Hoje passei por uma experiência inesperada: Fui fazer algumas imagens para a emissora de televisão que está prestes a ser inaugurada no Vale do Capão. Imagine! No Vale do Capão! Nesse fim de mundo (que prefiro chamar de princípio do mundo). O Vale é um lugar um tanto remoto; tanto é assim que a estrada chega aqui e daqui não vai pra lugar nenhum. Se você quiser seguir adiante terá que andar. Quando aqui cheguei e comentava com as pessoas que um dia este lugar seria conhecido no mundo, e que atrairia muitas pessoas, o povo ria na e da minha cara. Ninguém acreditava. O tempo passou e olha só. Até televisão vamos ter. Já temos uma rádio, devidamente regularizada, que é um sucesso enorme entre os meus vizinhos. Neste momento está parada por causa de uma pane e as pessoas se lamentam bastante por isso. E logo mais, no dia 21 de dezembro teremos a inauguração de uma televisão a ser acessada via internet. Por isso fui fazer as ditas imagens. Não é uma televisão igual às outras e por ser veiculada na net terá suas peculiaridades. As pessoas que quiserem acessar clicam sobre o programa, ou os programas e os assistem. Falas curtas sobre assuntos de interesse geral em saúde são o que vou fazer e também rapidíssimas entrevistas com os moradores. Estou todo feliz com essa nova onda aqui no Capão. Ô lugarzinho bom de viver. Aqui temos as vantagens do viver no campo, com uma paisagem inigualável, tranqüilidade, beleza, pássaros cantando, rios e cachoeiras e atividades que habitualmente não são comuns nos lugarejos camponeses (tais como circo, rádio, aulas de dança do ventre, capoeira, pilates, massagens, internet, drenagem linfática e, agora televisão). Há um ônus, não há dúvida. Embora as visitas em geral sejam de pessoas muito legais, às vezes aparecem umas pessoas que são desagradáveis. O barulho das motos também tem sido um incômodo. As drogas que estão alcançando todo o interior da Bahia, não deixaram de visitar o vale o que me causa muita tristeza. Mas agora não quero tocar nas tristezas e sim na alegria. E, além da televisão tive uma alegria gostosa ao chegar em casa. Um casal de pica-paus estava conversando animadamente com suas imagens no vidro da oficina. Lindos! Depois pensei que talvez estivessem brigando (tenho visto garrinchas, bem-te-vis e outros nestes entreveros com os seus reflexos nas janelas) e por isso tapei o vidro. Fiz isso depois que um deles começou a bicar o vidro com aquele jeito de metralhadora dos pica-paus. Junto deles, como se estivesse curioseando, um sofrê mostrava-se em toda a sua beleza. Agora, uns pássaros semelhantes ao sabiá, que o povo aqui chama de ‘miado-do-gato’ está saltando de galho em galho bem na minha frente. Cigarras fazem um estardalhaço e motocicletas anunciam a juventude em seu dorso.
Gosto desta mistura de ontem com amanhã que acontece por aqui.
Recebam um abraço de Aureo Augusto.
ôpa!!! Inauguração da TV dia 21 de Dezembro?! Acho q vou dar um pulinho no vale nas proximidades da data!!! Adoro uma tecnologia!! heheh!
ResponderExcluirEmbora eu seja um bocó em termos de tecnologia, tb sou vidrado. Não tenho esta relação tranquila que vcs jovens têm. Para nós, mais velhos, a tecnologia é algo frágil e por isso pode quebrar a qualquer momento e assustador, pois pode romper as realidades assimiladas. Para vcs é mais ou menos assim: "quebrou? ôpa, que legal, vamos consertar!". E as realidades assimiladas ainda estão por ser assimiladas entre os jovens (incluo aqui os jovens de espírito) de modo que nada ameaça.
ResponderExcluirQue legal essa historia de rádio e tv no Vale. Minha esposa trabalha com jovens comunicadores - geralmente de escolas de bairros de salvador - sendo que a ferramenta que ela utiliza, geralmente, com eles é o radio. É muito legal o troço, o resultado na escola é sensacional. De verdade, é uma revolução nas cabeças dos garotos. Fico encantado ouvindo os programas que eles fazem. A garotada sai do ostracismo escolar e tornam-se atores, sujeitos, que ouvem e serão ouvidos. Acho que é um pouco da repaginada que a escola espera nestes novos tempos.
ResponderExcluirAdemais, sinto um pouco de nostalgia quando penso na fisionomia do Vale. Lembro-me do telefone publico que todos usavam, da telefonista que anotava os recados para toda a comunidade. Olha, penso que isso humanizava o lugar. De fato, esse encanto pode acontecer comigo por isso ser diferente do que vivo no dia a dia urbano, soteropolitano. Mas fico feliz com os que ai estão e que desfrutam destas ferramentas maravilhosas. Talvez isso seja um estímulo para irmos além da estrada com fim do Capão. Irmos para além do BOMBA, encontrarmo-nos na Angélica, na Purificação, nos Gerais, no Pati...
Abraços carinhosos
Querido amigo Diogo,
ResponderExcluirO interessante é conversar com o povo mais velho e lhe garanto que eles não sentem saudades do passado que era excessivamente duro. A tecnologia é maravilhosa. O uso é que deve ser humanizado. Aqui tb temos um rádio que foi feito por um nativo, Cosme, um rapaz mto legal. É uma coisa mto importante para nós. Nesse momento está quebrada e enquanto ele espera a peça de Salvador, todos se queixam.
O legal de viver aqui (aliás, em Salvador tem o mar que é uma vantagem) é que o rio está ali, ou melhor, aqui pertinho, bem como as cachoeiras, os Gerais, as montanhas só pra olhar...
Um abração,
Aureo Augusto
Oi Aureo,
ResponderExcluirFiquei com uma saudade danada de caminhar pelas estradas do Capao, olhar para todos os lados e ver aquele verde maravilhoso, ouvir os passaros cantando e quem sabe dar um mergulho nas aguas cristalinas das cachoeiras.
Por aqui gracas a Deus que chegou o inverno e temos um privilegio raro por essas bandas que eh ouvir io canto dos passaros que migram de regioes mais frias e vem nos alegrar aqui nesses confins.
Temos aproveitado o tempo bom para fazer passeios com a familia. Se Deus quiser esse ano pretendo levar a familia para acampar num fim de semana. Dizem por aqui que passar uma noite e acordar no deserto eh muito bom. Pode ser, mas nada como o Capao.
Um forte abraco,
Ribamar
José Neto, o céu do Capão à noite é incrível, com as estrelas tocando-se umas às outras apertadas de ttas que são. Mas acredito que o céu do deserto não deve ser menos repleto de estrelas. Vá mesmo com sua família. Ninguém vai se esquecer disso.
ResponderExcluirUm abração para a turma do Kwait.
Querido Aureo,
ResponderExcluirVoce sempre olhando tudo pelo lado bom, falando de coisas alegres e alegrando todo mundo.
Um dia destes eu acordei reclamando destes pica paus que nesta época vem todas as manhãs, antes das seis picar na janela do meu quarto fazendo aquele barulho chato na hora mais gostosa do meu sono.Aí me dei conta de como era mais gostoso acordar assim do que com os barulhos de uma cidade grande e acabei rindo de mim mesma e me sentindo muito feliz por ser acordada deste jeito.Venham pica paus que eu prometo não xingar voces mais...:-)
Um grande abraço.
Da amiga e vizinha do vale.
Silvia
Essa foi demais, Silvia! Ainda bem que se deu conta a tempo. Vc é uma figura.
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