Ontem fui apreciar a procissão do padroeiro do Capão, São Sebastião. A igreja pintada de novo, a vila engalanada, o povo contente. Muita gente. Não pouca coisa, muita mesmo. Como nunca vi por aqui. Além dos populares e dos turistas, tinha uma razoável quantidade de um grupo de pessoas que se intitulam alternativos, mas que a população local (não sei de onde tirou isso) chama de micróbios. Claro que a pronúncia varia: micróbio, micóbrio, micróbrio, micóbi, micróbi etc. Mas todos concordam que têm esse nome porque vivem explorando os outros, são parasitas. O povo é duro nas verdades e no humor! Este grupo sabe as festas onde há distribuição de comida aqui no Vale e ficam ligados. Pode ser que não tenham relógio e neguem o calendário (pelo menos o gregoriano, já que falam muito no calendário maia), mas as datas do Cosme/Damião e de São Sebastião, estas eles não falham. O povo não se apoquenta muito não. Exceto quando ficam impertinentes e fazem exigências, que isso acontece às vezes. A festa foi e estava bonita quando por lá estava. Tem a novena, das quais não vi mais que os pipocos dos fogos que ressabiam nas paredes das serras quando os fogos salvam o santo, e que dura vários dias; a última começou de noite e, sua parte profana, no outro dia de manhã. Apesar da farra profanicamente respeitada e religiosamente festejada, poucos foram os casos de acidentes e não houve violência. Para mim muito legal porque é chato costurar bêbado. Você já tentou? Não queira. E quando dá pra vomitar? Já viu coisa mais fedorenta do vômito de bêbado? Mas a conversa ‘tá indo por um rumo que prefiro desentortar.
Dizia da festa que foi linda e teve uma surpresa e tanto. Todo ano são nomeados 3 festeiros. O presidente, o vice e o tesoureiro. Sempre são homens que têm algum suporte de mulheres por trás. Ou casados ou solteiros, porém no caso dos últimos com mães ou irmãs ativas. Desta feita, diferentemente do todo o tempo de antes, foi indicada uma presidenta. Todo mundo se surpreendeu e os aplausos subiram às nuvens. Ninguém se apegou às tradições para argumentar ou negar. Havia uma genuína alegria pela quebra da tradição. Muito legal. O mundo está mudando.
Muito legal também a atitude de Gleiton. Ele era até muito recentemente o enfermeiro do posto. Para tristeza de todos, no concurso ele se deu mal (andei verificando, ele no nervosismo marcou no gabarito tudo errado). Daí saiu do posto que está, até agora acéfalo, já que a enfermeira que o substituirá pediu 1 mês para pensar. Apesar da tristeza e de alguns direitos não haverem sido respeitados quando de sua saída, o fato é que ele, mostrando grande dignidade e amor pela população, aí estava atendendo a quem necessitou. Ontem foi dormir cedo porque na noite anterior ficara até tarde na festa. Alguém passou mal e desinformado de que eu estava na rua, foi até sua casa; ele atendeu, trouxe até o posto e pediu que me buscassem, atendeu comigo e ainda atendeu uma outra pessoa. Antes de ontem a mesma coisa e no dia anterior fez mais ainda: Me telefonou para que eu orientasse uma certa situação para a qual minha presença não era tão essencial. Como já disse antes: Que profissional Palmeiras irá perder.
Tem coisas que precisam mudar, outras, me agradaria que permanecessem. Não sei se tanto por esse meu gosto do que já me acostumei. Mais no mais das vezes porque são coisas boas para presente e futuro. Mas como disse José de Alencar, na última página do livro Iracema: “Tudo passa sobre a Terra”. Os antigos diziam ademais que “o mundo dá muitas voltas”. Fico aguardando as voltas deste passar.
Sem mais um beijo no coração de vocês, Aureo Augusto, 25/1/10.
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