Hoje o sol não se mostrou como nos dias passados de calor como nunca! Insinuou-se na madrugada uma mentira de frio, mas logo a manhã não economizou forno. Crestada a vegetação olha pra cima e se arrasta no chão. Mesmo a gente está cansada da borra quente que sopra à passagem dos carros na estrada, das motos enlouquecidas, dos cavalos e pedestres.
Nunca vi
calor como o que tem rolado no Vale estes dias!
O povo
assevera que isso é sinal de que o que falam dessas coisas de calotas polares
que se vão e buraco na camada de ozônio que cresce (ou crescia) “né mintira
não”. E o resultado, são os incêndios se espalhando, horríveis e belos,
marcando a noite com sua linha luminosa. Uma coisa assim como um colar de gemas
rubras ou amarelas cercando uma área negra estrelada. A beleza pode ser cruel.
A beleza não tem moral, mas o coração sofre às vezes apesar da beleza. Alguém
já deve ter dito isso.
Mas o legal
foi o que uma senhora me disse outro dia. Estava eu preocupado com a pressão
arterial dela, muito alta. Ela disse que podia ser o calor, mas me disse também
que quando morava em São Paulo (o povo nativo ia muito morar em São Paulo e
agora está voltando todo mundo) sempre a pressão estava alta. Mesmo no frio!
Mas me assegurou que sua alimentação era o contrário da serra ardente, era
“fria de sal”. Acreditei nela, pois quem não confiaria naquele rosto amarrotado
pelos anos. No entanto, procurei ver como estava sua alimentação e comecei a
investigar os temperos. Acabei aprendendo que ela usava caldo de galinha ou de
carne, cujo conteúdo em sal não é desprezível, acrescentava tempero pronto
industrializado cujo teor de sal é impressionante e muitas vezes com glutamato
monossódico que é 4 vezes mais hipertensor que o sal. Como se não bastasse ela
botava um pouquinho de sal puro para “batizar”. Eu já estava horrorizado, mas
aí ela ainda me informou que todos os dias saboreava uma gostosa carne de
sol... Horrorizada ficou ela quando eu fui lhe mostrando um a um o teor de sal
da sua frieza de sal. Brinquei que no calor que fazia, a comida dela estava
mais pra água do mar do que pra rio da Chapada. Ela me olhava entre crédula e
rebelde. Penso que ela sabe que tenho razão, mas não quer. E é direito dela não
querer, que arque com as conseqüências então. Isso é sério e belo. Somos
responsáveis pelas decisões que tomamos. O que levaria uma terna senhora a não
seguir as recomendações, conquanto muito bem explicadas, justificadas? Apegos,
descrença, outras crenças. Ela vem de São Paulo onde o médico do posto onde era
atendida, nunca lhe falou assertivamente da necessidade de alterar a
alimentação. Para ela as medicações tudo podem. Resolvem. Resolvida, para que
sacrifício? Este é um dos erros desta medicalização tão freqüente em nossas
vidas: Sub-repticiamente, quando não ostensivamente, informa-se que é possível
não se responsabilizar.
A medicação cura o diabetes, ou a hipertensão, ou a
bronquite... O tratamento afigura-se como um jogo entre o arsenal
terapêutico e a entidade mórbida. Tais termos informam quanto às
crenças que nos movem. Cuidar da saúde pode ser uma guerra contra um fantasma
peçonhento. Seremos salvos pelo exército medicamentoso! Mas, e se não for uma
guerra? E se a doença for um diálogo entre o que fazemos conosco e o que somos
capazes de suportar?
Cada qual
tem o seu direito de atuar como bem lhe apraz ou crê. Porém vivemos em um mundo
que nos traz respostas. Respostas virão. Portanto que nos responsabilizemos
pelos nossos atos para não sermos apanhados na queixa de que fomos vítimas
indefesas. Nem tudo depende de nós. Mas muito sim.
Podemos
especular em que a história da mulher "fria de sal" tem a ver com esta seca
tremenda e com os incêndios. Não sei, mas durante a escrita vi que tinha a ver.
O pintor não pinta a pessoa, mas a pessoa como é para o pintor. Matisse
corrobora esta afirmação. Aliás, o célebre surrealista Salvador Dalí dizia que
todos os quadros dele tinham um significado, embora nem sempre ele soubesse.
Este texto tem alguma coisa que eu mesmo não sei o que é.
Em 13/11/08
Cada vez mais me convenço de que o holismo tem que se tornar um comportamento constante em nós. Tudo é interdependente! Nada existe (ou resiste) isoladamente.
ResponderExcluirA afirmativa da homeopatia de que "não existe doença e sim o doente" sempre me conduziu a paradoxos. Mas é um fato: A doença, isoladamente, não existe, apenas situações mórbidas, organismos desajustados.
Isso me parece evidenciado pelos 'fatores patogênicos', digamos assim, como o sal. Questão de dosagem, o sal é imprescindível (no organismo, o que não implica na alimentação), mas seu excesso é veneno. Como tudo que existe.
Quem sobrevive sem água? Em excesso mata. Até o oxigênio em excesso tem consequências danosas.
Quer dizer: Tudo é resposta!
Convém sempre analisar e ponderar o que fazemos, pois a consequência, boa ou não, virá.
Não se prive de postar por ter crônicas antigas (não nos prive de lê-las), suas obsevações, sejam de que idade forem, são interessantes e, na maioria das vezxes, preciosas.
_Abraço estival.
Uma das melhores frases que li hoje: "Tudo é resposta"...
ResponderExcluirIndependentemente do que fizermos, tudo terá a consequência cabida para aquela situação. Primeira vez que vejo seu blog e sei que serei leitora constante!
Nos avise quando houver novas postagens e parafraseando o leitor acima, não nos prive dos seus textos, mesmo que "velhos"..
Abraços!
Nossa! Sou grato a vcs dois pelos comentários. Claro: Tudo é resposta. A cada dia somos convidados a perceber o singular pelo olhar do coletivo, o pequeno pelo olhar do grande e dito melhor, o detalhe pelo olhar do todo.
ResponderExcluirSeja bem vinda Bruna, chegou em boa hora, inda mais com este abraço estival de Tesco.