É um momento bem especial para o povo do Vale do Capão esse
de janeiro, pois é a festa do padroeiro, quando tradicionalmente aqueles que
emigraram voltam para rever seus parentes, reencontrar os amigos, reviver vidas
deixadas para trás em um tempo onde havia luta demais, trabalho demais, chuva
demais, fartura de dificuldades e pouquíssimas oportunidades.
Assim é que posso me sentar depois do trabalho para ver as
pessoas na praça. Os emigrados que chegam com sorrisos e apertos de mão,
admirados das mudanças daqui e do cosmopolitismo que alcançou esta terra, antes
tão isolada. Em realidade o Vale do Capão segue sendo insulado entre os mares
que são os gerais lá em cima, nas serras, onde o mundo é imensidão, em muito
oposta ao uterino aconchego da vizinhança. Mas não mais tão distante como no
passado das coisas do mundo lá fora.
Assim, quando sento a ver o entardecer nos paralelepípedos
da vila, acompanho também os mais variados tipos que chegam dos mais vários
lugares deste planeta. Alguns tipos bem estranhos, devo confessar. E têm nos
dado trabalho e preocupação. Na próxima postagem detalharei isso.
Estranheza esta que não impede ver um velho garimpeiro com
sua roupa surrada, rindo da conversa com um estrangeiro branco como o leite,
com cabelo rasta, ostentando numerosos piercings em tantos lugares que me faz
pensar em almofadas de alfinetes. Ou uma senhora com a vassoura na mão,
interrompendo seu limpar a calçada para conversar com uma jovem adepta do
hinduísmo, trocando ideias sobre culinária vegetariana. Coisas de pouco ver!
Hoje e amanhã terei ampla oportunidade de me abastecer de
visões variadas que irão enriquecer minha memória de mundo. Dedicados religiosos
em procissão ladeados por gentes que não se interessam muito por religião ou
professam fés muito diferentes do catolicismo ou evangelismo habitual; paletós
convivendo com tangas, saias masculinas, batas, e outras roupas indecifráveis;
cabelos cuidadosamente cortados para a festa ao lado de dredes (não sei como se
escreve) de variadas grossuras, limpeza e odor. Muita variedade. Enorme fartura
de diferença!
Recebam um abraço diferente de Aureo Augusto.
Aureo,
ResponderExcluirGosto muito dos seus textos que sempre me lembram um pouco do período que passei no Capão. Parece-me que a Chapada se tornou esse lugar tão especial em razão da mistura cultural do "povo daí" com o pessoal "de fora". Turistas que ajudaram a encurtar distâncias e diminuir o sofrimento dos nativos!!
abçs
grato Murilo,
Excluirdifícil é por aqui tudo o que o povo daqui tem de interessante.
abraço
Aureo,
ResponderExcluirPara mim, o interessante na sabedoria popular dos "nativos" é justamente o fato de, em razão do isolamento, eles terem preservado sua cultura, sem se "americanizar". Daí consegue-se viver momentos que se preservaram durante os séculos. É o que mais gosto na Chapada.
Ficarei no aguardo do seu relato sobre os "tipos bem estranhos". Vai ser, com certeza, bem interessante.
abçs
talvez poste hoje mesmo o relato dos tipos estranhos. Vai depender da net.
Excluirabraço