Hoje, 12/2/16, na reunião de equipe, entre outras coisas,
conversamos, não sei como nem porquê esse assunto entrou, sobre a morte. Alguns
diziam que tem gente que simplesmente desliga, mas Ni, que é agente comunitária
de saúde, afirmou que nunca viu ninguém morrer numa boa, sempre tem sofrimento,
careta, como ela disse.
A morte é uma ocorrência frequente nos serviços de saúde, e,
nos lugares pequenos como o Vale do Capão, temos uma proximidade, uma intimidade
uns com os outros que torna a morte um algo que toca em todos. O nosso povoado
está crescendo e há sinais de diluição dessa intimidade, porém, mesmo assim
ainda nos sentimos pertinentes à “família” que somos.
E sempre que o assunto bordeja o fim da vida, me lembro de
Montaigne, que nos seus Ensaios trata do assunto algumas vezes. Ele nos diz que
a vida em muito é uma preparação para a morte e que aqueles que viveram bem,
morrem bem. E não é que tenho notado isso aqui na restrita vizinhança que
tenho!
As pessoas que viveram com algum grau de plenitude e
autonomia tendem a morrer com tranquilidade. Como se já tivessem cumprido o que
tinham que viver e fazer, como tal, sentem-se propensos ao descanso razoável.
Mais ainda: Noto que tem mais medo de morrer quem menos
gosta de viver, ou, dito melhor, quem menos degusta o viver. Sei que a vida tem
momentos difíceis. Sei também que a vida de quem vive em lugares conflituosos
há de ser atroz. Ou de quem passa fome.
Sim, a morte há que depender da vida...
Então o texto encalhou na máquina enquanto a noite chegou e
hoje, 13 de fevereiro, sento-me no parapeito da janela enquanto espero um
cliente para atender. A quantidade de pássaros é absurda. Parece um congresso
de aves! Corrupiões fazendo ninho na minha varanda, sábias sabiás, bem-te-vis
(nada vis, deliciosamente belos), garrinchas de canelas secas, aranquãs,
bandeirinhas, sofrês, andorinhas (até andorinhas e acho que não é época) e uma
turma que não conheço... tantos pássaros em tão grande número e animação,
gritando Vida com tonalidades múltiplas.
Confesso que não sei bem o significado disso tudo, se é que
há. Há, no entanto, um sentimento sentido de que há uma pertinência que me
traduz em mim mesmo o que o mundo me traz.
Recebam um beijo no coração de Aureo Augusto.
Lindo texto Dr. Áureo. Talvez as pessoas infelizes se apeguem à vida porque sentem a necessidade da felicidade em suas vidas e não acham o caminho daí ficam mais infelizes e por aí vai.Ah! A felicidade.
ResponderExcluirConcordo, Lídia.
ExcluirÉ como se quisessem se dar uma nova chance, que não aproveitam...
Lindo texto Dr. Áureo. Talvez as pessoas infelizes se apeguem à vida porque sentem a necessidade da felicidade em suas vidas e não acham o caminho daí ficam mais infelizes e por aí vai.Ah! A felicidade.
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