Há alguns dias atendi a uma moça aqui do Vale do Capão que
tinha um problema de saúde. Pesquisou na internet sobre o que sentia e isso
tornou a consulta muito mais instigante e produtiva. Este é um dos motivos
pelos quais acho maravilhosa este instrumento de conhecimento. Eu mesmo gosto
de pesquisar na net, embora ainda engatinho na tecnologia.
No entanto, outra pessoa veio apavorada porque apresentava
um sintoma relacionado a um problema de pouca monta, mas que na net ela
encontrou associada a uma doença bastante grave e mortal. O susto foi resolvido
rapidamente quando demonstrei que o sintoma era afim com algo superficial e de
fácil solução.
O segundo exemplo não é em si um problema só da internet já
que mal entendidos são disseminados em qualquer dos inúmeros meios (mídias)
comunicativos. Até no bate-papo entre amigos isso acontece. Mas a internet,
talvez por sua disseminação, pode espalhar absurdos como nenhum outro meio e
isso me faz pensar até porque recebo vários e-mails com pedidos de confirmação
do que está posto. Uns exemplos e comentários:
Tem um afirmando que o limão é 300mil vezes mais potente que
a quimioterapia contra câncer. Aliás, outro substitui o limão pela graviola. Mas,
em que pese a troca, o absurdo é o mesmo. Conquanto o limão e a graviola sejam
alimentos maravilhosos, dotados de alto valor nutracêutico, NÃO devem ser
comparados à quimioterapia anticancerígena e tampouco matam a célula com a
doença. O e-mail sugere que comer estas frutas equivale a ir ao hospital,
sofrer internação e receber na veia determinada quantidade de uma substância que,
uma vez no corpo deverá alcançar as células cancerígenas e eliminá-las com
maior ou menor sucesso, conforme vários fatores. Ora, não é essa a função da
alimentação, cujo papel principal é fortalecer o corpo para que ele se resolva.
Por outro lado, ainda que o limão e a graviola contenham substâncias que
ataquem, enfraqueçam ou mesmo matem, células cancerígenas, são em pequena
quantidade; tão pequena que para este fim, seria incapaz de ação efetiva. Ademais,
cito Paracelso: “A diferença entre remédio e veneno está na dose”. Os quimioterápicos
são venenos que matam primeiro as células doentes (mais frágeis), mas que
agridem também as células normais (mais resistentes). Tem que ser aplicado em
uma dose que mate o que se quer matar, mas não mate o que se quer vivo. Atentemos
para o fato que se o limão ou a graviola tivessem um veneno tão incrivelmente
potente, pobre de quem come estas frutas. No entanto, de tudo comentado, o mais
importante é que estas frutas NÃO têm potência anticancerígena comparável à
quimioterapia e a IRRESPONSABILIDADE veiculada pela mensagem é que incautos
podem ser estimulados a parar tratamentos e sofrer por isso. Registro que o consumo
regular destas frutas representa um dos meios de prevenir e contribuir para a
cura do câncer. Mas mensagens irresponsáveis como estas só afastam os
estudiosos da fitoterapia e outras práticas terapêuticas naturais.
Há outra postagem que diz que cebola aprisiona a bactéria da
gripe. Começa que gripe não está associada a bactéria e sim a vírus. Aliás, os
vírus não são vistos em microscópios comuns, como diz a mensagem.
Sempre fico surpreso com a propensão de um número
significativo de internautas a reenviar informações sem verificar primeiro se
são verdadeiras ou úteis. Alguns ainda dizem que estão repassando sem
verificar; ora, se não verificou não passe. Muita coisa ruim e prejudicial tem
sido veiculada porque nós, honestos internautas, deixamos de ver com olhos
críticos.
Mas o que mais me surpreende é ver como pessoas usam seu
tempo construindo e divulgando apresentações, algumas delas bem feitas, que
levam no mínimo à desinformação e que podem ser muito prejudiciais aos demais. Que
tipo de gente é essa?
Recebam um abraço intrigado de Aureo Augusto.
É isso mesmo, Áureo, verdadeira característica de internauta:
ResponderExcluirQuer repassar tudo que recebe, sem checar as fontes.
Já cometi essa barbaridade - felizmente raras vezes -, mas é
uma propensão a se reprimir.
Por isso já não dou tanta atenção aos "milagrosos" da vez, que
se sucedem interminavelmente. Foi o caso do limão, da graviola,
do vinho, da linhaça, da chia, do alho... Realmente, lista sem fim.
Claro que estes elementos têm seus méritos, mas vêm com
exageros dignos de Trancoso, Tartarin, Munchausen, João Grilo
ou Pantaleão Pereira Peixoto.
Também há o caso inverso: Mensagens que demonizam de tudo,
desde a pasta de dentes ao anel de noivado.
Estas parecem ter menos crédito.
Mas a regra permanece: Não acreditar sem checar as fontes.
"Nem tudo que reluz é ouro", é ensino que vem de longe.
Abraço incrédulo.