O Vale do Capão tem atraído cada vez mais turistas, o que
muito me agrada já que isso não apenas dinamiza a economia local como contribui
para que os moradores ampliem o seu já alto carinho pelas belezas naturais
daqui. Eu gosto de conversar com o pessoal que chega pra visitar este lugar e
estas pessoas tão hospitaleiras, no entanto tem alguns turistas que são excessivamente
folgados.
Ontem cheguei a casa à tarde e havia um carro que entrou no
lugar onde eu moro e parou junto a minha casa, bloqueando o acesso a minha
garagem. Era um carro com placa de São Paulo. De início pensei que fosse algum
amigo meu que chegou sem avisar (coisa rara, pois meus amigos têm a decência de
avisar quando vêm) e saiu pra dar uma volta enquanto me esperava. Esperei um
pouco e fui pintar. Pena que me concentrei demais no trabalho e não vi quando
saíram, pois desejava comentar com eles o quanto foram invasivos e
desconsiderados.
Com certeza eles desejam ser bem recebidos pelos moradores
daqui, querem sorrisos e hospitalidade como todos os turistas, mas esquecem de
que “relacionamentos” são vias de mão dupla onde todos devem dar a sua
contribuição.
E vocês pensam que esta é a primeira vez que acontece isso?
Não. E não é só comigo. Vários moradores se queixam disso. Dinha, vizinha que
mora depois da ponte comentou que as pessoas deixam os carros tão colados na
porta dela que dá até dificuldade de sair. Queria que vocês vissem a casa de
Dinha e o espaço que tem enorme de modo que não há sentido em fazerem isso. Que
pessoalzinho!
Ainda bem que a maioria tem polidez (urbanidade)! Acho estas
palavras bonitas. Comte-Sponville em seu belíssimo Pequeno Tratado das Grandes
Virtudes – um livro que deveria ser lido por todos – comenta que a polidez não
é uma virtude, mas nos prepara para desenvolvê-las. Isso me agrada. Aliás, é
interessante pensar que a palavra urbanidade vem de urbano. É que aqueles que
vivem em cidades são levados a desenvolver maior senso de que a nossa liberdade
termina quando começa a do outro, senão não ia dar para as pessoas viverem
juntas. Para viver juntas em harmonia há que seguir certas regras. Quem mora no
campo, onde as distâncias são maiores isso não é tão incisivo. Vai daí que o
nome urbanidade veio a ser criado, dando batismo ao ato de estarmos atento a
que o nosso comportamento não venha a agredir ou prejudicar aos demais. Seria bom
que os donos dos carros que bloqueiam as pessoas tivessem um pouco mais de
urbanidade.
Espero também que aqueles desprovidos de polidez prefiram
passar longe do Vale do Capão, deixando-o para que aqueles que querem realmente
estar em harmonia com o local e seus moradores.
Abraços turísticos de Aureo Augusto.
Caro Áureo! Ter a entrada da casa bloqueada, no meu caso é um edifício, não é privilegio de vocês, moro na Praia do Flamengo, próximo de Itapoã (Salvador) e perdi a conta de quantas vezes fato igual aqui aconteceu!
ResponderExcluirParece que falta urbanidade tb no espaço urbano, não é, meu amigo?
ExcluirParece (e é) paradoxal, mas a grande lição de urbanidade,
ResponderExcluira tive no interior de Sergipe, quando saí de Redife para
um estágio numa companhia de cimento.
Enccontrava pessoas que nunca vira e me diziam "Bom dia!".
Enquanto na cidade me acotovelava nos ônibus e, no máximo,
era xingado! E nem na universidade, em meio à multidão de,
supostamente, colegas, recebia cumprimentos, se não fosse
da mesma sala.
Deve ser algo semelhante ao que ocorre em São Paulo, onde
os lojistas reclamam das ciclovias nas avenidas.
Acho que lhes faltam esses turistas insanos
bloqueando suas portas.
Abraço com noção.