terça-feira, 18 de janeiro de 2011

MORTE e VIDA

Neste exato momento (11horas) faleceu Dona Maria. Fui vê-la há alguns dias e não estava nada bem; acamada desde algum tempo, pouco se relacionava com o mundo, ensimesmando-se cada vez mais em um outro mundo que seu olhar distante percorria. Fiz algumas recomendações e juntamente com a família discutimos a conveniência de uma internação. Todos fomos do parecer que com 102 anos (4 a mais do que a idade registrada nos documentos) e evidentemente no final da vida, não seria bom para ela nem para os seus fosse internada. Agora, 15 dias depois voltaram a me chamar. Vinha conservando-se tranqüila, comendo pouquinho, fazendo pouco contato; esta noite começou a respirar com dificuldade. Examinei-a e comentei com os familiares que estava muito próximo o momento da despedida. Como tinha dificuldade de comer, decidi colocar um soro na veia até para facilitar o acesso a alguma medicação. Saí para buscar e logo a nora veio me pedir que voltasse, pois “parece que acabou”. Voltei examinei e acabou.
A filha segurava a mão de D. Maria entre as suas fechando-a ao redor de uma vela acesa. Ela sabia que chegara o momento, mas quando confirmei, dobrou-se sobre si mesma em um esgar de dor. Chorou alto. Toquei-lhe o ombro. Seguiu em seu choro, agora silencioso. Fiz uma oração silenciosa. Abracei os demais. A filha de pronto agradeceu à mãe por tudo, por tantas coisas, pela dedicação e pediu perdão por algo que tenha feito de mal a ela. Depois voltou a agradecer e disse o quanto ela foi uma boa mãe. Os demais estavam em silêncio. Retirei-me. Na porta, a rua está sendo calçada. Chamei o operário e lhe disse que logo teríamos uma romaria ali, pois se trata de uma senhora que viu várias gerações, madrinha de muitos meninos que hoje são homens e meninas que hoje são mulheres, amiga de tantas e por aí vai. Disse que havia de rejuntar logo os paralelepípedos para não perder seu trabalho. Logo se moveu e enquanto escrevo, ele rejunta. O mundo segue com suas dores e seus trabalhos... A serra verde e o céu azul, o vento de doce olor me lembra que as alegrias estão a par dos acontecimentos tristes e a dita permanece ditando a vida enquanto há vida.
Recebam um abraço em paz de Aureo Augusto

4 comentários:

  1. Ela estará sempre nos nossos corações. Obrigada por tudo!

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  2. OH! querida,
    Há pouco passei por algo semelhante ao que vc está vivendo. E realmente a grande coisa é saber que aquele(a) que se foi está sempre em nossos corações.

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