Hoje, primavera inicial, o amanhecer veio com a serra envolta em nuvens como eu nos cobertores. A névoa esparramou-se leve e fria até tocar os telhados das casas... Um silêncio, mais ainda que a névoa, inda mais que o frio, ocupou cada canto, loca, buraco, sombra, espaço... nem pássaro, nem vento.
Enquanto o dia do mundo espreguiçava-se indeciso entre luz e
nuvens os seres humanos alheios à vida acontecendo se ocupavam do preparo de um
dia humano. Um dia repleto de ausências.
Por fim, os pássaros suplantaram com seu canto o silêncio
que se ocultou sabe-se lá aonde, mas seguiu sendo o sustentáculo , a base em
que se desenvolvia os sons da chuva nas telhas e dos insistentes gorjeios do
pequeno povo de asas e cantos. Pergunto-me:
Quantas vezes deixei de sentir o dia nascer, e como?
O que causa em mim o circo do tempo, e quanto, quando
enquanto perpetua-se a vida, efêmero, tantas vezes abandono a consciência do
perene circuito do viver no mundo?
No círculo da vida, como na lona do Circo do Capão, todos os
pontos extremos estão ligados ao centro. Assim, cada ato, pensamento, vontade,
ou desejo, enfim cada coisa (como na lona do circo) se insere em um campo
universal de relações fluidamente estabelecidas. Fluidas, porém consistentes,
relações que nos definem, que são aquilo pelo qual todas as coisas existem.
Sim, nós não somos seres separados, à parte, o que nos faz existir é o fato de
que outras coisas existem.
Sinto em mim que quando perco o estar aqui e agora deixo um
pouco de existir, e isso é uma das doenças que nos afligem.
Bjs no coração de todos!
Aureo Augusto
PS: observem que o texto foi escrito no início da primavera
e não agora mesmo.
PARABÉNS, OBRIGADA PELA OPORTUNA REFLEXÃO.(Quantas vezes deixei de sentir o dia nascer, e como?).
ResponderExcluirNós todos, né Larícia? Que pena isso. Mas temos cura!
ResponderExcluirBjs no coração!