As jararacas são cobras muito tranquilas. Pergunto-me se tal tranquilidade decorre da certeza que lhe traz a poderosa peçonha. Parece-me que as cobras não peçonhentas costumam ser mais agressivas, ou nervosas. Hoje Diu estava roçando aqui em casa com uma destas máquinas modernas com dois fiozinhos que cortam tudo bem rápido e barulhento. De repente ele parou o serviço e me chamou porque se preocupou com a possibilidade de haver ferido uma serpente. Diu é um jovem nativo muito agradável. Capoeirista, jardineiro, pedreiro, tudo que faz, faz direito. Também no circo faz malabarismo, contorcionismo e ensina às crianças. É uma pessoa bem especial. Tem cuidado com a natureza e não lhe agrada ferir animais. Daí que me chamou para ver a cobra. Ao chegar ele me disse que ela estava um pouco nervosa, mas notei que não se colocara em posição de dar o bote. Semiescondida pelas folhas divisava-se parte do rabo e a cabeça com a língua bífida experimentando o ar. Aproximei-me e lhe fiz um pouco de cafuné. Ficou bem tranquila e pude pega-la logo abaixo da cabeça. Então levei para bem longe no mato para que não corresse o risco de ferir ou ser ferida por gente humana. Quando a joguei a certa distância ali ficou bem tranquila observando e lambendo o vento. As jararacas são cobras tranquilas.
Há muito tempo caminhando pelo mato com um amigo encontrei uma serpe descansando nos galhos de um arbusto. Trazia comigo minha faca que é bem pesada. Comentei com ele que poderia matar a cobra com facilidade, mas que não era esta a minha intenção já que não convém matar ninguém. Seguimos viagem. No dia seguinte fui limpar umas bananeiras e em um certo momento alguém me alertou que estava pisando em uma jararaca. O pobre animal fazia um tremendo esforço para escapar, mas não fez menção de me morder. Comentei com o mesmo amigo que estava comigo no dia anterior, que naquele então eu havia tido a vida de uma cobra em minhas mãos, mas agora uma cobra me havia poupado. Coincidência. Será?
Gosto dos animais, embora não tenha prazer em cria-los. Agrada-me velos soltos, pelo mundo, cuidando de si. Tenho especial apreço pelas cobras que me parecem animais sumamente interessantes e tenho notado que têm cada uma suas próprias maneiras e personalidades. Têm seu jeito. Algumas orgulhosas, outras exalam um poder (como as cascavéis). A cainana é bem nervosinha, aproximar-se dela é difícil e até mesmo é assustadiça. A cobra verde não peçonhenta se aborrece fácil e a cabeça de capanga tem um certo orgulho da fama. Há poucos dias dei de cara com uma jararaca tranquilamente nos degraus da escada dentro de casa. Por sorte acendi a luz (algumas vezes gosto de andar no escuro como exercício neuróbico) e dei com ela que ficou muito agoniada a pobre ao ser pilhada na casa dos outros. Tão agoniada que ficou difícil pegar ela, mas acabei por conseguir e a deixei em local seguro.
Bom, não pensem que o Capão é particularmente rico em cobras. Na verdade aparecem poucas aqui em casa. A que mais aparece é uma cainana, que não é venenosa e tem o costume de comer outras cobras. Hoje quis partilhar estas notícias com vocês por causa da jararaca de Diu.
Recebam um abraço serpentiforme de Aureo Augusto em 8/12/11.
Aureo meu amigo muito obrigado por partilhar esses acontecimentos aqui conosco. Onde quer que agente esteja podemos compartilhar um pouquinho da vida no Vale. Muito legal
ResponderExcluirOi Aureo,
ResponderExcluirTudo bem? Muito tempo que não comento os seus escritos, mas esta da Jararaca não dava para deixar passar.
Confesso, que tenho um medo danado de cobras, e fiquei admirada da sua intimidade com elas.
Apesar do medo, concordo com você no sentido de que são animais fascinantes e de personalidade singular.
E quanto a sua pergunta, sobre a cobra ter lhe poupado, no dia que você pisou nela, acredito que os animais sabem quem verdadeiramente os respeitam, é uma questão energética.
Um abraço.
Para mim, meus amigos,é uma grande alegria partilhar as coisas que se passar por este Vale tão bonito e interessante. Minha vida não é nada aborrecida com tanta coisa que acontece.
ResponderExcluirMecka, vc tem razão, os animais percebem. As serpentes venenosas, por exemplo, têm uma estrutura no rosto que capta a temperatura. Qdo ficamos tensos nossa temperatura sobe. Isso sem falar em outras formas de percepção que eles têm.
abração procês.
Estou aplicando o soro anti-ofídico neste post..rsrssrr
ResponderExcluirUn dia tomé el sendero que conecta Capao con Lencois. En el medio del camino, ya cruzado el río, se formaron unas negras nubes y comenzó a caer fuerte la lluvia. Miré sobre las paredes rocosas de las montañas y divisé una pequeña toca que podría resguardarme. Subí y me quede sentado sobre una piedra observando el magnífico paisaje. No se en que momento me di cuenta que una serpiente coral avanzaba despacio pegada a mi pie derecho. Yo me quedé inmóvil. Lento, sin ninguna prisa, ella rozó mi sandalia hecha de caucho de neumático y siguió su camino, impertérrita y magnífica.
ResponderExcluirAhí supe que la muerte es de color rojo, blanco y negro.
Caro Alcoholado, tengo la certeza de que nunca te olvidarás de este momento. La coral es una serpiente muy especial. Tiene unas maneras distintas. Me gusta harto.
ResponderExcluirMenos mal que tenemos el suero de la Jussiara (rsrsrs)
besos
Tudo bem em respeitar, mas cafuné em jararaca?
ResponderExcluirQuando eu crescer quero ser como o Áureo, por enquanto fico perto da Jussiara. Rerrerré!
_Abraço de mangusto.
KKKKKKKKKK
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ResponderExcluirBravoooo!Adorooo passar por aqui e ler os seus "causos" e absorver conhecimento.Tô de olhooo,rsrsrs bjus!
ResponderExcluirÁureo, eu conheço o vale do capão que é lindíssimo. Mas, essa presença de tantas cobras me deixou numa inveja de você, que além de morar num lugar desse ainda recebe visitas tão interessantes. Amei seu blog......
ResponderExcluirBjooos...
Veja só Elisânia, aqui na verdade não tem tta cobra assim. Só uma que outra.
ResponderExcluirTaiane, volte sempre pois sempre teremos novos causos.
abração