Estou inclinado a pensar que este é o mais bonito período do ano aqui no Vale do Capão. O tempo que nos encontra desde o final de março, entrando por abril e até parte de maio (e às vezes maio inteiro) é o período da floração da quaresmeira. É inacreditável a quantidade destas flores espalhadas por todo o campo de visão. Olhando do alto, na chegada ao vale, vemos milhares de manchas que variam do rosa ao violeta puro, assaltando o verde onipresente. Elas ainda não abriram todas, mas já tomam conta deste pequeno mundo. Como se não bastasse, logo após a aparição das quaresmeiras vem outra flor, de uma planta chamada São João, que é amarela, de um amarelo vívido, luminoso que faz um contraste intenso com as flores anteriormente citadas. E, em menor quantidade, outras flores, estas sarapintadas de amarelo escuro, vermelho, violeta claro, rosa, azul, entre outras cores. E, ao entardecer, as quaresmeiras são tomadas por um discreto, mas notável, fulgor, como se tivessem uma fosforescência que introduz um brilho fosco.
Para mim esta é uma época para visitar este lugar. E fazer expedições, não para aventurar-se nas matas intumescidas de ruídos secretos e seres silenciosos e discretos. Sim, estes são passeios maravilhosos, como também é certeiro o prazer anímico de contemplar os amplos gerais. Mas agora é para buscar os lugares onde ver o espraiar-se do violeta, ou buscar esta ou aquela quaresmeira em especial que brilha em seu fulgor, em seu incêndio de cor. Como aquela que está por trás da casa de Reizinha. Ou aqueloutra do lado do terreno de Medinho e umas duas em Neneu... O visitante poderá também sentar-se a observar, só olhar, embeber-se de qualquer uma das árvores que beiram os caminhos. Ou, e isso é quase lisérgico, caminhar na terra escura, olhando obliquamente sem fixar nada, e entrar em estado alterado de consciência por causa da miríade de pétalas (que caíram das árvores) rebrilhando sobre o fundo escuro da terra. Sem nada mais que a ímpar beleza, sem nada mais que o contraste e a repetição aleatória das pétalas, o visitante atento, desabitua-se do comum e adentra um reino feérico.
E como se não bastasse, neste período temos o Festival das Quaresmeiras, quando acontecem apresentações de música, exposições, comidas especiais, principalmente nos feriados, mas também durante o mês de abril. É um período bem especial. Penso nos europeus do quinto século sedentos de especiarias porque elas lhes acrescentaram paladares. Este é um momento em que o Vale do Capão se reveste de especiarias em cor para ampliar nossa gama de belezas.
Venha e comprove.
Recebam um abraço quaresmeiral de Aureo Augusto.
sábado, 2 de abril de 2011
quarta-feira, 30 de março de 2011
A FÉ
Em 2007 escrevi este texto, e acho que continuo buscando entender estas coisas: Dia 12 de outubro, no Vale do Capão à tardinha, só quem é maluco pensa em preparar a janta. Todo mundo vai pra rua, pois as famílias que celebram o dia de N.S. Aparecida, desde o dia anterior estão preparando as comidas que serão distribuídas na festa. O povo vai de casa em casa, fartando-se e re-fartando-se de salgadinhos, pipocas, bolos e tortas caseiros, além dos bombons industrializados. Ninguém pode se queixar da vida em um dia como esse. Beli, uma senhora cuja família se dedica a um restaurante (o “Comida Caseira da D. Beli”), me pediu que fotografasse sua festa o que o fiz sem hesitação. Por isso assisti e registrei em detalhes uma orgia de fé, religiosidade, gula e alegria, tudo isso em altas doses. A dona da casa começou esta tradição há alguns anos quando seu filho, que padecia de fortíssimas enxaquecas, ficou curado após orações à santa. Ele já havia inclusive sido internado por causa das dores lancinantes e a cura foi impressionante e imediata. Nunca mais fui chamado para cuidar dele, nas emergenciais crises.
O Dr. Herbert Benson, um dos fundadores do Mind Body Institute, da Universidade de Harvard, nota que há um fator de cura em nós, e que tal fator não está definido pela bioquímica. Há algo mais e tem realizado estudos interessantíssimos sobre aquilo que denomina ‘Resposta de Relaxamento’. Segundo ele, uma vez que o nosso corpo relaxa e permite-se crer, mecanismos de cura são postos em funcionamento e que tais mecanismos são muito poderosos, conforme mostram seus e de outros estudos. É uma felicidade ver instituições de alto gabarito como Harvard abrigarem pesquisas nesta linha, que nos remete ao enorme poder de autocura.
Infelizmente o desenvolvimento da ciência muitas vezes gera uma negação de alguns aspectos não tão passíveis de medição sistemática, como o é o poder da cura interior. Nós, os médicos, aprendemos detalhadamente como funciona a fisiologia orgânica, quais os efeitos benéficos e deletérios de cada droga em sua ação farmacológica, estudamos os melhores momentos e caminhos para uma abordagem cirúrgica adequada, quando esta é necessária e, nestes laboriosos estudos, olvidamos que lidamos com um organismo dotado da capacidade de se curar, tanto do ponto de vista meramente químico/biológico, como de uma outra potência que está além do físico. A ciência não definiu se esta potência é apenas um epifenômeno resultante dos eventos materiais, como uma conseqüência da nossa evolução biológica complexa, ou se algo pregresso a esta evolução conduziu-a a esta competência. Mas não importa. O fato é que quando cremos a coisa funciona.
Confesso que não sou um primor de fé, no entanto testemunhei coisas interessantíssimas. Conto duas relacionadas com a mesma enfermidade. Quando aqui cheguei, há mais de vinte anos, conheci o Sr. Artur, homem pelo qual tive imediata simpatia. Ele padeceraa de miíase no nariz. Trata-se da eclosão de ovos de uma certa mosca. Ela desova em pele ou mucosa lesada e quando suas larvas nascem devoram os tecidos de suas vítimas. Seu Artur me contou que só ficou curado quando um benzedor rezou-o. Tratei as seqüelas da doença com bons resultados e ele ainda viveu muito para contar sua história. Verifiquei entre os vizinhos e todos testemunharam a seu favor. Era verdade, garantiram. O tempo passou e o velho Anísio, homem pelo qual tenho a mais profunda admiração (embora já falecido), apresentou um quadro idêntico ao de Seu Artur. Procurou um médico em Seabra que lhe receitou algo que poderia chamar de uma “bomba”, usada para tratar cavalos e bois com quadro semelhante. Seu Anísio usou a “bomba”, mas o resultado não foi o mesmo que os cavalos e bois apresentavam. Não deu nenhum resultado. Usou de novo e nada, e seu sofrimento aumentava a cada dia. Dores atrozes lhe consumiam, desesperando a mim como amigo e ao médico de Seabra. Aí resolveu ir ao benzedor, e foi. Lá mesmo, no momento da reza, as larvas começaram a sair, no retorno ao lar, o mesmo se dava e quando chegou em casa, milhares de vermes esbranquiçados rolavam de seu nariz caindo ao chão e atraindo a atenção dos vizinhos, até que todos caíram e o velho se livrou da dor, ficando como seqüelas uma lesão no conduto lacrimal direito que ficou entupido e uma deformação no nariz.
Por quais, inda insondáveis mecanismos, estes dois homens foram curados? Não sei, mas quero saber. Como saberei? Todavia não sei. Mas observo e anoto. Aliás, as conexões entre as coisas e os eventos merecem reflexão, principalmente quando pensamos em saúde. O filho de Seu Artur era um jovem raro. Não tinha boa saúde e fiz de tudo para que mudasse determinados hábitos alimentares muito prejudiciais. Tinha as paredes da casa repletas de gaiolas com passarinhos, coisa que eu, particularmente, não via com simpatia, mas, paradoxalmente havia uma simpatia entre o jovem e os animais. Um dia recebi a notícia que havia sido levado de urgência para o hospital. Como era muito querido, várias pessoas estavam em sua casa, com seus pais, aguardando notícias. Foi assim que, em determinada hora (que mais tarde verificou-se ter sido o momento de sua morte), todos os pássaros engaiolados que até então haviam permanecido em silêncio, dispararam a cantar intensamente e, logo depois, silenciaram.
O mundo tem seus mistérios. O bom é que somos inteligentes, sensíveis e curiosos. Um dia descobriremos a razão destes casos que contei e então outros mistérios mais se manifestarão de modo que sempre teremos o prazer de ter algo mais a descobrir.
Recebam um abraço de fé, Aureo Augusto
O Dr. Herbert Benson, um dos fundadores do Mind Body Institute, da Universidade de Harvard, nota que há um fator de cura em nós, e que tal fator não está definido pela bioquímica. Há algo mais e tem realizado estudos interessantíssimos sobre aquilo que denomina ‘Resposta de Relaxamento’. Segundo ele, uma vez que o nosso corpo relaxa e permite-se crer, mecanismos de cura são postos em funcionamento e que tais mecanismos são muito poderosos, conforme mostram seus e de outros estudos. É uma felicidade ver instituições de alto gabarito como Harvard abrigarem pesquisas nesta linha, que nos remete ao enorme poder de autocura.
Infelizmente o desenvolvimento da ciência muitas vezes gera uma negação de alguns aspectos não tão passíveis de medição sistemática, como o é o poder da cura interior. Nós, os médicos, aprendemos detalhadamente como funciona a fisiologia orgânica, quais os efeitos benéficos e deletérios de cada droga em sua ação farmacológica, estudamos os melhores momentos e caminhos para uma abordagem cirúrgica adequada, quando esta é necessária e, nestes laboriosos estudos, olvidamos que lidamos com um organismo dotado da capacidade de se curar, tanto do ponto de vista meramente químico/biológico, como de uma outra potência que está além do físico. A ciência não definiu se esta potência é apenas um epifenômeno resultante dos eventos materiais, como uma conseqüência da nossa evolução biológica complexa, ou se algo pregresso a esta evolução conduziu-a a esta competência. Mas não importa. O fato é que quando cremos a coisa funciona.
Confesso que não sou um primor de fé, no entanto testemunhei coisas interessantíssimas. Conto duas relacionadas com a mesma enfermidade. Quando aqui cheguei, há mais de vinte anos, conheci o Sr. Artur, homem pelo qual tive imediata simpatia. Ele padeceraa de miíase no nariz. Trata-se da eclosão de ovos de uma certa mosca. Ela desova em pele ou mucosa lesada e quando suas larvas nascem devoram os tecidos de suas vítimas. Seu Artur me contou que só ficou curado quando um benzedor rezou-o. Tratei as seqüelas da doença com bons resultados e ele ainda viveu muito para contar sua história. Verifiquei entre os vizinhos e todos testemunharam a seu favor. Era verdade, garantiram. O tempo passou e o velho Anísio, homem pelo qual tenho a mais profunda admiração (embora já falecido), apresentou um quadro idêntico ao de Seu Artur. Procurou um médico em Seabra que lhe receitou algo que poderia chamar de uma “bomba”, usada para tratar cavalos e bois com quadro semelhante. Seu Anísio usou a “bomba”, mas o resultado não foi o mesmo que os cavalos e bois apresentavam. Não deu nenhum resultado. Usou de novo e nada, e seu sofrimento aumentava a cada dia. Dores atrozes lhe consumiam, desesperando a mim como amigo e ao médico de Seabra. Aí resolveu ir ao benzedor, e foi. Lá mesmo, no momento da reza, as larvas começaram a sair, no retorno ao lar, o mesmo se dava e quando chegou em casa, milhares de vermes esbranquiçados rolavam de seu nariz caindo ao chão e atraindo a atenção dos vizinhos, até que todos caíram e o velho se livrou da dor, ficando como seqüelas uma lesão no conduto lacrimal direito que ficou entupido e uma deformação no nariz.
Por quais, inda insondáveis mecanismos, estes dois homens foram curados? Não sei, mas quero saber. Como saberei? Todavia não sei. Mas observo e anoto. Aliás, as conexões entre as coisas e os eventos merecem reflexão, principalmente quando pensamos em saúde. O filho de Seu Artur era um jovem raro. Não tinha boa saúde e fiz de tudo para que mudasse determinados hábitos alimentares muito prejudiciais. Tinha as paredes da casa repletas de gaiolas com passarinhos, coisa que eu, particularmente, não via com simpatia, mas, paradoxalmente havia uma simpatia entre o jovem e os animais. Um dia recebi a notícia que havia sido levado de urgência para o hospital. Como era muito querido, várias pessoas estavam em sua casa, com seus pais, aguardando notícias. Foi assim que, em determinada hora (que mais tarde verificou-se ter sido o momento de sua morte), todos os pássaros engaiolados que até então haviam permanecido em silêncio, dispararam a cantar intensamente e, logo depois, silenciaram.
O mundo tem seus mistérios. O bom é que somos inteligentes, sensíveis e curiosos. Um dia descobriremos a razão destes casos que contei e então outros mistérios mais se manifestarão de modo que sempre teremos o prazer de ter algo mais a descobrir.
Recebam um abraço de fé, Aureo Augusto
segunda-feira, 21 de março de 2011
QUEM 'GUENTA CRIANÇA?
Não gosto de pediatria. As crianças demonstram gostar muito do meu consultório. Regra geral os pais têm alguma dificuldade para conseguir retira-las depois da consulta, mas não me agrada vê-las doentes. Além disso, falta-me aquela sensibilidade dos pediatras e dos professores, no interpretar aquilo que querem dizer, nem sempre com palavras, ou às vezes com o seu uso peculiar das palavras. Por último, o processo de crescimento por si só traz desafios para os pequenos e o conhecimento claro desses desafios, apanágio de bons professores e bons pediatras, tem seus mistérios que não alcanço. Quando os recebo, logo lhes apresento lápis de cor e papel. Assim ficam logo à vontade, principalmente depois que vêm na porta os desenhos que as crianças fazem durante as consultas. Alguns se concentram tanto que faço a ausculta pulmonar enquanto rabiscam os papéis. Assim, posso conversar tranqüilo com os pais e ademais, acontece uma proximidade maior com as crianças. Vai daí que ao final me dou bem com os cabritos. Aqui umas historinhas deles por aqui:
O pequeno chegou no posto para consulta. A mãe o trouxe porque estava com muita febre. Olhei para ele, que estava bem abatido e depois de me abaixar para alcançar-lhe a altura, perguntei: “Então, o que é que você está sentindo?”. Ele, com aquela carinha redonda de criança de 3 anos, olhou para mim e respondeu: “É, Dr. Aureo, meu coração ta com soluço”. Imagine a ternura que eu senti.
Eric, filho de Yvanete, também com 3 anos, é uma das crianças mais deliciosas que conheço. Ele é impressionante. Põe muita atenção no que se fala e faz perguntas pertinentes. Os pais são dedicados aos dois filhos que têm e talvez por isso ele tenha uma atitude bem franca e aberta para com o mundo. Gosto de apreciar sua postura no posto. Ele quando chega aqui, é como se viesse visitar seus amigos. Fala com todos e conta coisas. Há poucos dias Yvanete veio pra consulta e ele, segundo ela, fincou o pé que vinha me visitar e ninguém o demoveu do intento. Quando fui chamar sua mãe, ele se adiantou e me deu de presente um saco que cuidadosamente trazia consigo. Eram jambos deliciosos. Ele ficou muito feliz com a minha receptividade ao seu presente. E eu ao ver seu rosto orgulhoso, olhando para a mãe, como dizendo: “Viu que foi bom eu vir?”.
Há um outro com pouco mais de dois anos. O cabrito é bem danado e a mãe tem dificuldade em controlar-lhe a traquinagem durante as consultas. Notei que quando eu batia o carimbo nos papéis ele ficava interessado. Então o nomeei meu secretário encarregado de carimbar os papéis da sua consulta. Então no momento certo ele, todo compenetrado, carimbou a receita no lugar que indiquei. Foi aí que olhou para a mãe com uma cara de orgulho que quase me mata. Estaboquei de rir e é uma pena que não dispunha de um vídeo para registrar o seu indescritível “eu sou o bom”. Até agora quando me lembro sinto um calor no peito!
Mas teve uma que me deixou com o coração como se fosse uma passa. Laura, filha de Nininho e Catinha. Ela tem uma cara de traquina que encanta. E, além disso, é efetivamente muito traquina. Inteligente, observadora, os olhinhos negros penetram tudo para investigar. A mãe veio com ela pra consulta e quando fui chamá-la já havia se adiantado e vinha para a porta. Então, me abaixei para dizer alô. Nesse momento, com aquela carinha incrível, olhou-me nos olhos e disse: “Oi Doutor”. Foi como se uma flecha com 80 kg de ternura me atingisse o peito. Quase caí pra trás.
Esses pequenos são terríveis!
Recebam um abraço criança de Aureo Augusto
O pequeno chegou no posto para consulta. A mãe o trouxe porque estava com muita febre. Olhei para ele, que estava bem abatido e depois de me abaixar para alcançar-lhe a altura, perguntei: “Então, o que é que você está sentindo?”. Ele, com aquela carinha redonda de criança de 3 anos, olhou para mim e respondeu: “É, Dr. Aureo, meu coração ta com soluço”. Imagine a ternura que eu senti.
Eric, filho de Yvanete, também com 3 anos, é uma das crianças mais deliciosas que conheço. Ele é impressionante. Põe muita atenção no que se fala e faz perguntas pertinentes. Os pais são dedicados aos dois filhos que têm e talvez por isso ele tenha uma atitude bem franca e aberta para com o mundo. Gosto de apreciar sua postura no posto. Ele quando chega aqui, é como se viesse visitar seus amigos. Fala com todos e conta coisas. Há poucos dias Yvanete veio pra consulta e ele, segundo ela, fincou o pé que vinha me visitar e ninguém o demoveu do intento. Quando fui chamar sua mãe, ele se adiantou e me deu de presente um saco que cuidadosamente trazia consigo. Eram jambos deliciosos. Ele ficou muito feliz com a minha receptividade ao seu presente. E eu ao ver seu rosto orgulhoso, olhando para a mãe, como dizendo: “Viu que foi bom eu vir?”.
Há um outro com pouco mais de dois anos. O cabrito é bem danado e a mãe tem dificuldade em controlar-lhe a traquinagem durante as consultas. Notei que quando eu batia o carimbo nos papéis ele ficava interessado. Então o nomeei meu secretário encarregado de carimbar os papéis da sua consulta. Então no momento certo ele, todo compenetrado, carimbou a receita no lugar que indiquei. Foi aí que olhou para a mãe com uma cara de orgulho que quase me mata. Estaboquei de rir e é uma pena que não dispunha de um vídeo para registrar o seu indescritível “eu sou o bom”. Até agora quando me lembro sinto um calor no peito!
Mas teve uma que me deixou com o coração como se fosse uma passa. Laura, filha de Nininho e Catinha. Ela tem uma cara de traquina que encanta. E, além disso, é efetivamente muito traquina. Inteligente, observadora, os olhinhos negros penetram tudo para investigar. A mãe veio com ela pra consulta e quando fui chamá-la já havia se adiantado e vinha para a porta. Então, me abaixei para dizer alô. Nesse momento, com aquela carinha incrível, olhou-me nos olhos e disse: “Oi Doutor”. Foi como se uma flecha com 80 kg de ternura me atingisse o peito. Quase caí pra trás.
Esses pequenos são terríveis!
Recebam um abraço criança de Aureo Augusto
quinta-feira, 17 de março de 2011
VITAMINAS E SUPLEMENTOS
Nós estamos a cada dia mais conscientes do valor dos nutrientes e seu papel na formação (construção) do nosso corpo e também na manutenção da saúde. Há pouco tempo não era assim, mas felizmente a consciência do valor das proteínas, vitaminas etc. está cada dia mais disseminada. A tristeza é que nem todas as pessoas estão percebendo que os alimentos nos oferecem tudo o que necessitamos. Hoje existe uma florescente indústria de suplementos alimentares que movimenta bilhões de dólares graças à convincente insinuação de que os alimentos não são suficientes. Estudos pouco comprovados apregoam nos meios de comunicação as qualidades quase mágicas desta ou daquela vitamina ou substância, e logo aparecem os comprimidos nas farmácias prontos para o consumo. Esquecemos que há milhares de anos a humanidade vem existindo sem tais comprimidos. Muitos povos descobriram a melhor forma de usar os alimentos de que dispunham e isso fizeram para o próprio bem. Os índios de Vilcabamba no Perú, por exemplo, despertaram a atenção do mundo pela quantidade de idosos com mais de 100 anos entre eles. E isso por causa de um estilo de vida e uma alimentação onde as frutas e os legumes têm papel principal. Os suplementos nutricionais são muito úteis em determinadas situações, porém não devem ser usados indiscriminadamente. Veja uns exemplos:
1. O ferro é um mineral muito importante contra a anemia. Porém em excesso ele se transforma em um radical livre (substância que aumenta o envelhecimento e a possibilidade de câncer). Comendo cenoura, couve ou mamão você se protege contra isso, porque a vitamina A presente nestes alimentos impede que o ferro se transforme em radical livre. Por isso convém receber o ferro que está na couve porque já vem com a vitamina que impede-o de tornar-se radical livre.
2. A vitamina C é maravilhosa; isso todos sabem. Mas em excesso, como encontrada nos suplementos, pode induzir a formação de substancias que atacam o material genético por produção de genotoxinas. A descoberta foi feita pela equipe da Universidade da Pensilvânia liderada pelo Dr. Ian Blair. O efeito negativo vem do uso abusivo da vitamina. Frutas com vitamina C protegem contra o câncer, mas o excesso não é bom. Blair considera que o efeito anti-cancerígeno vem do conjunto e não de um elemento solitário. Ademais, doses acima de 1g aumentam a glicemia em diabéticos, reduz a absorção de vitamina B12, B2 e ácido fólico.
O melhor, meus amigos e amigas, é comer o que a natureza nos deu, variando bastante e saboreando mais ainda. Caso seja imprescindível o uso de suplementos, consulte o médico.
Recebam um abraço vitaminado de Aureo Augusto.
1. O ferro é um mineral muito importante contra a anemia. Porém em excesso ele se transforma em um radical livre (substância que aumenta o envelhecimento e a possibilidade de câncer). Comendo cenoura, couve ou mamão você se protege contra isso, porque a vitamina A presente nestes alimentos impede que o ferro se transforme em radical livre. Por isso convém receber o ferro que está na couve porque já vem com a vitamina que impede-o de tornar-se radical livre.
2. A vitamina C é maravilhosa; isso todos sabem. Mas em excesso, como encontrada nos suplementos, pode induzir a formação de substancias que atacam o material genético por produção de genotoxinas. A descoberta foi feita pela equipe da Universidade da Pensilvânia liderada pelo Dr. Ian Blair. O efeito negativo vem do uso abusivo da vitamina. Frutas com vitamina C protegem contra o câncer, mas o excesso não é bom. Blair considera que o efeito anti-cancerígeno vem do conjunto e não de um elemento solitário. Ademais, doses acima de 1g aumentam a glicemia em diabéticos, reduz a absorção de vitamina B12, B2 e ácido fólico.
O melhor, meus amigos e amigas, é comer o que a natureza nos deu, variando bastante e saboreando mais ainda. Caso seja imprescindível o uso de suplementos, consulte o médico.
Recebam um abraço vitaminado de Aureo Augusto.
terça-feira, 8 de março de 2011
CARNAVAL, ANSIEDADE e HÁBITO
Aí está o carnaval carnavalizando cada átomo de um Brasil que nele vive. Milhões de pessoas que deixam de ser pessoas para travestirem-se de foliões. Anonimamente colocados em torno de tambores e loucuras etílicas. Uma animação toma conta da vida como se nada mais houvesse. Ansiosamente lançam-se aos magotes, homens e mulheres, na gangorra da felicidade momesca. As crianças acorrem a aprender a farra. Nada de mal na farra, mas porque esta ansiedade da festa, de mostrar para todos uma alegria de trio elétrico? Escrevi o texto abaixo em 2006 e só tem a ver com o carnaval porque nele e seus semelhantes com frequência vejo a ansiedade de disfarçar a ansiedade.
Os dois maiores inimigos da saúde, ocorre-me, são a ansiedade e o hábito.
O primeiro está sumamente disseminado em nosso meio. É uma espécie de praga, uma epidemia. Parece que em nossa sociedade todos nós passamos por um curso para nos tornarmos ansiosos. O currículo é suficiente para obter um alto nível de sucesso, e são poucos os maus alunos que escapam ilesos desta escola. Às vezes penso que o processo começa antes de nascermos. Os medos, os receios de nossas mães, preocupadas com a sobrevivência do rebento, com as alterações que o corpo delas está sofrendo no evoluir da prenhez, também angustiadas porque seus companheiros não demonstram participar da gravidez, quando não as abandonam, tristes porque depois do parto pode ser que seus corpos não mais voltem à elegância suposta ou imaginária que tinham antes, enfim, uma infinidade de motivos, que por meios químicos e outros insuspeitos atingem a criança no ventre e as “educa” para que no futuro sejam dignos ansiosos. Depois vem o parto, com sua carga de receios, pois em nossa sociedade não confiamos que um evento normal (como a gravidez) resulte em outro evento natural que é o nascimento. Uma vez nascido o neném é manipulado nem sempre com delicadeza, e em seguida, mais medos: Haverá leite? O peito vai cair? Entre outras preocupações. A criança cresce bebendo as dores dos pais, comendo suas alegrias, sorvendo apreensões que não são suas. Na mistura de amor e inquietação vai desenvolvendo sua capacidade de ser ansioso. A escola com seus professores e professoras tantas vezes insatisfeitos (com sua razão, mas o que a criança tem a ver com isso?); a seu tempo: O emprego, seja porque não há, seja por freqüentemente insatisfatório...
Não dá para descrever todos os detalhes desta instrução a que somos submetidos. É muita coisa! Importa dizer que com o tempo, adquirimos o hábito da ansiedade. Esta inquietação penosa passa a fazer parte de nossas células. Aí comemos correndo, vivemos no futuro e deixamos de gozar o presente, nos sentimos permanentemente ameaçados...
E os hábitos. Também apreendemos certos costumes que nos conformam. Quando não podem ser realizados, perdemos nossa identidade e nos sentimos como crianças no meio da praça constatando que a mãe desapareceu. A repetição perene dos mesmos padrões de pensamento, e dos regulares costumes que nos modelaram têm o dom de mitigar e paradoxalmente nutrir a ansiedade. Funciona quase como um Transtorno Obsessivo Compulsivo. Realizamos a tarefa (como se sem ela o mundo fosse sofrer alguma hecatombe) e logo após nos sentimos novamente vulneráveis. Assim seguimos nossos dias. E que ninguém se engane. Os jovens dizem que querem sair da rotina, e pensam que saem, mas seus pensamentos e suas crenças aí estão conduzindo-os pelos mesmos desfiladeiros que seus pais passaram, apesar de travestidos de novidade.
Encontrar solução para esta situação deveria ser um movimento global, tão forte quando o movimento pelo meio-ambiente (inclusive porque este sofre muito graças a nossa ansiedade). Às vezes quando meus hábitos anacrônicos me tomam, percebo que só me resta respirar. Respiro. Então me vem a possibilidade de reflexão ou contemplação. Ocasionalmente instala-se um sentimento de comunidade com o Universo. Uma forma de paz. Não significa que me sinta protegido contra a possibilidade de acontecimentos nefastos vindos, por assim dizer, do nada. Ocorre que de repente, em um átimo e nem sempre por longo tempo, percebo que não importa o que aconteça, aqui estou, eu sou. Se a ansiedade tem em seu bojo o medo do aniquilamento, estes momentos informam que o existir é irrevogável.
Recebam um abraço carnavalesco (rsrsrs) de Aureo Augusto.
Os dois maiores inimigos da saúde, ocorre-me, são a ansiedade e o hábito.
O primeiro está sumamente disseminado em nosso meio. É uma espécie de praga, uma epidemia. Parece que em nossa sociedade todos nós passamos por um curso para nos tornarmos ansiosos. O currículo é suficiente para obter um alto nível de sucesso, e são poucos os maus alunos que escapam ilesos desta escola. Às vezes penso que o processo começa antes de nascermos. Os medos, os receios de nossas mães, preocupadas com a sobrevivência do rebento, com as alterações que o corpo delas está sofrendo no evoluir da prenhez, também angustiadas porque seus companheiros não demonstram participar da gravidez, quando não as abandonam, tristes porque depois do parto pode ser que seus corpos não mais voltem à elegância suposta ou imaginária que tinham antes, enfim, uma infinidade de motivos, que por meios químicos e outros insuspeitos atingem a criança no ventre e as “educa” para que no futuro sejam dignos ansiosos. Depois vem o parto, com sua carga de receios, pois em nossa sociedade não confiamos que um evento normal (como a gravidez) resulte em outro evento natural que é o nascimento. Uma vez nascido o neném é manipulado nem sempre com delicadeza, e em seguida, mais medos: Haverá leite? O peito vai cair? Entre outras preocupações. A criança cresce bebendo as dores dos pais, comendo suas alegrias, sorvendo apreensões que não são suas. Na mistura de amor e inquietação vai desenvolvendo sua capacidade de ser ansioso. A escola com seus professores e professoras tantas vezes insatisfeitos (com sua razão, mas o que a criança tem a ver com isso?); a seu tempo: O emprego, seja porque não há, seja por freqüentemente insatisfatório...
Não dá para descrever todos os detalhes desta instrução a que somos submetidos. É muita coisa! Importa dizer que com o tempo, adquirimos o hábito da ansiedade. Esta inquietação penosa passa a fazer parte de nossas células. Aí comemos correndo, vivemos no futuro e deixamos de gozar o presente, nos sentimos permanentemente ameaçados...
E os hábitos. Também apreendemos certos costumes que nos conformam. Quando não podem ser realizados, perdemos nossa identidade e nos sentimos como crianças no meio da praça constatando que a mãe desapareceu. A repetição perene dos mesmos padrões de pensamento, e dos regulares costumes que nos modelaram têm o dom de mitigar e paradoxalmente nutrir a ansiedade. Funciona quase como um Transtorno Obsessivo Compulsivo. Realizamos a tarefa (como se sem ela o mundo fosse sofrer alguma hecatombe) e logo após nos sentimos novamente vulneráveis. Assim seguimos nossos dias. E que ninguém se engane. Os jovens dizem que querem sair da rotina, e pensam que saem, mas seus pensamentos e suas crenças aí estão conduzindo-os pelos mesmos desfiladeiros que seus pais passaram, apesar de travestidos de novidade.
Encontrar solução para esta situação deveria ser um movimento global, tão forte quando o movimento pelo meio-ambiente (inclusive porque este sofre muito graças a nossa ansiedade). Às vezes quando meus hábitos anacrônicos me tomam, percebo que só me resta respirar. Respiro. Então me vem a possibilidade de reflexão ou contemplação. Ocasionalmente instala-se um sentimento de comunidade com o Universo. Uma forma de paz. Não significa que me sinta protegido contra a possibilidade de acontecimentos nefastos vindos, por assim dizer, do nada. Ocorre que de repente, em um átimo e nem sempre por longo tempo, percebo que não importa o que aconteça, aqui estou, eu sou. Se a ansiedade tem em seu bojo o medo do aniquilamento, estes momentos informam que o existir é irrevogável.
Recebam um abraço carnavalesco (rsrsrs) de Aureo Augusto.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
ALIMENTAÇÃO E HIPERTENSÃO
Uma das leitoras do blog, Nayara, pediu que comentasse sobre alimentação e hipertensão arterial essencial, que é a situação onde a pressão sangüínea está aumentada. Quando se mede a pressão, dois números são anotados, por exemplo: 13x8. Para o assunto de nosso interesse nesta “conversa”, o número menor é o mais importante. Assim se este número estiver acima de 8,5 por duas vezes, já devemos ficar ligados porque podemos estar com o quadro hipertensivo. Quero começar com uma receita simples, e assim atendo também ao pedido de Mariana Rocha que deseja ter umas receitas. Hoje trago um molho que acho incrível para o pão ou o aipim, ou para colocar na salada. Também pode ser usado em verduras cozidas no vapor. Você cozinha as verduras e depois joga o molho por cima, uau! Não se esqueçam de me convidar.
É simples: tomem 2 tomates, 1 dente de alho (ou uma cebola pequena), manjericão a gosto, azeite doce (de oliva) virgem ou extra-virgem e bate tudo junto no liquidificador, depois acrescente orégano. Está pronto. Querendo que fique mais liquido bota mais tomate e azeite. Ponha isso em qualquer comida e você vai ver – escrevendo estas linhas me vem água na boca. Quando temos atividades aqui na Unidade de Saúde da Família do Vale do Capão (USF) a turma sempre me pede pra trazer este molho e o povo se farta de comê-lo com pão integral. Nunca sobrou. O mesmo molho pode ser incrementado com outras ervas (como salsa e basílico) e também com iogurte.
A nossa USF promove, com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde (SESAB) e da Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS), todos os anos um encontro de profissionais que trabalham com Estratégia de Saúde da Família e, em uma delas, veio um cardiologista (Dr. Manoel Afonso), cuja primeira frase foi que não dá pra tratar hipertensão sem rever e modificar a alimentação da pessoa doente. Ele comentou que voltava de um congresso sobre o assunto onde o que mais se falou foi justamente da alimentação. Isso me causou grande alegria, já que a pressão alta tem a ver com a resistência dos vasos à passagem do sangue, mas também sofre o efeito de que o sangue, estando excessivamente viscoso (grosso, usando terminologia mais popular), também avança com menos facilidade. Ambos os fatores têm a ver com alimentação.
Já é de conhecimento geral que o sal (cloreto de sódio) é o grande vilão. Ele não apenas estimula os vasos a se “apertarem” como também gera pequenas lesões nas paredes das arteríolas (artérias mais finas) que ao cicatrizar faz que estes vasos fiquem mais rígidos (aumentando a pressão). Assim, é imperativo diminuir este tempero. Em cerca de 4 meses o paladar se acostuma à redução do sal. E usando alho como tempero, a pessoa sente menor necessidade do sal no paladar. Porém devemos tomar cuidado porque os alimentos industrializados contêm sal escondido e Glutamato Monossódico que aumenta a pressão 4 vezes mais que o cloreto de sódio. Daí é importante só usar como tempero aqueles produtos de horta que sua avó usava, como hortelã, salsa, cebola, alho etc. Estes produtos não apenas não prejudicam o hipertenso, como também têm a capacidade de reduzir a pressão e de “afinar” o sangue. Os médicos recomendam AAS para reduzir a viscosidade do sangue, ou seja, para “afinar” o sangue; pois bem, o alho, a cebola e o alho porro fazem o mesmo. Uma alimentação rica em frutas e verduras tem efeito semelhante. O manjericão também reduz a pressão. O azeite doce virgem ou extra-virgem reduz o colesterol LDL, chamado de mal colesterol, aumentando o bom colesterol, protegendo desta maneira o hipertenso, pois o excesso de colesterol aumenta a chance de a pessoa ter “derrame”. Muitas vezes o hipertenso tem alterações no colesterol e isso pode ser corrigido com alimentação rica em frutas, verduras, aveia, abacate e o já mencionado azeite doce.
Como vocês podem notar, temos uma verdadeira farmácia na cozinha que pode tanto prevenir a pressão alta (o que é melhor) como contribuir significativamente para a redução da pressão.
Recebam um abraço sem pressão de Aureo Augusto
É simples: tomem 2 tomates, 1 dente de alho (ou uma cebola pequena), manjericão a gosto, azeite doce (de oliva) virgem ou extra-virgem e bate tudo junto no liquidificador, depois acrescente orégano. Está pronto. Querendo que fique mais liquido bota mais tomate e azeite. Ponha isso em qualquer comida e você vai ver – escrevendo estas linhas me vem água na boca. Quando temos atividades aqui na Unidade de Saúde da Família do Vale do Capão (USF) a turma sempre me pede pra trazer este molho e o povo se farta de comê-lo com pão integral. Nunca sobrou. O mesmo molho pode ser incrementado com outras ervas (como salsa e basílico) e também com iogurte.
A nossa USF promove, com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde (SESAB) e da Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS), todos os anos um encontro de profissionais que trabalham com Estratégia de Saúde da Família e, em uma delas, veio um cardiologista (Dr. Manoel Afonso), cuja primeira frase foi que não dá pra tratar hipertensão sem rever e modificar a alimentação da pessoa doente. Ele comentou que voltava de um congresso sobre o assunto onde o que mais se falou foi justamente da alimentação. Isso me causou grande alegria, já que a pressão alta tem a ver com a resistência dos vasos à passagem do sangue, mas também sofre o efeito de que o sangue, estando excessivamente viscoso (grosso, usando terminologia mais popular), também avança com menos facilidade. Ambos os fatores têm a ver com alimentação.
Já é de conhecimento geral que o sal (cloreto de sódio) é o grande vilão. Ele não apenas estimula os vasos a se “apertarem” como também gera pequenas lesões nas paredes das arteríolas (artérias mais finas) que ao cicatrizar faz que estes vasos fiquem mais rígidos (aumentando a pressão). Assim, é imperativo diminuir este tempero. Em cerca de 4 meses o paladar se acostuma à redução do sal. E usando alho como tempero, a pessoa sente menor necessidade do sal no paladar. Porém devemos tomar cuidado porque os alimentos industrializados contêm sal escondido e Glutamato Monossódico que aumenta a pressão 4 vezes mais que o cloreto de sódio. Daí é importante só usar como tempero aqueles produtos de horta que sua avó usava, como hortelã, salsa, cebola, alho etc. Estes produtos não apenas não prejudicam o hipertenso, como também têm a capacidade de reduzir a pressão e de “afinar” o sangue. Os médicos recomendam AAS para reduzir a viscosidade do sangue, ou seja, para “afinar” o sangue; pois bem, o alho, a cebola e o alho porro fazem o mesmo. Uma alimentação rica em frutas e verduras tem efeito semelhante. O manjericão também reduz a pressão. O azeite doce virgem ou extra-virgem reduz o colesterol LDL, chamado de mal colesterol, aumentando o bom colesterol, protegendo desta maneira o hipertenso, pois o excesso de colesterol aumenta a chance de a pessoa ter “derrame”. Muitas vezes o hipertenso tem alterações no colesterol e isso pode ser corrigido com alimentação rica em frutas, verduras, aveia, abacate e o já mencionado azeite doce.
Como vocês podem notar, temos uma verdadeira farmácia na cozinha que pode tanto prevenir a pressão alta (o que é melhor) como contribuir significativamente para a redução da pressão.
Recebam um abraço sem pressão de Aureo Augusto
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
PANAMÁ DO PARAGUAI
Chegar à casa de meu pai pela primeira vez, dois meses após sua morte foi, no mínimo, estranho. Como de hábito procurei-o na cadeira em frente à televisão e só então me dei conta do que já sabia. A casa vazia dele me dizia do peso do vazio. Minha mãe sentou-se comigo a almoçar e conversamos um pouco, junto com uma tia, sobre o velho. Uma conversa triste, lambuzada de saudade. Mas que aos poucos derivou para outros assuntos, porque a vida e o tempo (o grande aliado) continuam em um riachão que não tem volta. Usei a palavra riachão por causa do sambista, Riachão, que perdeu a esposa e filhos em um grave acidente, mas hoje, aos 90 anos segue laborando roça e samba conforme vi em entrevista à revista Muito. Sim, a dor chega, mas passa; como está na última frase do livro Iracema de José de Alencar: “Tudo passa sobre a Terra”. Para o bom e para o nem tanto.
Minha mãe é um doce! Por duas vezes ela me relatou que acha que está indo embora. Referia-se muito fraca. Deve ser verdade, pois aos mais de 90 anos, tendo perdido o amor de sua vida após 65 anos de matrimônio a vida deve ficar um tanto ou um muito pela metade no que respeita à força vital. Ela sempre se queixa da saúde quando me vê. Pudera! Sou seu filho médico! Mas a conversa costuma terminar em graça e ela ri até mais não poder com as conclusões que lhe coloco. Disse-lhe que tem que agüentar um pouco porque o velho está lá, do outro lado, arrumando as coisas para ela. Para recebê-la em grande estilo. Lembrei-lhe que meu pai sempre foi de demorar nas coisas. Fazia, mas o tempo dele era só dele no jeito de se arrastar. Daí ela terá que esperar pelo menos uns 5 anos antes de ir-se, afinal, disse-lhe, não foram precisos 7 anos para construir aquela casa onde vivemos no bairro do Uruguai? Ela riu ao lembrar-se de um tempo árduo, que passou. No dia seguinte ela já estava com outra fala, colocando-se à disposição de Deus para o caso de ele querer que ela fique até os 200 anos. Aí tive que baixar a bola da coroa velha. Falei: “Mas minha mãe quem vai te agüentar por tanto tempo?”. Ela deu uma gargalhada como só ela. Ficamos então, por um tempo trocando gargalhadas, já que tenho (temos, os parentes) que aproveitar o pouco tempo que ainda nos resta com ela.
Tive outra notícia de morte. No pé da ladeira da Montanha há uma loja que vende confecções e chapéus. Gosto de chapéus. Fui lá e soube que o português, seu dono, morreu. Deu-me tristeza porque gostava de conversar com ele, que nos tempos de mascate vinha ao Vale do Capão vender seus produtos e aqui conheceu muitos que hoje já se foram (alguns deles, tive a alegria de conhecer). Ele me informou que o Capão devia estar muito mudado porque “até um médico vive lá hoje, imagine só!”. Descobriu que eu morava por aqui pelo meu jeito de falar. Como não havia o chapéu que queria (estava em falta panamá), busquei outra loja, quase no pé do plano inclinado e lá um senhor me recebeu. Tinha os panamás que buscava. Como de hábito me queixei do preço. Ele ralhou comigo me dizendo que era feito com palha importada do Panamá daí o valor, se eu quisesse mais barato deveria procurar nos camelôs onde não faltam panamás do Paraguai. De início fiquei atacado com a forma com que falou, mas depois me baixou a ternura. Ele ainda brigou comigo porque não tinha lenço para experimentar o chapéu, antes de me conseguir um guardanapo para tirar o suor da testa. Gostei do cuidado com que manuseava os objetos. Ele os colocava em minha cabeça e não eu. Logo gostou de mim e me disse que muita gente compra panamás do Paraguai e vão às festas e fazem feio quando chega alguém com panamás do Panamá que logo se destacam. Terno. Fiquei com um e fiquei de voltar. Volto.
Estava velho o velho que me atendeu na chapelaria. Logo despedir-se-á da vida. Depois pode ser que fique sem lugar para comprar chapéus. É assim que o tempo se renova. O método é bom, mas de quando em vez dói.
Recebam um abraço melancólico de Aureo Augusto
Minha mãe é um doce! Por duas vezes ela me relatou que acha que está indo embora. Referia-se muito fraca. Deve ser verdade, pois aos mais de 90 anos, tendo perdido o amor de sua vida após 65 anos de matrimônio a vida deve ficar um tanto ou um muito pela metade no que respeita à força vital. Ela sempre se queixa da saúde quando me vê. Pudera! Sou seu filho médico! Mas a conversa costuma terminar em graça e ela ri até mais não poder com as conclusões que lhe coloco. Disse-lhe que tem que agüentar um pouco porque o velho está lá, do outro lado, arrumando as coisas para ela. Para recebê-la em grande estilo. Lembrei-lhe que meu pai sempre foi de demorar nas coisas. Fazia, mas o tempo dele era só dele no jeito de se arrastar. Daí ela terá que esperar pelo menos uns 5 anos antes de ir-se, afinal, disse-lhe, não foram precisos 7 anos para construir aquela casa onde vivemos no bairro do Uruguai? Ela riu ao lembrar-se de um tempo árduo, que passou. No dia seguinte ela já estava com outra fala, colocando-se à disposição de Deus para o caso de ele querer que ela fique até os 200 anos. Aí tive que baixar a bola da coroa velha. Falei: “Mas minha mãe quem vai te agüentar por tanto tempo?”. Ela deu uma gargalhada como só ela. Ficamos então, por um tempo trocando gargalhadas, já que tenho (temos, os parentes) que aproveitar o pouco tempo que ainda nos resta com ela.
Tive outra notícia de morte. No pé da ladeira da Montanha há uma loja que vende confecções e chapéus. Gosto de chapéus. Fui lá e soube que o português, seu dono, morreu. Deu-me tristeza porque gostava de conversar com ele, que nos tempos de mascate vinha ao Vale do Capão vender seus produtos e aqui conheceu muitos que hoje já se foram (alguns deles, tive a alegria de conhecer). Ele me informou que o Capão devia estar muito mudado porque “até um médico vive lá hoje, imagine só!”. Descobriu que eu morava por aqui pelo meu jeito de falar. Como não havia o chapéu que queria (estava em falta panamá), busquei outra loja, quase no pé do plano inclinado e lá um senhor me recebeu. Tinha os panamás que buscava. Como de hábito me queixei do preço. Ele ralhou comigo me dizendo que era feito com palha importada do Panamá daí o valor, se eu quisesse mais barato deveria procurar nos camelôs onde não faltam panamás do Paraguai. De início fiquei atacado com a forma com que falou, mas depois me baixou a ternura. Ele ainda brigou comigo porque não tinha lenço para experimentar o chapéu, antes de me conseguir um guardanapo para tirar o suor da testa. Gostei do cuidado com que manuseava os objetos. Ele os colocava em minha cabeça e não eu. Logo gostou de mim e me disse que muita gente compra panamás do Paraguai e vão às festas e fazem feio quando chega alguém com panamás do Panamá que logo se destacam. Terno. Fiquei com um e fiquei de voltar. Volto.
Estava velho o velho que me atendeu na chapelaria. Logo despedir-se-á da vida. Depois pode ser que fique sem lugar para comprar chapéus. É assim que o tempo se renova. O método é bom, mas de quando em vez dói.
Recebam um abraço melancólico de Aureo Augusto
domingo, 13 de fevereiro de 2011
FESTIVAL DE JAZZ público, privado, idealismo
A jovem mulher chegou na Unidade de Saúde da Família e pediu à coordenadora com voz suave se não havia alguma mesa que lhe pudesse emprestar, pois precisava expor seu artesanato uma vez que o festival de Jazz logo irá começar. Por acaso, entre uma tarefa e outra nas minhas atividades no posto, passei justo neste momento. A responsável pela unidade, explicou-lhe que, primeiro, as mesas eram necessárias ao serviço e segundo, ela não poderia emprestar um bem público para uso privado. Não houve rispidez, mas o rosto da mulher expressava surpresa, algo como uma frase assim: “Não acredito que você não vai me emprestar a mesa!”.
É bem fácil criticar os deputados, senadores, presidente e governadores pelo uso inadequado dos bens da república, mas na hora do que quero ou necessito (mais do que quero do que daquilo que necessito) nem me interrogo sobre o possível desvio ético. Os funcionários públicos ou privados muitas vezes arranjam desculpas para não comparecer ao serviço. Várias vezes já fui interpelado com solicitações de atestados para cobrir faltas ao serviço. Pessoas que vêm ao Vale do Capão para passar dois dias, mas que, tocados pela beleza do lugar, acabam por deixar-se demorar um pouco mais, procuram-me e algumas vezes até se dispõem a pagar uma consulta particular, com o intuito não de preservar a saúde, mas de preservar inatacável sua situação empregatícia. Alguns me trazem argumentos do tipo: “Mas todo mundo faz isso”, ou, “Pior é o que fazem os políticos”. Olho pasmo para eles. E não dou o atestado. Só o faço quando a razão é real. Alguns me dedicam olhares pouco amistosos com minha recusa.
Mas o fato que originou este texto foi o Festival de Jazz do Vale do Capão. Este belo evento tem origem em uma pessoa, Rowney Scott, conhecido aqui no Vale por Roninho. Conheci-o há muitos anos, ao embevecer-me escutando-o tocar saxofone e é uma destas pessoas às quais podemos reputar como “alma boa”. Roninho é uma alma boa. Desde há muito melhora a qualidade humana daqui com a sua presença, e, como músico de qualidade sonhou um festival movido pela qualidade. Sonhou e fez. Hoje, nas reuniões da população este evento é lembrado como algo a ser emulado. Para mim é alegria ímpar ver as senhoras do Capão, como D. Nadir, Beli, Araci, Gessy, até tarde da noite, após um dia de farto trabalho, assistindo (e francamente se deliciando) a uma música muito especial. Compartilhar com elas elogios a um grupo como Viola de Arame. Elogios muitos a um grupo que uniu percussão de alta qualidade com metais – eram umas 40 pessoas – mas que infelizmente não consegui pegar o nome. Excelente! Pensem, Jaques Morelenbaum no Vale do Capão! E Ivan Lins? Este fechou o evento e foi tanta a interação dele com o todo que foi este todo que não apenas o público desejou que não acabasse, como ele mesmo não conseguia se despedir, prolongando o show por muito mais do que o esperado, para a graça de todos.
As músicas, os sons e as palavras remetiam a um estado de paz e respeito ao ambiente, mas não apenas ao meio-ambiente natural, como também ao ambiente humano. Estou bem feliz com o que vi.
Venha no próximo e agora receba um abraço musical de Aureo Augusto
É bem fácil criticar os deputados, senadores, presidente e governadores pelo uso inadequado dos bens da república, mas na hora do que quero ou necessito (mais do que quero do que daquilo que necessito) nem me interrogo sobre o possível desvio ético. Os funcionários públicos ou privados muitas vezes arranjam desculpas para não comparecer ao serviço. Várias vezes já fui interpelado com solicitações de atestados para cobrir faltas ao serviço. Pessoas que vêm ao Vale do Capão para passar dois dias, mas que, tocados pela beleza do lugar, acabam por deixar-se demorar um pouco mais, procuram-me e algumas vezes até se dispõem a pagar uma consulta particular, com o intuito não de preservar a saúde, mas de preservar inatacável sua situação empregatícia. Alguns me trazem argumentos do tipo: “Mas todo mundo faz isso”, ou, “Pior é o que fazem os políticos”. Olho pasmo para eles. E não dou o atestado. Só o faço quando a razão é real. Alguns me dedicam olhares pouco amistosos com minha recusa.
Mas o fato que originou este texto foi o Festival de Jazz do Vale do Capão. Este belo evento tem origem em uma pessoa, Rowney Scott, conhecido aqui no Vale por Roninho. Conheci-o há muitos anos, ao embevecer-me escutando-o tocar saxofone e é uma destas pessoas às quais podemos reputar como “alma boa”. Roninho é uma alma boa. Desde há muito melhora a qualidade humana daqui com a sua presença, e, como músico de qualidade sonhou um festival movido pela qualidade. Sonhou e fez. Hoje, nas reuniões da população este evento é lembrado como algo a ser emulado. Para mim é alegria ímpar ver as senhoras do Capão, como D. Nadir, Beli, Araci, Gessy, até tarde da noite, após um dia de farto trabalho, assistindo (e francamente se deliciando) a uma música muito especial. Compartilhar com elas elogios a um grupo como Viola de Arame. Elogios muitos a um grupo que uniu percussão de alta qualidade com metais – eram umas 40 pessoas – mas que infelizmente não consegui pegar o nome. Excelente! Pensem, Jaques Morelenbaum no Vale do Capão! E Ivan Lins? Este fechou o evento e foi tanta a interação dele com o todo que foi este todo que não apenas o público desejou que não acabasse, como ele mesmo não conseguia se despedir, prolongando o show por muito mais do que o esperado, para a graça de todos.
As músicas, os sons e as palavras remetiam a um estado de paz e respeito ao ambiente, mas não apenas ao meio-ambiente natural, como também ao ambiente humano. Estou bem feliz com o que vi.
Venha no próximo e agora receba um abraço musical de Aureo Augusto
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
VARIEDADE, IDADE, ALIMENTAÇÃO
Escrevi este texto em julho de 2006, mas apesar do tempo, penso que vale partilhar:
A idosa senhora veio à consulta porque sua filha a trouxe, não porque realmente quisesse, já que não acreditava na possibilidade de cura. Para ela a vida havia perdido o sentido. Para que mais tempo aqui na Terra se para nada mais servia? Ela constatava que apenas dava trabalho aos parentes e isso era constrangedor. Sempre cuidara de si e da numerosa prole, agora era cuidada e via que os filhos (e, mais especificamente, a filha) já tinham muito trabalho, tanto que não via justiça em ela dar-lhes mais o que fazer. Não queria acabar, como sua própria mãe, em cima da cama, queixando-se e fenecendo aos poucos. Não queria essa decadência, mas sentia-se aniquilada (esta palavra não tem o mesmo significado que em outros lugares, para a gente daqui, quando uma planta fica murcha já está aniquilada e não necessariamente exterminada ou destruída). Murchara e por isso desejava a morte, o mais rapidamente possível e para tanto, rogava aos céus que tivesse doença rápida e mortal.
Aquela senhora tinha um grave problema, mas o seu problema não era o que saltava aos olhos. Não era a idade. O que estava por detrás de seu sofrimento era a rotina. No caso, a rotina alimentar.
Nós, seres humanos, com freqüência substituímos a alegria pela segurança e, a repetição dos hábitos nos dá uma sensação realmente agradável, conquanto falsa, de segurança. Enquanto a natureza investe pesadamente na variedade, buscamos a padronização pelo fato de que ela nos permite resultados mais rápidos e seguros em determinadas circunstâncias. Conquanto a padronização de hábitos possa ser útil (já imaginou se no trânsito cada um pudesse criar as próprias regras?), sua extensão para todos os aspectos da vida revela-se devastador.
Observo, particularmente nos idosos, uma forte tendência a todo dia comer a mesma coisa. O feijão feito em um dos dias da semana e depois requentado, além de ficar mais saboroso com cada cozimento novo, fica mais fácil de usar. O arroz pode ficar na geladeira. E a farinha é o santo tempero. O que não fica bom com farinha? Aquela senhora era adepta desta rotina. No decorrer da consulta, tratei de mostrar para ela que sua alimentação havia se tornado muito pobre. Ela não acreditou em mim, porque, como disse, “sempre comi assim”. O que não era verdade, e sei disso pelo testemunho da filha. A realidade é que sua comida foi aos poucos se estreitando. A gama de variedades foi se reduzindo. Ora, na natureza não encontramos um alimento completo, ou seja, que tenha tudo aquilo que necessitamos. Conseguimos algumas vitaminas em certos produtos, mas, basta buscar outros alimentos para complementar as nossas necessidades delas; as proteínas estão presentes em maior quantidade em alguns alimentos que em outros, e, muitas vezes, os aminoácidos que as constituem não são encontrados em quantidades adequadas em todos os alimentos gerando a necessidade de busca-los na diversidade alimentar. Um alimento pode até conter em si todas as vitaminas e minerais, porém as quantidades são insatisfatórias de alguns deles. Portanto variar é essencial. Por outro lado, é importante assinalar que na medida em que envelhecemos o nosso organismo vai perdendo a capacidade de absorver nutrientes. Daí, se para os jovens é necessário o consumo de uma variedade de alimentos para alcançar todos os nutrientes que necessitam, os idosos mais ainda carecem de variedade.
Por sorte a filha daquela senhora acreditou no que eu dizia e investiu na alimentação de sua mãe, apesar dos protestos dela. Dessa maneira, e com a ajuda emergencial de suplementos alimentares, a senhora me deu a alegria de, em uma consulta subseqüente, me informar que sua horta estava linda e que bastaria que eu passasse por lá para receber de presente os seus produtos. A vida mudou para ela. Uma nova alegria e uma sensação de rejuvenescimento. Alguns estudos mostram que certos casos de depressão e de dificuldades mentais das pessoas idosas decorrem da desnutrição provocada pelo estreitamento da variedade de alimentos ingeridos. Assim, o velho pode não estar broco, como se diz por aí, e sim desnutrido.
Recebam um idoso abraço de Aureo Augusto.
A idosa senhora veio à consulta porque sua filha a trouxe, não porque realmente quisesse, já que não acreditava na possibilidade de cura. Para ela a vida havia perdido o sentido. Para que mais tempo aqui na Terra se para nada mais servia? Ela constatava que apenas dava trabalho aos parentes e isso era constrangedor. Sempre cuidara de si e da numerosa prole, agora era cuidada e via que os filhos (e, mais especificamente, a filha) já tinham muito trabalho, tanto que não via justiça em ela dar-lhes mais o que fazer. Não queria acabar, como sua própria mãe, em cima da cama, queixando-se e fenecendo aos poucos. Não queria essa decadência, mas sentia-se aniquilada (esta palavra não tem o mesmo significado que em outros lugares, para a gente daqui, quando uma planta fica murcha já está aniquilada e não necessariamente exterminada ou destruída). Murchara e por isso desejava a morte, o mais rapidamente possível e para tanto, rogava aos céus que tivesse doença rápida e mortal.
Aquela senhora tinha um grave problema, mas o seu problema não era o que saltava aos olhos. Não era a idade. O que estava por detrás de seu sofrimento era a rotina. No caso, a rotina alimentar.
Nós, seres humanos, com freqüência substituímos a alegria pela segurança e, a repetição dos hábitos nos dá uma sensação realmente agradável, conquanto falsa, de segurança. Enquanto a natureza investe pesadamente na variedade, buscamos a padronização pelo fato de que ela nos permite resultados mais rápidos e seguros em determinadas circunstâncias. Conquanto a padronização de hábitos possa ser útil (já imaginou se no trânsito cada um pudesse criar as próprias regras?), sua extensão para todos os aspectos da vida revela-se devastador.
Observo, particularmente nos idosos, uma forte tendência a todo dia comer a mesma coisa. O feijão feito em um dos dias da semana e depois requentado, além de ficar mais saboroso com cada cozimento novo, fica mais fácil de usar. O arroz pode ficar na geladeira. E a farinha é o santo tempero. O que não fica bom com farinha? Aquela senhora era adepta desta rotina. No decorrer da consulta, tratei de mostrar para ela que sua alimentação havia se tornado muito pobre. Ela não acreditou em mim, porque, como disse, “sempre comi assim”. O que não era verdade, e sei disso pelo testemunho da filha. A realidade é que sua comida foi aos poucos se estreitando. A gama de variedades foi se reduzindo. Ora, na natureza não encontramos um alimento completo, ou seja, que tenha tudo aquilo que necessitamos. Conseguimos algumas vitaminas em certos produtos, mas, basta buscar outros alimentos para complementar as nossas necessidades delas; as proteínas estão presentes em maior quantidade em alguns alimentos que em outros, e, muitas vezes, os aminoácidos que as constituem não são encontrados em quantidades adequadas em todos os alimentos gerando a necessidade de busca-los na diversidade alimentar. Um alimento pode até conter em si todas as vitaminas e minerais, porém as quantidades são insatisfatórias de alguns deles. Portanto variar é essencial. Por outro lado, é importante assinalar que na medida em que envelhecemos o nosso organismo vai perdendo a capacidade de absorver nutrientes. Daí, se para os jovens é necessário o consumo de uma variedade de alimentos para alcançar todos os nutrientes que necessitam, os idosos mais ainda carecem de variedade.
Por sorte a filha daquela senhora acreditou no que eu dizia e investiu na alimentação de sua mãe, apesar dos protestos dela. Dessa maneira, e com a ajuda emergencial de suplementos alimentares, a senhora me deu a alegria de, em uma consulta subseqüente, me informar que sua horta estava linda e que bastaria que eu passasse por lá para receber de presente os seus produtos. A vida mudou para ela. Uma nova alegria e uma sensação de rejuvenescimento. Alguns estudos mostram que certos casos de depressão e de dificuldades mentais das pessoas idosas decorrem da desnutrição provocada pelo estreitamento da variedade de alimentos ingeridos. Assim, o velho pode não estar broco, como se diz por aí, e sim desnutrido.
Recebam um idoso abraço de Aureo Augusto.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
DIAS TRANQÜILOS e AGITOS
Já há um clima no Vale. A labuta da preparação para arrumar a casa antes da chegada das visitas. Acontece é coisa neste Capão. Nesta semana tivemos um encontro de Yoga, que foi bastante elogiado, agora nos próximos dias teremos o festival de Jazz que, se for metade do que foi no ano passado já será maravilhoso, mas com certeza será o dobro, porque os organizadores são pessoas cuidadosas e competentes. Depois teremos um encontro de artes do circo e no final de março outro encontro relacionado com o circo. Ninguém pode dizer que a vida no Vale do Capão é desprovida de atividades. Aqui neste lugar, há lugar para aquele que apenas quer contemplar, olhar as serras, o caminhar das nuvens, a competência do sol em construir cores na vegetação e nas rochas; há espaço para quem quer correr mundo, visitar os recorridos das montanhas, perscrutar suas fissuras, buracos, descobrir platôs, acompanhar rios, observar os locais em que a água se engruna, ver lá do alto, nos picos o movimento dos pássaros e divisar distante horizontes de serras, novas terras; há pouso também para quem se afeiçoou à cultura e se agrada com capoeira (2 grupos, Angola e Regional), artes circenses (temos inclusive escola de circo), coral, grupo de teatro, lugares para conversar sobre literatura, cinema etc. pois há restaurantes pensados para isso, com apresentação de cinema... Há muita coisa, às vezes dá dúvida quanto ao que fazer ou aonde ir, por muita opção que há.
Há ônus para os moradores desse movimento. Algumas vezes cansa a ida e vinda de motoboys, alguns visitantes são pessoas desagradáveis que deixam de respeitar os hábitos e a rotina local. Esquecem que todos despertamos cedo para trabalhar e fazem farra até muito tarde, com muito barulho e dessa maneira incomodam sobremaneira. Outros, que aqui aportam buscando a paz, trazem aparelhagem de som que mantêm no máximo volume ou resolvem gritar... Por sorte não passa de uma minoria, embora bastante incômoda.
Inda assim, conversava com uma senhora em um período de entressafra de atividades turísticas e disse pra ela que estavam bons aqueles dias tranqüilos. Ela fez um bico e disse que gostava do Vale do Capão cheio de gente, que para ela os tempos de antigamente eram uma “nojeira”, sem ter o que fazer nem nada pra olhar. Achei isso muito engraçado, pois não esperava que os idosos quisessem agitação.
Recebam um abraço agitado de Aureo Augusto
Há ônus para os moradores desse movimento. Algumas vezes cansa a ida e vinda de motoboys, alguns visitantes são pessoas desagradáveis que deixam de respeitar os hábitos e a rotina local. Esquecem que todos despertamos cedo para trabalhar e fazem farra até muito tarde, com muito barulho e dessa maneira incomodam sobremaneira. Outros, que aqui aportam buscando a paz, trazem aparelhagem de som que mantêm no máximo volume ou resolvem gritar... Por sorte não passa de uma minoria, embora bastante incômoda.
Inda assim, conversava com uma senhora em um período de entressafra de atividades turísticas e disse pra ela que estavam bons aqueles dias tranqüilos. Ela fez um bico e disse que gostava do Vale do Capão cheio de gente, que para ela os tempos de antigamente eram uma “nojeira”, sem ter o que fazer nem nada pra olhar. Achei isso muito engraçado, pois não esperava que os idosos quisessem agitação.
Recebam um abraço agitado de Aureo Augusto
Assinar:
Postagens (Atom)