No post anterior comentei das diferenças presentes aqui no
Vale do Capão, neste período da festa de São Sebastião. Hoje quero comentar um
aspecto que me causa alguma estranheza:
Recentemente tivemos um evento em uma cidade próxima,
Lençóis, uma espécie de festa, creio eu, chamada Ressonar. Muitas das pessoas
que ali estavam vieram para o Capão depois que acabaram as apresentações. E aí
foi um fuzuê. A turma queria continuar na brincadeira de invés de dormir,
sapatear. E pra eles pouco importa que o povo daqui tenha que dormir pra no dia
seguinte trabalhar. Não se interessam em conhecer os costumes do lugar para não
agredir. Vai daí que os moradores, tanto nativos quanto aqueles que adotaram
esta paisagem como casa, tiveram que passar pelo dissabor de explicar para
numerosos deles que aqui não é de conveniência fumar maconha na praça cheia de
crianças, nos bares ou na porta da igreja e do posto de saúde; explicar que o
coreto não é pousada; que cagar e mijar é assunto a ser tratado no banheiro e
não nas ruas e trilhas (teve um que defecou no topo de uma belíssima cachoeira,
coisa que nos causou a todos uma admiração muito grande, uma vez que parece tão
obvio para nós que ali não é lugar para isso); que em lugar cheio de crianças
não convém deixar garrafas espalhadas pelo chão; que quando se come num
restaurante o hábito universal é pagar; que relações sexuais são tema para
lugares mais íntimos do que a beirada das trilhas bem frequentadas por
turistas; que ao procurar ajuda no posto de saúde não convém ir nu, usando como
vestimenta uma camisa amarrada sobre os quadris para fingir que esconde o
pênis; e por aí vai...
Um fato complicou tudo: Em cerca de uma semana atendi 75
casos de gastroenterite, com fortes diarreias, dores abdominais e frequentes
vômitos, todos de pessoas provenientes do Ressonar. E cada um dos que foram
atendidos referiram amigos com o mesmo quadro. Foi uma trabalheira para a turma
do posto, principalmente por um fenômeno bem peculiar:
Uma quantidade razoável dos enfermos aparentemente perdeu o
sentido de autopreservação, e esta perda veio associada a uma total
incapacidade de suportar o menor sofrimento. Desesperados querem solução rápida
para os achaques e logo que os sintomas passam, mergulham em uma obrigação
(como se fosse um trabalho árduo) de embebedar-se, drogar-se, festejar, fazer
som, gritar e badernar. Alguns voltam depois desesperados e querem atendimento
imediato (porque o quadro voltou, mas como? Perguntam) em busca de alívio. Não
adiantou eu falar para tantos da necessidade de parar para descansar, comer
algo, permitir que o corpo se recuperasse. Assim como alguns trabalham como
loucos para ter carro, apartamento, seguro de vida... Estes estão açodados por
uma ordenança que os obriga a uma labuta de prazeres, a uma guerra cruel de gozar
sem trégua, sem repouso.
Um deles entrou na consulta e quando perguntei o problema
respondeu desagradável: “Estou sofrendo a consequência da má qualidade do saneamento
de seu lugar”. Comentei, entre outras coisas, que eu mesmo havia pedido
encarecidamente às inúmeras pessoas que havia atendido com diarreia que não
defecassem nas trilhas, beiras de rios etc. Mas que estas mesmas pessoas, que
como ele, vinham de fora e que exigem saneamento adequado haviam se servido de
todos esses lugares das formas mais inadequadas e que isso não estava em nossas
condições controlar.
Um lugar como Palmeiras, que tem poucos recursos se viu
coagido a atender uma quantidade inusitada de pessoas provenientes de outro
lugar (aonde adoeceram), gastando recursos médicos que são caros e que tem dificuldade
em obter (e nem sempre dispõe do necessário para a população local).
E, por incrível que pareça, em que pesem estas agressões, o
povo daqui, ainda consegue ficar feliz com a chegada de “pessoas de fora” e
tentam entender o que se passa com os micróbios (como se referem em relação aos
mais displicentes com a higiene pessoal) e aprender daqueles que trazem
novidades positivas. Mas nem sempre é fácil a convivência com as diferenças.
Recebam um abraço, digamos, preocupado de Aureo Augusto.
Dr. Áureo, acho que vocês do Capão podem reunir para tratar desses assuntos que me parece requer urgência. Achem soluções para o problema mesmo que alguns visitantes não gostem das decisões tomadas por vocês. Quem não gostar é porque não se respeita nem respeita os outros daí esses não fazem falta alguma é até bom que continue sujando as suas cidades e não o nosso lugar. Já tô me sentindo daí tamanha indignação. Deus nos abençoe.
ResponderExcluirPois é, Lidia, a situação às vezes fica difícil com este tipo de visitante, conquanto a maioria seja de pessoas legais, bem legais. Nesse período houve uma invasão. A associação de moradores tem feito mtas reuniões sobre este e outros assuntos e não estamos desatentos.
ExcluirReceba um abraço, e grato pela solidariedade.
É Áureo, lamentavelmente as cenas descritas enojam!!! Infelizmente o que vc descreveu ocorre em todos os lugarem em que há esse tipo de festa popular. Muitos não possuem o bom senso de respeitar o lugar e costumes dos que ali vivem.
ResponderExcluirQuando me referi à importância dos "de fora" para o desenvolvimento da Chapada, claro, estava pensando nos que para aí se mudaram para ajudar no desenvolvimento desse belo lugar, repeitando, por óbvio, os costumes e características locais.
Parece-me que a solução pode estar na proibição dessas festanças hedonistas desenfreadas!!
abçs
Então Murilo,
ResponderExcluircomo vc vê tem vezes que o negócio é feio. Mas a sorte é que a maioria dos turistas que aqui aportam são pessoas legais e que têm foco na natureza e costumam respeitar os hábitos locais. Menos mal.
abraço