sábado, 11 de outubro de 2014

UM POUCO DE SOCIAL NO AÇÚCAR E NO SAL

João Carlos Gomes é um empreendedor da cidade de Seabra, que tem marcante preocupação com o social e o ecológico (se é que podemos separar estes aspectos da vida). Gosto de conversar com ele quando vou àquela cidade e deleito-me em seu entusiasmo que o leva a estar sempre na frente no quesito inovação.

A última vez que fui a Seabra encontrei-o e conversa vai, conversa vem, ele manifestou sua preocupação com os descaminhos da alimentação em nossa sociedade. O papo chegou neste ponto porque ele me descrevia o trabalho que estava fazendo junto ao sindicato rural focado na valorização do trabalho agropecuário. Ele quer ver um maior reconhecimento do valor do camponês. Ou seja, na contramão da história, uma vez que desde há milhares de anos os camponeses são explorados pelos poderes constituídos, em geral pelas armas ou pela força de leis ou regras consuetudinárias que mascarada ou explicitamente impõem uma vida subserviente ao trabalhador rural.

Desde que, há cerca de seis mil anos, instalou-se o patriarcado na sociedade humana e o poder da destruição representado pela espada, pela lança e pelo punhal tornou-se mais importante do que as estratégias criativas de produção de saber, conforto e bem estar, enfim, desde que nós a maior parte dos seres humanos aceitamos a dominação de inescrupulosos guerreiros e reis em detrimento daqueles (ou devo dizer melhor: daquelas?) que produziam bem estar, que quem produz o alimento tornou-se menos valioso para os jogos sociais do que quem explora e domina pela força. Mesmo hoje, nestes albores do vigésimo primeiro século, ainda viceja esta ideologia tão destrutiva. Mas existem pessoas como João que querem labutar para que os produtores rurais possam produzir alimentos e reconhecer nestes alimentos algo precioso, sagrados mesmo!

E ele manifestou que em parte esta labuta tem a ver com o fato de que para ele hoje em dia as pessoas só degustam dois sabores: o açúcar e o sal. Segundo ele, e reconheço que está certo em grande medida, a mor parte das pessoas está completamente dominada pela ampla presença de quantidades absurdas de açúcar e de sal nos alimentos e desta maneira perdem o sentido de saborear as sutilezas dos alimentos. Deu o exemplo dos salgadinhos e refrigerantes que são uma verdadeira praga. Instou-me a que ficasse observando os carrinhos nos supermercados (coisa que já fiz) para ver a quantidade destes produtos que são consumidos pelas pessoas. Padronizadamente a comida será gostosa na medida em que contenham grande quantidade de sal ou de açúcar, ou dos dois. E isso é passaporte para a doença. Ele deu o exemplo da depressão. Para ele a epidemia de depressão que existe no mundo tem a ver com a alimentação, no que concordo em muito.

Leiam Helion Póvoa, O Cérebro Desconhecido, e verão que certas bactérias que amam o excesso de açúcar que ingerimos contribuem para a redução da serotonina – mediador químico neurológico relacionado à alegria. Também somos levados a entender que há uma possibilidade de que uma boa parte dos casos de depressão tenha a ver com uma forma de autoagressão aos neurônios (semelhante aos reumatismos) derivada de alterações intestinais que por sua vez influenciam o cérebro.
Ainda não sabemos aonde vai parar esta experiência alucinada que fazemos com a industrialização galopante que impomos à alimentação, mas tenho certeza de que o futuro não será dos melhores para a população, conquanto a indústria vá se fartar.

Por conta disso admiro as pessoas como o meu amigo João que em uma cidade na região central da Bahia, luta, contra todas as possibilidades de êxito, pelo bem comum, tentando habilitar as pessoas à velha palatabilidade de antigos costumes, acenando-lhes a modernidade de uma nova relação de valor do camponês frente à sociedade.


Recebam um abraço esperançoso de Aureo Augusto.

Um comentário:

  1. Lamentável que os industriais só pensem em aumentar
    os lucros, em detrimento da saúde da população.
    Temos que nos somar a pessoas como seu amigo João,
    que rema contra a maré.
    Abraço camponês.

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