Esta escrevi ontem, mas não deu pra postar pq a internet estava estranha, pois a eletricidade estava estranha. Dada as estranhezas, só agora conto procês:
Hoje fui tarde pro rio. Eram 7h quando saí de casa e sorvi pelas narinas o cheiro da terra úmida. Acordei depois do tempo habituado e não ouvi a passarinhada acordando a manhã. É que nestes períodos de feriados é difícil de eu dormir uma noite inteirinha de comprido. Saio babatando no escuro procurando em vão ser silencioso o suficiente para não acordar Cybele, já acordada pelo grito áspero do telefone que toca muitas vezes, arrancando-me da mornidade da noite entre lençóis. Insetos picam gente sensível, barrigas doem, tornozelos, joelhos e gargantas. A noite passa interrompida como um caminho de formigas. Uma aqui outra mais, todas juntinhas, mas a trilha cheia de intervalos (comparei porque no caminho agora dei com uma correição). Nos feriados longos o Vale se enche de turistas e estes caminham com os modos de nuvens, roçando as montanhas. Por algum motivo dão de olhar as serras e as belezas demais sem parar de andar. Tropeçam. Também gostam de aventuras e sobem rochas e cachoeiras até descambar e caem muitas vezes como frutas maduras. Desatenciosos até onde não podem mais, na atenção das estrelas, como aquele filósofo que caiu no poço, acabam caindo, não no poço, em cima de pedras ou debaixo das águas. Quem guenta? Também querem experienciar esta coisa sã, absoluta, chã, irredutiva (esclareça-se) que é a Natureza. Vêm lambuzados de açúcar, chocolates, leites, refrigerantes, pastas arrancadas de latas esmaltadas e garrafas cristalinas. Expõem suas peles fragilizadas (em grande medida, não se esqueça, pelos não legumes no prato) à sanha zumbidora. Cada picada enfeita a cútis de grandes ronchas vermelhas foguinas, coçantes. Mas o mais de tudo é o avoamento radical. Bonito, encantador, mas tropeçador. Interessante é que o povo local acaba por contaminar-se um tanto desta condição de modo que acidentes ocorrem com eles mais por agora quando a vizinhança é farta de gente de fora; ademais é demais a festividade de guloseimas nos períodos festivos – nada se nega aos pequenos destas bolinhas coloridas artificiais e artificiosas. Por isso noites rompidas por sons estridentes e dores.
Gostoso foi chegar no poço da Cruzinha, aonde sempre vou, quando as noites não são mais espaços que formigas (de 31 para 1o, foi, fiquei mais acordado que dormindo, e não foi fazendo festa). Cheguei e me acocorei numa pedra sentindo no olhar a placidez do remanso. Foi aí que o vento começou a alisar minha cara e justo quando o sol apontou por sobre o Morro Branco e quentou tão suave como a mão de Cybele no meu rosto. Fiquei ali sentindo em silêncio por uns pares de minutos, antes de as nuvens requisitarem sua graça de luz. Caí na água e o cansaço virou lembrança.
Recebam um abraço novinho como o ano que começa.
Aureo Augusto
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