sábado, 10 de julho de 2010

ROTINA E DISCIPLINA

Uma vez escutei Divaldo Franco afirmar em uma palestra que a “a rotina era a ferrugem da alma”. Fiquei absolutamente chocado com isso. Ainda mais eu que sou dado a esta ferrugem. Há algum tempo conversava com Sunna, minha filha, sobre a nossa tendência à rotina. Eu sou uma pessoa (e ela me seguiu os passos) a ‘obrigatoriezar’ as coisas, tornando-as “um saco”. Daí que quando descubro algo que me agrada, tenho a tendência a incluir aquilo em uma seqüência de outras tarefas do dia-a-dia. E isso é mortal. Isso é rotina. Isso é “ferrugem para a alma”. Nada há de bom que não seja com graça. Esta ‘obrigatorizaçao’ é fatal. Faz com que, quando não possamos (ou não devamos) por qualquer motivo fazer aquela coisa, nos dá a sensação de que algo errado estamos fazendo, que falta algo. Esta sensação levada a extremos é o Transtorno Obsessivo Compulsivo. A minha sorte é que sou avoado, o que me faz também perder de vista a obrigatoriedade.
No entanto, devemos entender que o organismo carece de certa rotina, ou melhor dito, de disciplina. Faz-se necessário que tenhamos hora para comer e para dormir, assim como para eliminar os excrementos. O corpo tem lá seus rituais e deles não se desapega, porque sabe que sem eles o seu funcionamento perderá qualidade. Porém, quando a disciplina não puder ser feita por qualquer impedimento não haverá nisso nenhum problema. Gosto muito de nadar todos os dias pela manhã, o que aqui no Vale do Capão é uma aventura deliciosa, já que há uma gostosa caminhada para chegar ao lugar ideal, sob o vento frio e com a paisagem envolta pela neblina. Quando saio da água e o meu corpo reage ao frio ao mesmo tempo atroz e agradável da água, e vem aquele calorzão delicioso que toma conta de mim, é uma sensação deveras agradável. Mas nem sempre é possível. Já aconteceu de estar fazendo um frio tão danado (já se registrou 6oC ao amanhecer) que simplesmente falta-me a coragem para entrar na água. Às vezes prefiro ir mais tarde, quando o frio se reduz. Como não tenho a obrigação (até eu consigo aprender com a vida!) de nadar todos os dias isso não me causa nenhum desconforto.
Carecemos de disciplinas. Queiramos ou não, somos reféns de uma alimentação saudável, de praticar atividade física regular freqüentemente e de outras coisas deliciosas como estas. Sem chegar a ponto de transformar tudo em rotina insossa – uma vez Sunna me disse que eu rotineiramente saio da rotina – devemos agir naquela linha divisória entre ter determinadas atividades regulares e estar aberto para a flexibilidade.
E aqui vai o meu rotineiro abraço para vocês. Aureo Augusto.

3 comentários:

  1. Caro Dr. Áureo

    Como sempre, os seus posts são, entre divertidos e sérios, deliciosos de serem lidos e relidos. PARABENS!

    Eu gosto de Divaldo Franco e o admiro demais.

    Eu penso que, quando ele fala da "rotina que enferruja", deve ser referindo-se a monotonia, mesmice, chatice, saquice. (de saco, sem vontade), rsrss.

    Eu adoro a rotina mas tenho pavor à monotonia e a mesmice. Eu me enquadro em seus pensamentos em relação o que deve ser rotina. Eu não conseguiria ser feliz, sem a minha gostosa e rotineiramente, rotina.

    Mas fujo da monotonia, da monocromia. Gosto de diversificar mas tudo dentro de parâmetros.

    Rotina, para mim, é ter o controle, nem que seja ilusório. Não gosto de me ver em "mãos alheias", sendo controlada. Gosto de estar sempre no timão da minha vida e para haver equilíbrio, eu preciso da rotina.

    Sou virginiana e uma característica deste signo, é ser detalhista e perfeccionista. Fico com a primeira opção mas fujo do perfeccionismo para não virar TOC. Aí seria rotina demais.

    Um abraço e continue postando.

    Jussiara

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  2. … viver é mesmo afinar um instrumento … se esticamos muito a corda ou a deixamos frouxa demais não ficamos afinados !!! Um abraço, Luciana.

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  3. Viver é afinar um instrumento. Gostei disso. Disse o mesmo com outras palavras Jussiara. Bem colocado. Rotina se bem pensamos é uma ordem natural, orgânica. Demais é sobra, como tudo demais.

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