Que onda, velho!
Foram cinco partos que aconteceram no maior pique. A turma
de novatos no planeta veio com pressa e, como de resto todas as crianças da
atualidade, nasceram a fim de saber aonde chegaram. Sai a cabeça, e antes dos
ombros se descolarem de dentro da mulher, os pequenos já abrem os olhos e ficam
assuntando o que tem ao redor.
O último foi particularmente mobilizador de minhas memórias.
Bárbara chamou a equipe do PARIR – Parto Domiciliar Planejado, e lá fomos nós
de mala e cuia, ou melhor, de panelas, instrumental e piscina. Não deu pra
encher de novo a piscina, pois a cabrita pulou fora e Mariane mal teve tempo de
calçar as luvas pra receber a coisinha fofa.
Os partos têm a peculiaridade de nunca um ser igual a outro.
Sempre é surpresa, sempre há um mistério que nos deleita quando nos
harmonizamos alegremente com o que vai acontecer (em parte este caráter
misterioso do parto e da mulher faz com que nossa ciência, tão irracionalmente
afim da segurança, busque o controle total do mesmo através o máximo de
mecanização, hospitalização e procedimentalização cirúrgica que embora muitas
vezes salvem vidas, nem sempre são necessários e não deveriam ser
necessariamente desumanizados, deveriam sim incluir-se no sentido de mistério
que nos traz o partejar). Um parto nunca é igual a outro, inda que seja a mesma
mulher.
Mas, além deste mistério dos partos, o que me mobilizou foi
o fato de que o pai da criança, que ali estava cuidando e cuidador, protetor
mesmo, presente junto a sua esposa e filha, Adelson, foi ao nascer o primeiro
parto que acompanhei aqui no Vale do Capão, há praticamente 30 anos atrás.
Fui chamado por Dinha e Almir, seus pais e lembro muito bem
que enquanto esperava vi pai e irmãos preparando caldo de cana (que saboreei)
na maquineta manual, feita com toros de madeira. À época pensei no esforço que
faziam para sacar o suco da cana com aquela máquina; ocorreu-me perguntar a mim
mesmo se a energia gasta era realmente compensada pelo esforço e ri comigo em
silêncio, quando fui chamado para receber e dar as boas-vindas para mais uma
alma encarnada.
Agora, depois de tanto tempo, ali estava eu, vendo a
cabecinha de Valentina ser recebida por Mariane enquanto Lívia (a doula),
Robélia (avó) e Adelson olhavam por Bárbara em seu trânsito para um novo momento.
Enquanto isso, alheia a tudo, Samanta, a irmã mais velha, 4
anos, dormia profundamente. Depois da saída da placenta, Robélia foi acordar
Samanta para que conhecesse sua irmãzinha, e ela respondeu: “Agora não, estou
descansando, depois eu vejo” e continuou ronronando como uma gatinha em um
mundo onde Valentina e Samanta podem se encontrar livres das limitações que a
matéria nos presenteia.
Recebam abração parturiente de Aureo Augusto.
Que lindo, doutor. Arrepiei. A cena que vc descreve, das duas irmanzinhas no mundinho delas imaginário, me fez vim lágrimas nos zóis. Parabens pela dádiva de viver em um lugar assim. Parabens aos papais.
ResponderExcluirAbraços de fadas, duendes e gnomos.
OH, querida! que bom que lhe tocou. Eu tb fico bem tocado com estas experiencias.
ExcluirGrato, grato, grato. Estava com saudades de ti.
Legal, Áureo!
ResponderExcluirAs bruxas deram uma folga ao meu equipamento, e pude acessar.
Naturalmente, 'no creo en ellas", porém se revezaram aqui em
avariar notebooks, roteador e cabo de fonte, um depois de outro.
E chego agora, logo após os partos, pra ver comprovada a teoria
da evolução, tão desacreditada pelos evangélicos.
Os 'babies' demoravam dias pra abrir os olhinhos, né:
Parece que, logo mais, eles vão gritar instruções aos parteiros,
"de lá do dentro da escuridão" (Tom Zé).
Abraço nascido.
Pensei que a coisa destes roteadores etc. só davam bode por aqui, neste fim que é princípio de mundo!
ExcluirInteressante esta ideia de que a evolução é pura balela. Os argumentos que usam são bem "científicos" às vezes. Lançam mão de alguns furos da teoria - que obviamente existem pq justamente é uma teoria, consequentemente ainda não está acabada, pronta.
mas o fato é que os cabritos estão evoluindo.
abração