segunda-feira, 4 de março de 2013

CAMINHANDO PARA O TRABALHO


Nem sempre posso, pois todos os dias pela manhã tenho várias tarefas que interessam ao dia-a-dia de um “dono de casa”. Jogar o lixo orgânico na composteira, tomar banho de rio, rachar lenha, preparar o desjejum e come-lo, ordenar o que precisa levar ao trabalho etc. Por isso nem todos os dias posso ir a pé para o trabalho. Hoje fiz isso.

A caminhada hoje começou logo de cara com um sabiá pousado numa estaca na porta do consultório. Feliz cantava e não se assustou comigo. A ave foi o prenúncio de um agradável passeio. Caminho de pés descalços, o que sempre é tema de numerosas piadas pelo meu caminho, o que mais ainda me alegra as manhãs. A cada passo cruzo com um dos meus tantos vizinhos e sempre trocamos algumas palavras desejando bom dia, informando alguma coisa necessária e, principalmente, rindo. Sou abençoado com o riso e a alegria dos meus vizinhos!

À chegada ao posto, as pessoas que ali estavam já me saudaram comentando o nu dos pés, rindo do nu de minh’alma naquele momento de gloriosa tranquilidade. Tenho uma sorte e tanto por haver escolhido morar neste lugar. Sim. Muitas dificuldades aconteceram. Morar no campo (sem ser camponês, ou mesmo sendo) traz desafios significativos; até porque o silêncio pode ser insuportável. Quanto mais silêncio fora, mais nos ensurdecemos com o barulho interno. Acredito que é por isso que tantos que aqui vêm a passear em posse da paz que supostamente encontrariam aqui, acabam se envolvendo em farras, cervejadas e, tantas vezes, deixam o som bem alto em seus carros. Parece-me que visam abafar suas ruidosas almas, ansiando serem ouvidas.

Há um silêncio no camponês. Um não pensar. Sei que isso está mudando e os jovens daqui não são como seus pais. Para o bem e para o mal. Hoje já não há como trata-los como quase escravos, como o foi nos tempos em que aqui cheguei. Têm mais vontade, mais desejos e o dom de tratar de lutar para conseguir fazer valer seus direitos e até mais. O egoísmo existe em maior proporção, até como sequela (indesejada, mas comum) da construção de uma pessoalidade. Por isso aquele silêncio já não é tão disseminado como quando aqui cheguei. Planos são elaborados, ideias. O mundo gira mais veloz e as coisas adquirem uma dinâmica mais rápida, mutável e estranhamente livre. Todo mundo pensa muito mais e externamente isso se manifesta pela nata de ruídos que pairam na superfície dos acontecimentos. Antigamente, contam os mais velhos, era comum escutar desde certos pontos do vale, o barulho das festas em Palmeiras. Hoje isso é impossível. Agora temos nossos próprios barulhos e os maiores não são externos. 

Talvez as pessoas do Vale do Capão venham a perder uma preciosidade inusitada: o silêncio. 

recebam um abraço silencioso de Aureo Augusto.

6 comentários:

  1. Silêncio é bênção, é dádiva... da nossa própria alma. Palavras há, porém, necessárias, e inesquecíveis. E que não quebram o silêncio.
    Também eu, embora na cidade grande, caminho para o meu trabalho, diariamente. Com um barulho ensurdecedor à volta.
    Ana Liése.

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  2. Eh!Ana, prazer te "ver" por aqui!
    Nossa, em Salvador parece que o barulho é a norma, não apenas o tráfego, mas os rádios...
    tem razão silêncio e palavra são dádivas.
    bjs

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  3. Desde ontem estou aqui em Cações. Não temos tanto silêncio no verão mas ainda não passa da alaridos, folguedos joviais, tirando o período do Carnaval aonde quase todos nós, soltamos a franga.

    Mas hoje pela manhã, após meus afazeres domésticos...rsrrsr, eu me fiz ao mar, com marido. Meu Deus. Não pude deixar de orar e implorar pela sustentabilidade e preservação deste lugar lindo e encoberto de natureza, ainda.

    E o silÊncio se fez ouvir. E eu ouvi o silêncio. A paz em seu estado natural.

    Amei o dia de hoje. Um presente da Mamãe Natureza, para mim.

    E suas palavras, como sempre, sábias.

    Abraços, amigo Aureo

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  4. Vou sair agora mesmo para tomar um banho de rio e sentir o que vc sentiu!

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    1. kkkkkkk e aí, tomou o banho de rio? Sentiu? rsrss....

      Abraços, caro amigo.

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  5. Uau! foi ótimo. Fui ao poço do Olavo e dei caídas de cima de uma árvore. Descansei entre as pedras, admirei o mundo e me diverti com os gritos de umas crianças que chegaram depois.

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