursa BI e depois se dedica à medicina, fisioterapia etc. será profissional que se destacará no cuidado. Aliás Anamélia foi uma das pessoas que se destacaram, mas para mim, não apenas pelo conhecimento e competência, sim também pela cara angelical e ao mesmo tempo traquinas. É especialista em futucar as pessoas para fazê-las se mexer.

O professor Nelson Filice Barros deu um show em sua fala. Sua presença era de tranquilidade e paz enquanto nos conduzia por uma apresentação pelos caminhos do conhecimento das PICs e mostrava até as relações de poder que estão por trás da atitude da sociedade frente às PICs. Queria ver sua fala por escrito, pois não deu para anotar tudo. Excelente!

Sei que estou sendo injusto com outras pessoas que brilharam neste evento em Juazeiro, sob a batuta do brilhante Alexandre Barreto, mas teria que escrever um livro se fosse dizer tudo. Não assisti a nenhuma mesa que possa ter dito “essa não valeu a pena”. Espero que estas poucas linhas para tão grande evento sejam úteis e estimule a quem leia.

Recebam um abraço estimulante de Aureo Augusto.


6 comentários:

  1. Meu caro amigo,

    Quem medicalizou e hospitalizou o parto, foi o próprio parto domiciliar.

    Mainha me teve através de parto domiciliar e se não fosse o doutor e seu fórceps, ambas não estaríamos aqui.

    Depois de mim, ela optou pelo parto Hospitalar para ter os seus outros 4 filhos. E ficou com uma especie de trauma, pelo parto feito em casa.

    Minhas tias, todas atualmente com mais de 80 anos, pariram em hospitais. Não existe relatos em minha família, de partos domiciliares, sem ser o do meu nascimento. E elas tiveram seus partos naturais, outros nem tanto e tem 4 eventos de cesáreas necessárias.

    Em Cações, atualmente, o parto domiciliar foi extinto. Ninguem mais se arrisca. E de quem é e a culpa??

    Eu sou contra a qualquer tipo de intervenção que não tenha o consenso da mulher, no evento chamado parto.

    Não sou adepta ao radicalismo. Sou flexível. O que se vê, atualmente, é uma demanda a favor dos partos domiciliares, o estímulo a não vacinar as crianças e outras coisas. Tudo bem. Quem for crescida, faça o que acha que deve ser feito.

    No meu caso em particular, optei pelas cesas eletivas, mesmo sabendo dos riscos. E deu tudo certo. Mas sei que que as cesáreas não deve ser um caminho de mão única e tb penso que submeter a parturiente, a partos vaginais, difíceis, com episio, fórceps, maltratos e o pior, não deixar que a mulher opte por um outro tipo de parto, isso sim é violência.

    Receba um abraço humanizado....

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    1. Amiga querida, não deve haver oposição entre parto domiciliar e hospitalar. Um é o complemento do outro. Os partos deveriam ser domiciliares de cócoras (o ato de deitar a mulher gerou problemas no parto e maior necessidade de hospitalização). Isso não é mero capricho de radicais. A Holanda é o país da Europa com maior índice de partos domiciliares e com menor índice de complicações de parto e de puerpério. Não devemos entender que são opções opostas e irreconciliáveis. Este é o erro dos radicais tanto pra um lado quanto pra outro.
      beijos

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  2. Vc não as conhece, amigo.

    Uma vez, eu entrei em uma comunidade do Orkut, convidada por amigas que estavam postando lá, até para contemporizar pois na época eu já tinha encerrado minha missão de gestar no atual plano, e, creia-me, quase me trucidaram.

    São radicais, sim. Radicais capazes de fazer bullyng. Acredite-me. Elas tem ojeriza as mulheres que optam pelas cesas eletivas e se recusavam até a dar os parabens online, para quem optasse pela cesa eletiva. Sem contar que as chamavam de menos mãe, menos mulher, menos isso e menos aquilo. Um verdadeiro bullyng. Eu postei ali, até meus dedos estourarem mas pela ousadia delas que me cutucaram.

    E são radicais, sim.

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    1. Nossa mãe! Vc passou uma situação mto desagradável! No entanto, convivo com uma quantidade razoável de mulheres que adotam e defendem o parto natural e que não são assim como estas que vc citou. Entendo que elas existem e não são pessoas razoáveis. Terrível isso. É um retrocesso.
      bjs

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  3. Prezado amigo querido, como é gostoso ler suas histórias! em muitas oportunidades quis comentar e elogiar! Infelizmente carrego a marca da timidez escondida nesta máscara dura de falante... sinto vergonha de comentar os textos brilhantes e abrilhantadas por idéias geniais.. tudo que sai de vc é novo!
    Neste caso me refiro a sua criteriosa avaliação do Encontro Nordestino de Práticas Integrativas.. parece que eu estava lá apreciando cada uma dessa majestosas autoridades do assunto.
    Fiquei impossibilitada de ir mas vc foi e marcou sua presença brilhante! Minhas acadêmicas retornaram à Bahia, atual salvador com o sentimento de que estive lá através de suas idéias.. diziam elass "pró, ele fala igual a senhora" ..meu Deus quanta honra! Mal sabem elas da sua autoridade nas práticas alternativas, de seus caminhos e livros percorridos antes de adentrar um evento dessa natureza! Sou grata à vida por ter oportunidade de ler e viver experiências contadas e desenvolvidas por um médico de sua estatura cientifica! Sim, digo isso sem erro de errar pq conheço as histórias que envolve sua prática médica..
    Aqui mais uma vez deixo minha admiração por este texto relatando tão lindamente o evento que me fez ir lá sem esforço geográfico algum.. e enquanto isso, as mulheres permanecem perambulando pelas maternidades em busca de um atendimento que nao tem nada de cientifico e nada de humano! mas nós continuamos acreditando e crendo em um futuro mais natural e mais harmonioso porque não há segundo Odent forma melhor de mudar o mundo que mudar a forma de nascer!
    Minhas congratulações Dr. Aureo Augusto, o blogueiro que mantem viva a arte de escrever pq sabe como todo bom escritor ESCUTAR o outro.

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    1. querida linda,
      sou uma pessoa de grande sorte, porque tenho a alegria de contar com sua enorme bondade. Vc me elogia usando as mesmas palavras que uso quando me refiro a você e tenho certeza que suas acadêmicas confirmarão o que digo. Honra é a minha de partilhar ideias com uma pessoa com a sua competência enorme e que tem mais amor do que competência.
      Receba um abraço carinhoso bem como a minha admiração pela obstetra que você é e mais ainda pela parteira extraordinária.

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