Foi no meio da noite, já chovia forte, o telhado cantava desde bem cedo. Aos pouquinhos os trovões se aproximaram precedidos pelos rompantes de luz, fugazes, relampaguinos. O Vale do Capão dormia gostosamente, que a chuva é canção de ninar. De repente uma luz e um pipoco. Sempre que vem uma luz, espera-se o ronco do trovão, tanto mais próximo um do outro, tanto mais sabemos que o raio caiu por perto. Quando bate um pipoco bem pertinho da centelha “foi no quintal da casa”. Não teve ninguém que tenha ficado acordado por aqui naquela hora. Pensei comigo que havia sido bom ter tirado as coisas das tomadas. Lençolzei-me de novo mergulhando nos sonhos.
Foi aí que escutei gente batendo na porta. 3 horas da noite. Por sorte a chuvarada dera um tempo e pude sair com o marido da parturiente até a caminhonete que nos aguardava. Foi uma felicidade para mim. Ela já havia perdido duas crianças em gestações mal sucedidas do passado, agora, com acompanhamento muito próximo chegara à 41a semana. Quando examinei tinha o colo apagado e mais de quatro cm de dilatação. E o melhor, a criança estava bem baixa. Não ia demorar. Questão de mais 3 ou 4 horas. Não pude eu mesmo fazer o parto porque a coluna está bem acabada, daí encaminhei para Iraquara, onde tem uma maternidade. O rio lambia voraz o fundo das pontes, todas elas, nenhuma escaparia de ser engolida... O carro me deixou perto de casa e fui o resto a pé, num escuro que não dava pra ver um palmo depois do nariz. É uma sensação muito interessante caminhar no escuro, com o caminho decorado na cabeça. Escutava as inúmeras águas que rolavam de todo lado embolando pelas encostas, gretas, saltando fora dos caminhos habituados. Tateava em alguns lugares onde sabia perigo. O pontilhão com a manilha furada, o trecho com as pedras soltas. Pensava na alegria do casal que iria agora receber o pequeno.
Há pouco (são 11h) fui avisado de que a criança nasceu às 7h e que foi tudo bem. Mais um para a rotina da vida, mais um para as surpresas que o mundo nos traz!
Em 14/1/10, recebam meu abraço, Aureo Augusto.
Oh...........Dr.Áureo!!! Então. 4 cm?? Só mais 6 cm e o nenen nasceria em suas mãos. Sua coluna não iria se ressentir tanto pois que faz o parto não é a mulher? O médico simplesmente não o assiste???
ResponderExcluirBrincadeirinha.......(este frase, é de um grupo de radicais a favor do PD a qualquer custo aonde a mulher toma as rédeas da situação). Mas sabemos que não é assim, senão não haveria necessidade de tanta evolução na medicina e de tantos Obstetras.
Mas eu posso lhe garantir uma coisa: a parturiente ficou frustrada.Ah........que ficou, ficou.
Eu tenho dois filhos e ambos nasceram de cesáreas. Fiz questão de acompanhamento em todo o pre-natal, no parto e no pós parto e, graças a Deus, fui privilegiada. Não aceitei ter os meus rebentos com um plantonista. Sou muito sensível a estas coisas.
Quanto à chuva, em meu vilarejo qdo chove, eu tb amo o tamborilar da chuva no telhado de barro. Amo de verdade.
E da forma que vc descreve, me deu até vontade de tirar um soneca, com aquele barulhinho delicioso que é o som da chuva (e ainda tem gente que odeia a chuva)
Um abraço
É verdade. Ela deve ter ficado um tto frustrada, principalmente pq havia perdido dois filhos com 3 e 4 meses. Por isso, embora resida em Palmeiras, fez acompanhamento no posto daqui do Capão comigo. Seguiu a orientação que dei e o filho vingou. Mas o principal é que está agora com ele nas mãos.
ResponderExcluirUm abraço,