Não sei se fofoca tem mais no campo do que na cidade grande. Pode ser que em lugares pequenos apareça mais porque o contato é mais fácil e freqüente. Aqui no Capão conhecemos uns aos outros com certa assiduidade. As notícias correm com uma facilidade enorme. O povo ri um pouco de mim quando vêm a minha surpresa frente a alguma novidade que só o é para mim, pois todos já sabiam desde há muito. Mais por avoamento do que por desinteresse, nem sempre estou a par das últimas novidades comadreiras.
Penso que a fofoca é apenas o excesso da curiosidade sadia que levou à humanidade ao grau de progresso em que se encontra. Poderíamos ter optado por uma vida de chimpanzés. Quisemos inquirir, investigar e, principalmente, comentar com os demais sobre o que descobrimos. Tem algumas pessoas aqui no Capão que são boas para a inquirição, para a investigação e para comentar o fruto de suas pesquisas. Ademais, põem um pouco de colorido, como um artista, cria hipérboles para atrair a atenção. Determinadas pessoas, ademais, não são mentirosas, apenas quando não têm mais o que contar, inventam algumas verdades, como já me disseram.
Aqui encontramos os dois tipos básicos de fofoca, aquela simples e ingênua, quando se fala da vida de outrem, como para passar o tempo ou nutrir a conversação. Não é um exercício inócuo, é, se pensamos bem, maléfico. Mas é sumamente comum (e não apenas aqui). Também há aquela fofoca profissional, na qual o portador ou portadora faz-se de inocente e mostra-se apenas interessado em penalizar-se com a situação. Diz assim: “Coitado de tal pessoa, que situação terrível”. Todos ao redor param. Há um suspense palpável. As perguntas chovem. Mas o profissional jamais deixa que a notícia escorra da boca como água na serra depois da chuva das águas. “Você não sabia?” – pergunta inocentemente. “Ele foi preso em Palmeiras, por engano”. Na medida das perguntas, triste com o infortúnio do outro, o profissional da fofoca vai desvelando toda uma vida. Assim se descobre que o preso foi injustiçado, mas também, “com aquela mania de...” e então é que descobrimos que o cara é interesseiro ou amigo das coisas alheias etc. etc. etc. Tem que ter três etc. No final todos ficam sabendo que o cara mereceu e bem merecida aquela cadeia. Mas não foi o fofoqueiro quem afirmou. Aliás, ele afirma sempre peremptoriamente que não se interessa na vida dos outros, só comentou porque ficou muito constrangido e preocupado com o fato.
É por causa de gente assim muito bem intencionada, que D. Luzia, mãe de Lili, recitou para mim em dezembro/08 a seguinte quadra, aprendida antigamente:
Não tenho medo da cobra verde
Nem dos dentes da lacraia
Tenho mais medo da língua do povo
Corta mais do que navalha.
Recebam um abração bem legal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário