Neste exato momento (11horas) faleceu Dona Maria. Fui vê-la há alguns dias e não estava nada bem; acamada desde algum tempo, pouco se relacionava com o mundo, ensimesmando-se cada vez mais em um outro mundo que seu olhar distante percorria. Fiz algumas recomendações e juntamente com a família discutimos a conveniência de uma internação. Todos fomos do parecer que com 102 anos (4 a mais do que a idade registrada nos documentos) e evidentemente no final da vida, não seria bom para ela nem para os seus fosse internada. Agora, 15 dias depois voltaram a me chamar. Vinha conservando-se tranqüila, comendo pouquinho, fazendo pouco contato; esta noite começou a respirar com dificuldade. Examinei-a e comentei com os familiares que estava muito próximo o momento da despedida. Como tinha dificuldade de comer, decidi colocar um soro na veia até para facilitar o acesso a alguma medicação. Saí para buscar e logo a nora veio me pedir que voltasse, pois “parece que acabou”. Voltei examinei e acabou.
A filha segurava a mão de D. Maria entre as suas fechando-a ao redor de uma vela acesa. Ela sabia que chegara o momento, mas quando confirmei, dobrou-se sobre si mesma em um esgar de dor. Chorou alto. Toquei-lhe o ombro. Seguiu em seu choro, agora silencioso. Fiz uma oração silenciosa. Abracei os demais. A filha de pronto agradeceu à mãe por tudo, por tantas coisas, pela dedicação e pediu perdão por algo que tenha feito de mal a ela. Depois voltou a agradecer e disse o quanto ela foi uma boa mãe. Os demais estavam em silêncio. Retirei-me. Na porta, a rua está sendo calçada. Chamei o operário e lhe disse que logo teríamos uma romaria ali, pois se trata de uma senhora que viu várias gerações, madrinha de muitos meninos que hoje são homens e meninas que hoje são mulheres, amiga de tantas e por aí vai. Disse que havia de rejuntar logo os paralelepípedos para não perder seu trabalho. Logo se moveu e enquanto escrevo, ele rejunta. O mundo segue com suas dores e seus trabalhos... A serra verde e o céu azul, o vento de doce olor me lembra que as alegrias estão a par dos acontecimentos tristes e a dita permanece ditando a vida enquanto há vida.
Recebam um abraço em paz de Aureo Augusto
Ela estará sempre nos nossos corações. Obrigada por tudo!
ResponderExcluirOH! querida,
ResponderExcluirHá pouco passei por algo semelhante ao que vc está vivendo. E realmente a grande coisa é saber que aquele(a) que se foi está sempre em nossos corações.
Caramba!!
ResponderExcluirCaramba!?
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