Eh minha gente! Estou começando uma nova experiência com a abertura de um canal no YouTube. Deem uma olhada.
Recebam um abraço tecnológico de Aureo Augusto
domingo, 30 de abril de 2017
sábado, 1 de abril de 2017
TODOS MORRER DE CÂNCER?
“Será que todo mundo vai ter câncer, pai, será que ninguém
vai morrer de velhice? ”. Foi a frase de minha filha, em tom de desabafo, ao
saber de mais um conhecido com a doença.
Conseguimos a glória duvidosa de criar um mundo completamente
novo e diferente daquilo que nossos antepassados nos fizeram herdar, com suas
frutas do quintal ou do quitandeiro, com suas viroses que faziam parte do
crescer esperado, com as línguas lambendo as mãos sujas de comida.... Roubar
frutas no vizinho era o padrão aqui no Vale do Capão, essa minha filha era
especialista. Agora a tendência é comprar o salgadinho na venda logo ali; refrigerantes,
calabresa e outros embutidos, antes raridades para momentos tão incomuns como
casamentos, hoje participam da mesa do dia-a-dia e as crianças, criadas com
esta alimentação, serão futuros diabéticos e hipertensos, obesos e com mais
chance de ter o Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson e variados tipos de Câncer.
O açúcar era pras visitas, todos adoçavam com o não tão
comum mel ou a garapa da cana feita no quintal com uma traquineta artesanal.
Qual casa de hoje não se farta do açúcar tão danoso para o pâncreas, que também
irrita o corpo predispondo aos processos inflamatórios crônicos como as doenças
reumáticas, o câncer, depressão e outros males, isso sem falar que aumenta o
colesterol. Mas... pare um pouco! Na verdade, antes eu lutava para mostrar as
pessoas os males do açúcar, agora tem coisa pior: a frutose concentrada e
artificializada, retirada do milho produzido quase sem intervenção do solo tal
a quantidade de químicos na lavoura, frutose esta que é infinitamente pior que
o velho açúcar. É esta frutose que hoje se usa para adoçar os refrigerantes
porque é bem mais barata.
A par desta
alimentação doentia, e, em parte, como consequência desta, um consumo
desenfreado de medicações de todo tipo, receitadas ou não, mas sempre compradas,
usadas, ingeridas, quase como comida!
Mas não é só a comida! É também a sistemática de vida. Nos
livramos em grande parte dos ditames de uma religião institucionalizada e
anquilosada, bem como de uma moral hipócrita, para nos vermos perdidos num
saceiro de conceitos libertários, nem sempre responsáveis, e, em parte por
isso, incapazes de contribuir para um sentimento de segurança interior e de
pertencimento. Não olhamos mais os vizinhos como continuidades de nós mesmos, e
deixamos de lado o nosso ser social, fato esse acentuado em nossos corações
pelo doloroso procedimento doentio de boa parte dos políticos.
E me incluo. Amo o que faço, amo o lugar onde vivo, amo meus
amigos e amigas, amo muitas das coisas que configuram o meu existir aqui, no
entanto neste agora me dá uma de perguntar por que temos nós, eu incluso, que
criar em nós mesmos este afã de fazer. Não como luz e alegria e sim como um
cansaço de viver, uma obrigação imposta. E não adianta culpar a sociedade, a
economia, Deus ou o capitalismo, somos nós individualmente os maiores
responsáveis, pois demais vezes não nos permitimos o descanso, mesmo tendo a
oportunidade.
E, até a gente amada deste meu querido Vale, não tem mais
paciência para a doença ou para dizer às crianças o que e o como, cedendo a
elas direitos para os quais não ainda têm estrutura para suportar. E deixam de
lado o mato pelo celular, face, coisas assim boas quando não demais.
Olho a minha vida e vejo que são tantas as coisas deliciosas
a fazer, mas junto com elas e para que não se tornem um transtorno devo dar-me
o tempo do contemplar... como esse meu povo de antanho que sentava a conversar
nas postas depois do jantar.
Recebam um abraço pensativo de Aureo Augusto.
sábado, 18 de fevereiro de 2017
Cê viu?
Você viu naquele dia o silêncio que havia no mundo quando o
dia sorrateiro desceu leve sobre o mundo? Fui ao rio e não havia galo puxando a
manhã. Os pássaros estavam inibidos e brincavam entre as folhas de buscar o de
sempre pra comer, mas se as folhas buliam era por suas leves penas, não havia
vento...
Desci ao rio no frio de sempre e a água fez de minha pele o
prazer do frio. Foi quando ouvi uma folha seca farfalhar seu voo, cair
ruidosamente aos meus ouvidos. Foi o testemunho do mundo silente, pois quem
ouve folhas leves levemente caindo?
Voltei a casa sobre a relva úmida e gélida, não havia nada
que me dissesse de nada ou ruído, parei. Então percebi a gravidade das árvores.
Olhando-as me dei conta de que seu silêncio se havia extravasado e agora
ocupava inconteste bruma e manhã, pássaros e serra.
recebam um abraço de Aureo Augusto
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
AUREO
AUGUSTO curso Teórico-Prático NATUREZA NA SAÚDE
Em
Lothlorien (Vale do Capão),
21,22 e 23 de abril/2017
Um mergulho na Natureza, que inclui caminhadas, vivências,
comida deliciosa e natural, experimentando saborear o Vale do Capão, um dos
belos recantos desse nosso tão maravilhoso mundo.
Um passeio sobre a Natureza da Saúde, quando conversaremos
sobre como fazer para gozar de SAÚDE por mais tempo, com um mínimo de despesa.
Partilharemos conhecimentos sobre os processos que levam à doença e o que
contribui para a manutenção da saúde.
Neste trabalho você entrará em contato com o Neohipocratismo (Naturopatia, Naturologia) que trabalha com os elementos da NATUREZA (água, ar, terra...) com o intuito de recuperar e manter a SAÚDE.
Carga horaria: 26 hrsNeste trabalho você entrará em contato com o Neohipocratismo (Naturopatia, Naturologia) que trabalha com os elementos da NATUREZA (água, ar, terra...) com o intuito de recuperar e manter a SAÚDE.
Inclui: curso; hospedagem; alimentação; vivencias e passeios
informações:
Aureo Prieto de Azevedo- aureoprieto@gmail.com
Lothlorien Vale Do Capão- centro@lothlorien.org.br telefones: (75) 3344-1122/1129
sábado, 4 de fevereiro de 2017
ASSASSINOS!
A questão é que não recebemos o salário de dezembro, nem o
de janeiro parecia seguro. Boatos e desinformação demais, até porque a
comunicação e informação nunca foram o forte do poder público em Palmeiras. O
problema é que a maioria vive apenas do trabalho no posto, do salário desse
trabalho e a dificuldade presente tem duas faces:
1.
O que fazer para pôr a comida na mesa?
2.
Precisamos saber de alguma coisa, o que está
acontecendo? O que está sendo feito? quando teremos o nosso dinheiro?
Por isso a equipe foi conversar com o pessoal das finanças
em Palmeiras e os documentos que vimos nos deixou perplexos e devastados.
Trabalho há cerca de 10 anos na Unidade de Saúde de
Caeté-Açu e pela primeira vez tive vontade de pedir demissão – e Natália e Raí
me disseram que pensaram a mesma coisa.
Pode ser que esteja sendo movido pela tristeza, ou pela
raiva, ou os dois, mas também pode ser que minha próxima afirmativa seja a
expressão da verdade:
O que de pior a humanidade gerou foi a classe política.
Muita coisa nos foi mostrada com a documentação a que
tivemos acesso. Por exemplo: de julho de 2015 a agosto de 2016 a nossa parcela
do INSS foi retirada do nosso salário, mas não foi repassada para o governo
federal. Então naquele momento o prefeito da gestão passada negociou o
parcelamento da dívida que superava dois milhões de reais. As parcelas eram
altas e para completar assinou um termo de compromisso segundo o qual se ele
deixasse de pagar por dois meses o dinheiro que o governo federal manda para as
cidades, para suas despesas, poderia ser sequestrado. E aí ele não pagou os
dois meses seguintes (novembro e dezembro), vai daí que em janeiro todo o FPM
foi sequestrado e Palmeiras ficou sem ter dinheiro para pagar os funcionários.
Natália, Raí, Neide, Roseli... Eu mesmo não recebi, como Filipe não recebeu, ou
Mariana, enfim, como qualquer funcionário da saúde, ou de outras áreas. Somos
pessoas e fizemos a nossa parte, mas que espécie de jogo é esse que se jogou
com nossas vidas?
E já tínhamos outro sofrimento a perguntar por solução: Dois
colegas da equipe tomaram empréstimo consignado. Seus nomes foram para o SPC no
ano passado. É que a gestão anterior retirou o dinheiro dos salários para
entregar aos bancos – MAS NÃO ENTREGOU. Qual o nome que se deve dar a isso? Improbidade
ou apropriação indevida? Sei que o banco no qual eu fiz um empréstimo
consignado deu um prazo à prefeitura até o dia 10 do corrente mês para se
explicar e pagar. Mas, se o dinheiro foi sequestrado, como fará? Meu nome irá
para o SPC. Mas todos os dias vou trabalhar e cumpro o meu papel, dou o melhor
de mim e acredito que o contrato que tenho com a prefeitura faz dela credora de
minha honra, mas a recíproca mostrou-se falsa. Cumpro eu a minha parte, nós, os
funcionários, mantemos o funcionamento dos serviços. Por que somos castigados
pelo que de correto fazemos?
Então, o que faremos? Dívidas que não contraímos, perdas
pelas quais não nos podem responsabilizar, mas cobram já que nossos salários
não estão em nossas mãos. Como pagaremos e como fazer para ter em mãos a feira,
o mercado, o material escolar...
Talvez possamos chamar os políticos de assassinos, pois
matam a nossa vontade de continuar dando o melhor de nós. Labutam para que nos
tornemos tão podres como o coração amargo e hipócrita que lhes macula o peito.
Aureo Augusto (esse texto terá continuação em breve).
Obs: Tivemos um refresco, pois recebemos o salário de
janeiro no dia 3/1, mas o assessor do financeiro nos alertou que se não
conseguirem anular a cláusula que permite o sequestro do FPM, não se pode
garantir pelos próximos meses.
domingo, 29 de janeiro de 2017
APOIO DOS AMIGOS
O ano passado (2016) foi um ano difícil para todos nós e em
Palmeiras não foi diferente. Em realidade é como se não houvesse terminado, já
que os funcionários municipais de Palmeiras não recebemos nosso salário de
dezembro e a julgar pelas contas e pelas dificuldades pelas quais passa a
prefeitura pode ser que tampouco recebamos janeiro.
No entanto conseguimos, graças à colaboração de tantos
amigos, fechar o ano com a equipe completa, pois a “vaquinha” que fizemos deu
para pagar a técnica em saúde bucal e a técnica de enfermagem, além de garantir
o material do dentista que está funcionando – assim, além de agradecer a todos
aqueles que nos ajudaram, peço que não depositem mais pois que já alcançamos o
montante de recurso para os dois meses propostos.
Além disso, recebemos uma preciosa ajuda de duas
fornecedoras de internet aqui no Capão, a Valandnet e a Capãonet que cederam
graciosamente seus serviços ao posto de modo que estamos bem servidos nesta
área, justo quando o governo criou o e-sus, um sistema de registro on line dos
serviços que prestamos. Agradecemos a bondade dos empresários responsáveis por
estes serviços, bem como a seus funcionários que sempre nos tratam com presteza
e cuidado.
Por outro lado, visitou o Vale do Capão o senhor Dan Oren,
israelense, que muito se interessou pela nossa unidade de saúde e reuniu um
grupo de pessoas, comprou a fiação e fez com que os computadores do posto
estivessem interligados em rede. Foi um trabalho realmente maravilhoso, pelo
qual toda a equipe agradece de coração.
Na área de atendimentos, além do nosso trabalho habitual
contamos com a colaboração de uma equipe de pessoas que se dedicam a um sistema
terapêutico denominado Thetahealing, que vem contribuindo sobremaneira com os
cuidados aos nossos usuários. Observamos felizes os resultados tão positivos
que esta turma consegue com as pessoas que nos buscam.
Estão sendo realizadas no posto reuniões de Diksha, uma
técnica oriental não vinculada a religiões para contribuir à paz no coração das
pessoas, uma vez por semana.
Recebemos a inestimável ajuda de Renata que atende em
auriculopuntura todas as quintas à tarde no posto, ampliando a oferta
terapêutica e melhorando os resultados do nosso trabalho.
As técnicas de enfermagem Rosane de Oliveira e Rosângela de
Almeida estão prestando serviço voluntário nos dias mais movimentados da nossa
unidade (segundas, quartas e quintas) contribuindo para desafogar o atendimento
de nossos vizinhos. Isso é o que se chama de “uma mão na roda”, excelente força
para nós e para a comunidade.
E, embora – como disse acima – 2016 pareça que ainda não
acabou por conta de certas dificuldades, 2017 já nos trouxe presentes
excelentes:
Já estamos preparados para depois do carnaval receber o
apoio inestimável das psicoterapeutas Vânia Meireles e Ana Flávia que atenderão
uma vez por semana (uma em atendimento individual e outra em trabalho de grupo
em bioenergética) nas dependências da USF de Caeté-Açu, também como
voluntárias.
Assim, em que pese a triste questão relativa ao não
recebimento de nosso salário, olhamos o futuro com o esperançar de que nos fala
Paulo Freire e continuamos pondo o nosso coração ao lado do coração de nossos
usuários para o bem da comunidade de Caeté-Açu (que abrange não apenas o Vale
do Capão, como também Conceição dos Gatos, Rio Grande etc.).
Recebam o nosso abraço grato!
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
2016
Finda um ano difícil. Para o mundo, para o Brasil, para a
cidade de Palmeiras.
Aqui no Vale do Capão tivemos, do ponto de vista climático,
uma amenização da seca que afeta o Nordeste há quase 10 anos. Foi um ano em que
choveu com frequência, mas ainda não há sinais de que La Niña venha a
substituir El Niño. Mesmo assim, esta presença maior de chuvas nos dá uma
alegria em um ano onde “a política” foi terrível. O ano finda com a saída do
atual prefeito que será substituído pelo eleito no último pleito.
Em sua saída, o atual prefeito nos brinda com um incremento
das faltas que marcaram a gestão. Nestes quatro anos tivemos dois secretários
que mostraram serviço, Aruanã e Andréa, respectivamente no turismo e na saúde.
A última secretária de educação, Rosa, apesar de ser comprometida padeceu dos
mesmos problemas que os demais: ausência de autonomia e de uma gestão bem
orquestrada, e talvez, de excessiva filiação ao grupo governante – e os
professores e estudantes sofreram; aqui no Vale do Capão os problemas variaram
do transporte escolar, que obrigou a fechamento das aulas antecipadamente à
degradação física da escola municipal e a falta de apoio à escola comunitária.
O gestor não conseguiu organizar uma agenda de realizações e
tampouco nos brindou com uma governança coerente e consistente (com a pobreza,
com as necessidades reais, com a continuidade, com a informação clara etc. do
município). Difícil entender o que sucedeu, considerando-se sua formação e
experiência. Eu, particularmente, não acredito em pura e simples corrupção,
como querem alguns, uma imputação fácil, talvez demais. Alguns me falaram que
deixou-se levar pelo senso de poder e não escutou conselhos pertinentes e
perdeu de vista a realidade; outros comentam de seu dom especial para deixar-se
levar pelo puxa-saquismo, dando atenção a quem não merecia, deixando de lado os
colaboradores reais. Senti falta de diálogos sólidos, escuta; conversar com ele
era uma luta, labuta vã, pois falava e falava, argumentava e deixava de perceber
o que o interlocutor realmente queria. Gente do povo confirmou-me essa
impressão. Essas coisas contam, indubitavelmente, mas não dizem tudo.
O fato é que finalizamos o ano sendo obrigados a, no posto
de saúde, fazer uma campanha para arrecadar fundos com a finalidade de
manter-se funcionando, o que é algo, para dizer o mínimo, triste. Contamos com
amplo apoio e conseguimos os recursos de modo que funcionários exonerados
puderam retornar e o material do dentista pôde ser comprado o que manteve o
profissional em ação até o final deste dezembro cansativo.
Para nós, que trabalhamos na saúde, a vida não é realmente a
coisa mais fácil do mundo. Em nosso posto há grande alegria todo o tempo. Muito
riso, sorrisos nas faces e entusiasmo pelas atividades (que são muitas e que
para serem realizadas frequentemente trabalhamos fora do horário pelo qual
somos pagos). Mas detecto em mim e nos colegas um grande cansaço, um
esgotamento e vejo que isso vem não apenas de um ano cheio (dia da criança; muitas
palestras em sala de espera; dia do homem; consultas a mais do que o esperado
em parte pelo aumento da população e dos visitantes sofrendo picadas de
insetos, quedas, ferimentos...; grupos variados com rodas de conversa, tais
como: idosos, se liga no peso, de pessoas com ansiedade e/ou sofrimento
psíquico; atividades com estagiários de medicina, enfermagem, odontologia,
assistência social entre outras atividades), mas também, dizia, o que nos
esgota é não saber direito o que vai acontecer. Atrasos de pagamento, falta
crônica de material e medicações, expulsão de colegas, esta sensação de que as
coisas não estão minimamente seguras, e estar criando estratégias para
preencher falhas e faltas que não são nossas... sinto-me cansado, exausto,
desejando férias para repor as energias. Do mesmo jeito, todos.
É vero que nem tudo foi ruim, pois contamos com uma
secretária de saúde (Andréa) accessível, dedicada, lutadora, mas que a nós,
funcionários, parecia que atuava como se fosse uma “estranha no ninho” da
governança, não tendo pleno conhecimento sequer do total dos recursos da sua
pasta. O Conselho de Saúde funcionou marcantemente o que levou a alguns
problemas com a gestão e, pasmem, com a direção da agremiação que congrega os
funcionários, o qual não percebia o seu papel enquanto conselheiro dedicando-se
a fazer oposição (coisa boa a oposição, mas tem o seu lugar) sem atentar para
as normas.
Temos funcionários competentes em todas as áreas da saúde
(parte deles expulsos no final da desta gestão) e contamos com nada menos que 4
médicos do programa Mais Médicos, todos originários de Cuba e muito bem
capacitados. Mas não soubemos aproveitar isso adequadamente.
Aliás não conseguimos aproveitar programas do governo
federal, além de promissores contatos com a secretaria estadual da saúde (um
convênio não foi firmado porque um gestor anterior não prestou conta de
R$70000,00 que havia recebido e, apesar do trabalho minucioso do Conselho de
Saúde, o gestor atual não deu prosseguimento às disposições legais que
permitiriam resolver o impedimento).
Esta é uma avaliação incompleta porque não se propõe a ser
algo mais que um desabafo triste. Mais triste ainda por outra tristeza: nada
disso é novo. Mais do mesmo de outros prefeitos que já aqui estiveram, uns
melhores outros piores, mas...
Resta a esperança, não completamente passiva, um esperançar
no dizer Freiriano, que é uma esperança ativa de gente que sabe lutar. Pelo
menos aqui no Capão a comunidade assim se mostra e, portanto, vamos aguardar o
próximo gestor e ver dele e nele o que nos trará de sua parte, pois da nossa, de
trabalho não fugimos.
Em 28 de dezembro de 2016, recebam um abraço triste de Aureo
Augusto.
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
O RANÇO ARISTOCRÁTICO
Fui e sou testemunha, tanto na qualidade de mero observador,
como na condição de participante efetivo, de diversos movimentos de variadas
matizes que buscam melhorar – alguns sinceramente, outros não – o mundo.
Quando jovem frequentei assustado o diretório acadêmico do
Colégio Central da Bahia, onde cursei o científico. Foi uma época de
perseguições e os militares me metiam um medo tão atroz quanto o que sentia dos
líderes do diretório com seu pregão religioso anti-imperialista. Tudo bem, sou
um cara medroso e por isso seguramente poucos da minha geração tiveram o mesmo
grau de susto. No entanto, lembro-me que os militares estavam defendendo a
democracia, contra os comunistas insanos e os líderes do diretório defendiam a
democracia contra os militares que na realidade defendiam a burguesia.
A burguesia naquela época para mim era uma coisa perversa,
responsável pela pobreza e pela exploração do homem pelo homem – é assim que se
dizia. Depois que a mulher foi incluída na conta dos despossuídos.
O capitalismo, instrumento burguês de dominação, era a fonte
de todo o mal e isso era indiscutível no meio em que eu frequentei a partir
daí, e era indiscutível porque na verdade não era discutido. Resolvi ler Marx,
o Capital, e me esforcei, mas me perdi o tempo todo. E, o pessoal que militava
nas hostes do bem não o havia lido, exceto um único colega, que conversava
muito comigo e me ensinava e esmiuçava Hegel, Engels, Marx, muito mais fácil
que a leitura. Lembro-me dele, magro, curvo, nariz aquilino, pele clara como
impensável em um baiano daquela época, bem intencionado até a medula, o único
que realmente sabia o que falava e como tal rejeitado tanto à direita quanto à
esquerda (da qual queria participar sem sucesso). A dificuldade que eu encontrava
em estar a seu lado era que ele era excessivamente estudioso – e todos os
excessivamente estudiosos passam pelo dilema que foi a vida de Hamlet – e eu um
tanto preguiçoso e ademais lia e relia a Anatomia da Paz de Emery Reves.
Por alguma insanidade eu queria a paz. É fácil dizer que
isso era porque eu era e sou um covarde, nada pronto pra uma briga. Seguramente
essa característica teve seu papel, mas seria reducionismo alheio à verdade
outorgar a apenas isso o meu pacifismo precoce. No plano pessoal isso era
seguro, mas no plano geral, social digamos, até que era corajoso, pois estava
na contramão de tantos ao meu redor que progrediam desde as brigas de turmas de
rua, até a propaganda revolucionária (tanto a favor quanto contra o regime
militar).
Naquele tempo eu me sentia tendo que escolher entre os
militares que me tiraram tantos dos meus amigos (amigos dos quais admirava a
coragem), ou os militantes de esquerda que me remetiam aos pogroms soviéticos,
à invasão da Hungria e ao esmagamento da Primavera de Praga... Hoje as coisas
são algo diferentes, mas não tanto a mais quanto gostaria.
Ocorre-me que temos um tremendo medo de reconhecer a
diferença como essencial à vida social, como aliás vem pregando com algum
sucesso o pensador Leandro Karnal. Deveríamos observar mais cuidadosamente a
biologia. Onde há maior diversidade há mais resiliência e resistência
ambiental. O Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, estava se degradando
ecologicamente e ninguém conseguia saber o porquê. A reintrodução dos lobos fez
o parque voltar à vitalidade. Eles controlaram a população de certos herbívoros
que antes se proliferavam e acabaram com a vegetação rasteira na beira dos rios
e córregos.
Na nossa vida social e no relacionamento dentro da sociedade
precisamos de todos os tipos de gente, ou, dito melhor e mais acertadamente, de
todos os tipos de opiniões. E, a oposição a um governo, se exercida em boa-fé
(imploro que leiam sobre a boa-fé no “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” de
Comte-Sponville), e principalmente se o governo é exercido em boa-fé é
absolutamente essencial e necessária para o bom andamento da coisa pública.
Mas o que vi foi um desastre patrocinado por uma elite ciosa
de seu mundinho de regalias às custas de todo um povo laborando em condições
frequentemente insalubres auferindo salários ignóbeis. O Brasil entrou numa
espécie de Idade Média, da qual a muito custo tateamos para sair e, as notícias
que vêm de Brasília não são nem um pouco alvissareiras. Pois conquanto nós, o
povo, continuamos tateando para sair, outros, que podemos chamar de “elite” às
claras ou disfarçadamente tudo faz com o intuito consciente ou não de manter
tudo como está, ou seja, na contramão da diversidade.
Podemos chamar de “elite” não apenas quem nasceu em berço de
ouro, mas também quem o conquistou, por vias políticas ou por labuta, mas que
assume uma postura classista (disfarçada ou não) – e veja que existem pessoas
muito ricas que não fazem parte dessa “elite”.
Isso não ocorre porque capitalismo, ou porque comunismo, ou
porque falta religião ou porque insanos. Em alguma parte de todo o processo o
economicismo acabou por suplantar o cuidado do com o povo ou com a coisa
pública. Não se governa pelo bem das pessoas e sim pelo bem da economia,
enquanto esse “bem” mantém, por exemplo, grupos muito ricos tendo suas dívidas
perdoadas para manter o funcionamento do sistema, enquanto gastos com a saúde
ou a educação dos mais pobres são denunciados como abusos socialistas.
O que temos é uma junção de um equívoco, onde as pessoas são
esquecidas, com a má fé de políticos e seus asseclas em um verdadeiro complô
contra uma possível democracia diversificada e bela.
Vamos ver aonde isso vai chegar.
sábado, 3 de dezembro de 2016
CUIDADO DOS MORTOS
Muitas pessoas do meu conhecimento ficaram chocadas com a
insensibilidade do Congresso Nacional frente ao acidente aeronáutico que levou
à morte de esportistas do Chapecoense. A Colômbia fez uma bela cerimônia por
conta do luto e até o serviço diplomático de outros países enviou pêsames ao
governo brasileiro, o qual manteve-se praticamente como se nada acontecesse.
No entanto, se bem notamos, o Congresso e o Executivo
nacionais demonstram bem pouca preocupação pelo povo, ou pelos acontecimentos
que afligem à nação. Não há apreço pelo ser humano que vive na lide diária
buscando o “pão nosso de cada dia”. O povo é lembrado em época de eleição ou
faz-se um teatro de baixa qualidade no cotidiano político, onde os atores
(deputados, senadores, presidentes...) executam uma pantomima tentando
convencer às pessoas da veracidade de suas preocupações, induzindo-nos a crer
que estas preocupações dizem respeito à pátria ou ao povo que mantém a pátria.
Na realidade a preocupação resume-se a manter-se no cargo e ampliar as benesses
que este pode trazer.
Parodiando Oscar Wilde in “O Retrato de Dorian Gray”, eu
diria que a classe política, de regra, é
como se fosse os produtos de uma loja de quinquilharias com todos os preços
acima da tabela – ou do seu real valor. Sérios presidentes da república se
sucedem, vetustos presidentes da câmara e do senado, nobres deputados e
senadores, vereança – um bando de mendigos morais pavoneando-se qual cardeais
da alta cúpula de uma opulenta igreja.
E a nós? Cabe-nos o silêncio mormacento dos dias de labuta
tentando construir uma vida decente sob tributação indecente que mantém
quadrilhas que se alternam no poder.
Não estranhemos a displicência para com parentes e amigos
dos mortos, afinal, em alguma medida todos nós, gente comum, não passamos de
mortos para a sanha dos abutres que se locupletam da nossa impotência.
Porém, não creio que os mortos serão sempre mortos. Em que
pese o formol que conserva o cadáver político em nosso país, como no livro
Incidente em Antares de Érico Veríssimo, os mortos sairão a caminhar.
Caminhamos, enquanto o tempo passa, nós, as pessoas comuns
aprendemos. Aos poucos vamos olhando com olhar crítico o que nos diz a
imprensa, os discursos dos políticos e seus atos, a lógica de uma economia
centrada no lucro e nos que auferem os lucros.... Devagar, evolutivamente,
aprenderemos a dizer não.
Os abutres políticos desdenham do tempo porque creem que
vivem da morte (o silêncio das consciências), desprezam os ciclos da vida
porque alimentam-se daquilo que aparentemente não muda (a desmemoria de nossa
gente), desconhecem a evolução porque apoiam-se na estabilidade da ignorância que
eles fomentam em segredo (a educação que produz disfuncionais).
E apesar de suas verdades elaboradas na mentira, os
políticos verão o mudar dos tempos. E verão que eles são os cadáveres de sua
própria imoralidade.
Sei que nem todos são bandidos, mas a maioria é, e, mesmo assim,
com essa maioria, não conseguem conter a mudança que se frágua em segredo e a
maioria um dia será minoria. Aguardemos.
Recebam um abraço revoltado de Aureo Augusto
terça-feira, 15 de novembro de 2016
PITANGAS
Escrevi este texto no dia 18/9/16,
mas antes de publicar fui alertado da morte (e das piadas sem consideração pelo
sofrimento das famílias) de um ator da Globo quando se banhava no São Francisco
na companhia de Camila Pitanga. Então não quis publicar naquele momento e o
faço agora:
No quintal as pitangueiras estão carregadas exibindo tons de
verde, amarelo, alaranjado, vermelho e roxo deliciosos com os quais acabo de me
empanturrar. As pitangueiras carregadas me remetem ao tempo em que minha filha
caçula era pequena. Um dia pilhei-a no terreno de um vizinho dependurada em um
galho ridiculamente fino no afã e alcançar mais uma das frutinhas
vermelhas. Depenou a pequena planta. E satisfeita foi pra casa – ela não me
viu. Aliás, essa minha filha era terrível. Quando saía da escola, no caminho de
casa eram muitos os desvios para visitar as diversas frutíferas, que sabia de
todas, e das temporadas de cada fruta. Comia a mais não poder e quando chegava
em casa dizia que estava sem fome – não sabia porque, dizia com a cara mais
inocente do mundo – e não adiantava eu dizer que deixasse pra comer as frutas
em outro momento.
Ainda bem que nesta tarde ela não estava em casa, pois mesmo
agora, já crescida, continua amante das belas e deliciosas pitangas. Comi sem
concorrência.
Sou instado a dizer dela que é uma planta humilde, e é.
Tranquila e silenciosa, produz suas pequenas frutas quase que
desapercebidamente e sua beleza e o discreto perfume de suas folhas passam em
branco para muita gente. No entanto é uma das nossas mais maravilhosas plantas.
Quando ouvimos falar em licopene, antioxidante cuja presença
reduz a possibilidade de câncer de próstata, pensamos logo em tomates, mas você
sabia que a pitanga tem mais licopene que o tomate? E tem também nas folhas,
daí o chá delas ser útil também para isso.
A planta, ou a infusão das folhas ajuda no tratamento de
hipertensão, problemas do estômago, obesidade, reumatismo, bronquite – é
anti-inflamatória, antioxidante, diurética e calmante, já pensou?
Devemos usar 1 colher de sopa da folha seca ou 2 colheres de
sopa da folha verde para uma xícara de água fervendo que deve ser derramada
sobre as folhas e deixar no infuso por 10 minutos. O correto é tomar 3 vezes ao
dia, ou seja, de 8 em 8 horas.
Também é bactericida (contra Staphylococcus aureus e
Escherichia coli, porém moderadamente, podendo, portanto, ser coadjuvante no
tratamento daqueles que estão em uso de antibióticos) e a Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, em parceria com a Embrapa e a Universidade da Carolina do
Sul estão estudando o extrato do fruto para tratamento de câncer,
principalmente de cólon (intestino grosso).
Recebam um abraço pitanguico de Aureo Augusto
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