Hoje me deu vontade de falar de algumas pessoas aqui do Vale que se destacam pelo seu esforço, vontade, inteligência. Vem-me à mente um Juceli. Ela se casou com Jucelino – engraçado que os nomes são quase iguais – e vive uma vida dura, com muito trabalho. Ele, pedreiro, labutou e labuta com barro, areia, tijolos e blocos. Juceli, incansável, ombro a ombro com o marido na labuta para amealhar os recursos que permitam oferecer a suas filhas a educação que merecem (e fazem por merecer). Quem chega na rua dos Brancos vai ver uma laje grande de mais de metro de altura com uma paisagem com o Morrão e uns mochileiros caminhando. A pintura foi feita por João Mendes, pintor autodidata daqui do Vale – volto a tratar dele daqui a pouco – e atrai a atenção para uma lanchonete simpática. É a lanchonete de Juceli, onde podemos comer iogurte, bolos, tortas doces e salgadas, pão integral e muitos etceteras. Quem vê o lugar não tem idéia de como começou Juceli. Vendia geladinho na rua, na feira e nem sempre vendia, mas insistia. Depois fez uma primeira barraca e uma segunda, onde sua filha mais velha, Jucilene, colocava sua produção artesanal para vender. Enquanto isso conseguiu fazer a atual lanchonete, trabalhando muito. São quatro as filhas e não desmerecem os trabalhos dos genitores:
Jucilene foi aprovada no vestibular para Engenharia Florestal em Erexim, no Rio Grande do Sul; mas ela optou por estudar a mesma carreira na Universidade Federal de Pelotas, também no Rio Grande do Sul, onde também foi aprovada. De malas prontas para ir morar em um lugar muito diferente da Bahia, mas feliz com as portas que se abrem. Ela já abriu outras portas, pois se formou em belas artes pela Universidade Federal da Bahia e enquanto estudou artes formou-se em Inglês pelo ACBEU e em Espanhol pela UFBa. A moça não é pra pouco!
Jucimara a que veio depois na lista de nascimentos, tem dois filhos e interessou-se pelo circo onde alcançou o posto de professora na escola de circo aqui do Vale do Capão. Agora foi aprovada para uma bolsa da FUNARTE de artes circences. Para o nordeste haviam apenas 3 vagas. A danada abocanhou uma delas e já está arrumando as malas para ir morar no Rio de Janeiro por 10 meses quando frequentará a Escola Nacional de Circo.
Girleide está matriculada no curso de Artes Plásticas da UFBa, grávida, deu uma parada para cumprir o desígnio que fez para si e logo retornará aos pincéis e livros.
Danúbia, a caçula, faz Engenharia de Pesca pela USRB em Cruz das Almas.
Que turma! O Vale do Capão tem produzido uma boa quantidade de estudantes que freqüentam ou freqüentaram a UFBa – e, registre-se, mesmo antes das cotas.
Pena que nem todos os jovens enveredem por estes caminhos, as moças demonstram mais interesse e vão em frente, já os rapazes, tendem a preferir abandonar a escola... Mas hoje não quero pensar nessa tristeza. Para fechar falo de um rapaz muito especial:
João Mendes, que citei acima. Ele é uma pessoa tranqüila e silenciosa. Quem passa por ele não percebe o que é. Por conta própria deu de estudar inglês e o resultado foi que já substituiu professor no ginásio local, em uma situação emergencial, e não fez feio, muito pelo contrário. Mas onde brilha mesmo é na pintura. Ele é um pintor de mão cheia. Seus quadros em pedra iluminam todo o Vale. Garimpeiros, paisagens etc. O legal é que está conseguindo reconhecimento, pois, por ocasião do Festival das Quaresmeiras que aconteceu aqui no Capão, ele vendeu bastante. E merece. Supera-se. Cresce sem parar. Tenho uma profunda admiração por este sujeito.
Por hoje fico com estes exemplos. São muitos. As pessoas especiais pululam neste lugar especial.
Recebam um abraço muito especial, Aureo Augusto.
EMOCIONANTE, DR. ÁUREO.
ResponderExcluirQue texto lindo e estimulador.
Em Cações, tem alguns jovens que pensam em progredir, através dos estudos.
Eu trouxe um afilhado meu de lá. Ele vai tirar o 2o. grau este ano e vai fazer um curso de Petróleo e Gás. Tem 16 irmãos e ele será o único a concluir os estudos.
A prima dele, tb minha acolhida, vai fazer faculdade de Serviço Social e ficará aqui em Salvador, em minha casa.
E tem uma meia dúzia de pessoas que conseguiram concluir uma faculdade e estão empregados lá.
Mas ainda tem muitos e muitos, soltos, andejantes, aprendendo o que não presta, se enveredando pelos caminhos tortuosos da droga.
Fico muito angustiada com isso mas tenho dado apoio a eles.
Dr. Áureo, eu estou criando lá um projeto. Será focado em reescrever a histórias deles. aliado a uma biblioteca e brinquedoteca. Espero realizar este sonho. Uma forma minha, de devolver àquele lugar lindo e paradisiaco, tantos momentos felizes lá.
Continue postando.
Abraços
Jussiara
Cara Jussiara, é triste pensar que ainda temos pessoas com 16 irmãos. Nossa! E mais triste é saber que ttos ficarão sem ter uma formação em um tipo de sociedade onde as oportunidades são poucas para quem não estuda.
ResponderExcluirPorém, ao mesmo tempo destas tristezas tem tb a alegria de saber que tem pessoas como vc que cuida dos demais.
Agradeço suas palavras e espero em breve receber boas notícias do seu projeto.
Meu projeto já está pronto dentro do meu coração.
ResponderExcluirEu sempre digo que a Deus me mostrou Cações, ainda qdo eu era uma menina, para que eu me doasse em amor,compaixão, acolhimento e eu tenho procurado obedecê-LO. É um longo caminho a percorrer e eu quero e preciso fazer esta jornada.
Com certeza, o senhor será uma de muitas pessoas que recberão notícias deste projeto.
Agradeço o carinho e o incentivo de suas palavras.
Fica com Deus!