Fiz este texto inspirado em uma frase de uma
amiga, em 17/2/14, mas esqueci de posta-lo, aí vai:
À ESPERA DO ETERNO NOVO
"É necessário
compreender o eterno
para
descobrir o novo."
Mariane Riani
Olho-me no espelho da minha idade: não sou mais o mesmo; nunca
fui... Os acontecimentos construíram ao redor de mim e em mim um mundo de
mudanças que fizeram de mim uma coisa bem diferente do que era ou sonhei. Foram
muitas as vezes em que defini o como deveria ser e tratei de subordinar o
futuro ao que eu acreditava de como deveriam ser as coisas. O tempo capoeirista
deu um sem número de rasteiras nas verdades estabelecidas por mim.
Olho o espelho do mundo e dou-me conta de que o novo, ou
aquilo que nunca aconteceu, está em alguma dobra do tempo me esperando. As
surpresas são a rotina e apenas não percebemos com frequência pelo simples
motivo que nos recusamos a ver. Os padrões são algo tão fácil e tão comum que
não notamos (ou não queremos notar) que as repetições esperadas são sustentadas
pelo inesperado e que o conhecido é feito do Grande Mistério.
O que há de novo sobre a Terra? Nada que não seja eterno.
Talvez essa introdução possa parecer um platonismo, mas não
é isso. Não me parece que necessariamente tenha que existir um mundo das ideias
perfeito sendo este aqui, onde nós seres viventes experimentamos a existência,
sua representação no plano das imperfeições. Não entro nesta discussão que
Popper aceitou quando elaborou seu conceito de mundo três, com uma
semi-independência (é um mundo das ideias semelhante ao platônico, mas que não
é prévio como aquele e sim pós-criado pelo ser humano). É uma discussão para
sábios, mas ocorre-me que há algo de inominado por trás de todos os nomes.
Existem coisas que transcendem o tempo. Estão para além da finitude das coisas às
quais estamos acostumados. Há uma humanidade que transcende o tempo da vida de
cada um dos seres humanos. Há uma geologia além do tempo das montanhas que
cercam o vale em que vivo.
Repito, não entendo tanto assim de existências das ideias
ideais, porém o mundo nos informa uma infinidade de coisas objetivas ou não que
nos desafia exatamente pelo de novo que nos trazem, mas este novo, só será
acessado em sua plenitude quando temos de base a consciência daquilo imutável.
Talvez um exemplo simples seja o fato de que em nosso tempo tecnológico os
dilemas éticos continuam sendo os mesmos. Existem coisas que não mudam e é
estas a raiz do novo. No fluxo dos acontecimentos a cada dia encontramos coisas
novas, mas o fluxo aí está desde o início.
Há uma lenda zen que conta de dois jovens monges que viviam
em mosteiros vizinhos e um deles encontrava o outro quando ia para o mercado.
Vai daí que o monge Tai (inventei o nome) que varria o passeio perguntou a Chen
(idem): Aonde vai? Ao que ele respondeu que ia aonde seus pés o levavam. Tai
tomou aquilo como um desafio, ou seja, enganchou com a resposta. Então
perguntou a seu preceptor o que faria para não ficar num beco sem saída. O
mestre dele disse que na próxima oportunidade perguntasse: E se não tivesse
pés?
No dia seguinte Tai perguntou a Chen para onde ia. Chen
levemente respondeu, assinalando a brisa: Aonde o vento me levar. Esta resposta
não permitia que ele perguntasse pelos pés... Aí seu mestre sugeriu que
perguntasse: E se o vento parasse?
Tai aguardou ansioso o dia seguinte e quando Chen passou
perguntou-lhe aonde ia. Chen com a mesma tranquilidade de sempre respondeu que
ia ao mercado, deixando Tai sem ação.
Não mude com a mudança é a mensagem. E, no entanto, o mundo
muda constantemente. A questão é que não temos que provar nada ao mundo e só
percebemos isso quando percebemos o eterno por trás do novo. Já que muda tanto
o mundo, aí está sempre a mudança. Estando eu no fluxo, reconhecendo-o posso
ver o que é realmente novo emergindo.
Preparo-me para dormir e sei que amanhã serei outro, embora
meus amigos e colegas me tratem como se eu fosse o mesmo. Vou sonhar à noite,
perguntando-me se sou o sonho que me sonha ou se sou o sujeito do sonho. O
amanhecer me encontrará mudado, mas serei o mesmo de sempre, apesar de mais
alguns cabelos brancos.
Recebam um abraço novo de Aureo Augusto.
Reconhecemos o mundo que se avizinha a cada dia, somos seres inusitados diante da perplexidade do novo. Esta é a indagação da vida, mesmo que muitos afirmem saber quem são e, portanto, fortaleçam princípios e conceitos genéricos conforme as ideologias convenientes, diante do espelho se espantam com a aparente visibilidade ou maniqueístas reforçam uma necessária dominação. O texto apresentado nos remete a diversidade dos pensamentos e constatam quem seriamos nós amanhã...Grato. pela oportuna reflexão.
ResponderExcluireu é que sou grato, Emílio, pelo seu belo comentário.
Excluirabraço.
Primeiramente, Áúreo, é verdade que o tempo é o capoeirista-mor da humanidade.
ResponderExcluirPoucos não viram seus planos 'rasteirizados' pelo tempo, como Jesus de Nazaré, Sócrates,
Gandhi, Luther King ou Teresa de Calcutá (assassinatos não são sinônimos de fracassos). .
Agora, a partir da frase da Mariane e do seu post, percebi a verdade aterradora:
A finalidade de nossa vida (vidas, melhor dizendo) é compreender TUDO!
Tudo mesmo, também conhecido como ' o Todo'.
Isso é uma tarefa grande e nosso ritmo é de lesma.
Também assim, o que se apresenta novo pra nós, não é novidade no cosmos.
É apenas um desvelamento que presenciamos.
Nesse caso, não temos de mudar com as mudanças, mas incorporar as mudanças ao eterno em nós.
Se me fiz entender é o de menos, o assunto não é simples.
Abraço cósmico.
Claro que se fez compreender. O nosso destino é realmente Compreender TUDO.
ExcluirÉ não só uma árdua tarefa, como tb interessantíssima.
abração