terça-feira, 12 de outubro de 2010

CHEGADA!

CHEGADA
Já estamos no dia 12 de outubro. Estou em casa, no Vale do Capão, mas demorei a postar porque o computador deu bode e teve que ir para a oficina. Vivi algumas aventuras desde que cheguei, inclusive acompanhar meu pai ao hospital, onde foi internado, mas sentir o ar frio do Capão me confirma que da viagem e por melhor que seja a viagem, o melhor é a chegada. Vejamos o texto:
Viajar 6 horas em um avião não é graça. E as cadeiras da classe econômica são tão apertadas que mesmo alguém como eu, que não sou alto, é um sacrifício. É difícil se mover e as pernas começam a queixar-se da posição. Houve também outro fator que tornou a viagem mais difícil e que em alguma medida foi um acontecimento tragicômico. De quando em vez alguém expelia gases sumamente fedorentos. Todos ao redor mostravam-se constrangidos com o odor espantoso, exceto o casal à frente e uma família na frente à direita. Durante toda a viagem foi um clima de Primeira Guerra Mundial com gases tóxicos e trincheiras apertadas. Apesar de sua potência a origem dos petardos só foi descoberta quase no fim da viagem, porque uma criança inocentemente denunciou o pai (sentado à frente/direita) em alto e bom som, dizendo-lhe que ele estava podre. O constrangimento foi enorme e de tal monta que ninguém ousou criticar o pobre homem que não sabia onde por a cara enquanto timidamente dizia a criança para calar-se. Fora isso a viagem foi tranquila porque o avião nem tremia, com o clima perfeito, sem ventos, vácuos e outros sustos.
Havia um rapaz sentado um pouco atrás que estava nervoso. Não se levantou toda a viagem e em um momento em que lhe dirigi a palavra, tomou um susto. Quando chegou a hora de desembarcar ele ia pelos cantos, evitando o meio do corredor. Tinha, notei, um leve defeito em uma das pernas, que era mais curta, fato denunciado pelo caminhar. Na hora de passar pela aduana estava logo atrás dele e vi que ficou muito tenso. O funcionário recebeu seu passaporte e seu olhar mostrou desde logo que encontrou algo errado, muito errado. Saiu e consultou um companheiro. Depois telefonou e solicitou ao rapaz que aguardasse sentado em uma cadeira próxima. Então chegou a minha vez e assim passei adiante e não pude ver o desfecho da história.
Aliás, o aeroporto é lugar de histórias sem princípios e sem fins. As coisas ali só têm presente. Como foi o caso de outro acontecimento, ainda no aeroporto de Lisboa, na fila de embarque. Havia uma mulher de tez negra muito nervosa revirando a bolsa procurando algo. Um homem de pele clara, aparentemente seu marido, andava nervoso de um lado para outro enquanto ela perguntava repetidas vezes: “Onde eu deixei? Onde eu deixei?” Foi quando surgiu um garçom correndo e lhe entregou algumas passagens. Ela, ao receber os papéis, desabou num choro intenso, enquanto o homem procurava tranquiliza-la. Esqueci o caso, até que, uma vez embarcado, notei seu companheiro poucos passos atrás do lugar onde eu estava conversando com um casal. A conversa durou muito tempo, mas a moça do choro não estava presente. Então, em uma das minhas caminhadas pelo avião (para esticar as pernas e ativar a circulação) resolvi procurar aquela mulher. Mas não encontrei. Parece que não embarcou. Perguntei-me se seria mesmo a esposa dele, ou se embarcara em outro vôo. Nunca saberei.
Porém se pensamos bem, todas as histórias são assim. O princípio mesmo, nunca saberemos; tampouco o final. Podemos captar o princípio provisório: Pedrinho caiu da árvore, em um dia de chuva escorregou no galho limoso. Na sequência quebrou o braço; teve que ir ao hospital e finalmente ostentava orgulhoso entre os colegas da escola o branco do gesso a ser preenchido pelas assinaturas dos companheiros. Princípio, meio e fim. Porém Pedrinho era antes disso, havia um princípio anterior e é e será, ou seja, terá uma história depois deste acontecimento; a anterioridade no tempo pode ser alcançada em um óvulo unindo-se a um espermatozóide, mas antes disso haviam moléculas e átomos ou, almas que queriam frequentar a Terra; da mesma forma, seu futuro sempre se dilatará no tempo. A diferença para o aeroporto é que aqui o mais das vezes, não temos nem idéia do que ocorreu pouco antes ou acontecerá daqui a pouco.
Voltei!
Recebam um abraço carinhoso de Aureo Augusto, recém chegado.

4 comentários:

  1. Oi Aureo,
    Que bom que vcs. estão de volta ao querido e amado Vale do Capão.
    Você tem toda a razão, chegar é muito melhor... É uma sensação de acolhimento e pertencimento e isto faz um bem enorme. Eu adoro voltar para o lugar que foi escolhido por mim. Acho que a alma se enche de alegria e agradecimento.
    Abraços p/ Cybele.
    A amiga,
    Angela

    ResponderExcluir
  2. Angela querida,
    Hoje, com tristeza, levei Cybele ao aeroporto para uma viagem a trabalho. Ela nem chegou a assentar o prazer do retorno. Mas procura manter o moral elevado pq pensa no bem que seu trabalho traz. Qto a mim, estou aqui vendo e ouvindo cada coisa deste lugar que amo.
    Abração

    ResponderExcluir
  3. Bem vindo á sua e nossa terra,

    paulo figueiredo e liane

    ResponderExcluir
  4. Grato amigos Paulo e Liane. É bom sentir o cheiro da terra da gente!

    ResponderExcluir