O British Medical Journal comenta que as pessoas de mais
idade que usam os Benzodiazepínicos (Diazepam, Clonazepam e outros “pam”) acima
de 3 meses têm 51% mais chance de desenvolver demência do que aquelas que não
usam. Isso me deixou bem preocupado.
Ocorre que estas substâncias estão se tornando parte normal
da vida das pessoas. Mesmo na zona rural. Antigamente o interior (como nos
referimos ao campo) estava associado a uma vida simples e tranquila de um lugar
em que as pessoas viviam uma vida mais harmônica e dormiam bem. Hoje a
realidade é bem diferente.
Há alguns anos estudos vêm mostrando que o consumo de
medicações para dormir e para tranquilizar vem aumentando nas áreas distantes
dos grandes centros. Constato isso na minha vida aqui no Vale do Capão, aonde
atendo aos vizinhos há 31 anos. Com alguma frequência recebo pedidos para
renovar receitas de Clonazepam, pois as pessoas facilmente se viciam nesta
medicação e não conseguem mais se livrar. Tento demovê-las do uso sem sucesso.
Até o presente só consegui com aqueles que começaram a usar há pouco tempo.
O ritmo de vida que caracterizava as metrópoles em grande
medida vem sendo imitado no mundo camponês. As pessoas hoje têm maior
quantidade e variedade de compromissos. A comunicação via televisão ou internet
estão aproximando as pessoas de forma acentuada de modo que a sistemática de
vida das daqueles que vivem em diferentes ambientes acabam se confundindo em um
modelo se não único, pelo menos semelhante. O ritmo circadiano que marcava o
dia-a-dia camponês está sendo agredido cada vez mais uma vez que subordinamos
nossas vidas à batuta dos horários televisivos e das atividades do mundo
virtual. Não importando onde, ontem deixou de ser um lugar a ser repetido já
que hoje indica um amanhã afastado da biologia que será incorporada sabe-se lá
como à virtualidade tecnológica.
Então se intranquilizam as almas e insoniam-se as pálpebras.
À mente negamos o repouso enquanto corpos tensos movem-se nos leitos tão
desordenados quanto as emoções, sensações, desejos, pensamentos e sentimentos
tantas vezes açoitados pelas tempestuosas vidas.
Clonazepam e primos são muletas para estas paralisantes mobilidades.
Longe de mim demonizar as medicações. Reconheço situações onde têm elas o
condão de ajudar, porém noto que na intranquilizante vida a que nos submetemos
os próprios profissionais de saúde desordenam-se nos atendimentos tornados
rápidos por obrigatórias correrias implicadas em um sistema que obriga à pressa
para consecução das metas bancárias ou estatísticas. Então a queixa de insônia
deixa de ser uma questão na vida de um ser e dentro de um contexto. A pressa
impõe uma solução sem profundidade e uma medicação rápida e eficaz, ainda que a
efetividade no tempo seja questionável. A solução se mede em milímetros da
corrida dos números no écran do relógio digital e não na medida da vida vivida
vividamente.
Superficializamos a vida por pura pressa e descolamos do
profundo em nós. Vai daí que a família PAM torna-se uma essencialidade, assim
como suas corolárias sequelas.
Recebam um beijo sonolento de Aureo Augusto.
Ai Dr. Áureo, ainda bem que durmo igual a gato de hotel.
ResponderExcluirnão sabia essa de gato de hotel (KKKKKK). gostei mto. Tb sou assim.
ExcluirAi Dr. Áureo, ainda bem que durmo igual a gato de hotel.
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