domingo, 24 de janeiro de 2010

OS BICHOS

Outro dia, no posto onde trabalho, Marilza a auxiliar de enfermagem e Renilde, auxiliar de serviços gerais, comentavam dos animais. Renilde se aborrecia com os morcegos que, ao mordiscar as bananas na cozinha sujavam as paredes com suas fezes e também tinha ela medo do dia em que os bichinhos resolvessem chupar sangue. A custo convenci-a de que frugívoro não vira vampiro de uma hora pra outra. Tomara esteja convencida porque sua solução para os bichos é um tanto drástica. Nem vou dizer para não ferir os espíritos delicados. Nossa relação com os bichos e com os vegetais é paradoxal. De um lado nos encantamos com seus mil jeitos, com sua força e com sua beleza, de outro catamos em nós a violência na medida em que somos (real ou supostamente) invadidos. Invadimos, quanto a isso não há dúvida. E muito não notamos.
Gosto dos animais, e muito. Esses dias muito gostando futuquei os morcegos que na bistunta deles confundiram a linha do telhado com teto de caverna. Após alguns dias o aborrecido da brincadeira lhes fez optar por ir-se. Foi um momento a mais dos muitos em que tenho experienciado convivência com os mais variados bichos. Agradam-me em particular os selvagens. Gosto de cobras e ratos do campo, grilos, sariguês, morcegos e aranhas cabeludas, coelhos do campo, caxinguelês, meleiro, sagüis e galinha d’água... No momento desde há mais ou menos uma semana, temos toda noite uma correição de formigas em casa. São lava-pés, também conhecidas como jiquitaias. Elas fazem uns montinhos de terra fofa no meio da roça e quando pisamos nem notamos o macio. Muito depressa elas sobem pelas pernas e não mordem de primeira. Só depois de muitas metem as bundinhas na pele e a vítima sai pulando, igualzinho a pipoca. São bonitas, tudo sarará na cor. Elas, esses dias, entram pela porta da cozinha, distribuem alguns caminhos pela sala e vão para a despensa. Educadas, não comem nada, nem a rapadura ou a farinha de guerra. Olho e reparo que estão de passo. Ontem tivemos visita em casa pra passar a noite, visita humana. As jiquitaias foram educadas e reservaram só um caminho para uso. Não se espalharam e assim ninguém se bateu com ninguém e a noite acabou sem picadas.
Fascina-me esta presença. Fico olhando para seus caminhos e elas com suas bundinhas levantadas ameaçadoras e frágeis quando consideradas em suas individualidades. Ficam aos milhares paradas vigilantes postadas de um lado e outro do rio das demais que correm céleres indo e vindo. Até quando? Quem de nós vai se cansar?
As formigas, ocorre-me, não se preocupam muito com os demais. Em seu trabalhar, pouco se lixam para se onde passam é a casa ou ninho de alguém. Como um bando de maoístas fanáticos, desfilam igualitárias sua sumária justiça social aos nossos olhos, e sai de baixo quem tem individualidades mais marcantes. Tudo igualzinha, biológicas. A biologia delas ainda não produziu a complexidade tal que faça com que uma diga o ‘eu sou’ que nos faz a nós humanos capazes de injustiças. Elas são um bloco, como uma torcida de futebol, um grupo ideológico, ou um bando de religiosos prontos a salvar o mundo. Desde muito criança sou invocado com esses bichos pequenininhos que se fazem grandes na força do conjunto. Mal sabia ler e já havia descoberto que os cupins têm umas armas secretas que lançam contra inimigos, levava horas acompanhando formigas, térmites e cupins. Penso que temos a aprender com essa gente miúda, inclusive sem se asneirar julgando-os melhores do que nós; que na biologia não tem esse negócio de mais ou menos em termos de valores morais. Mas não só a miuçalha me atrai. Descobri a personalidade das cobras, umas mais outras de outro jeito, orgulhosas, os sariguês sem pressas e duros, ratinhos do campo curiosos e mistos de destemor e medo. Não é à toa que esopicos pensamentos em nós. Esopo em todos nós. Carecemos.
Em 24/1/10, recebem um abraço animal (do bem).

2 comentários:

  1. Caro, Dr. Áureo

    Eu sempre digo que sou uma protetora da natureza floral. Da botânica. Mas de bichossssss...Nossa! Eu quero distancia.

    Tenho verdadeiro PAVOR de bichos. Qualquer bichos. De aranha cabeluda eu sou capaz de ter uma sincope e cair durinha pois fui traumatizada ao tê-la sobre as minhas coxas, anos atras, qdo uma infeliz caiu do telhado da minha casa, em Nazaré das Farinhas e veio dar bem em cima de mim.. A paritr daí, nem em fotos eu consigo olhar para a peçonhenta.

    Não suporto ratos, cobras e tenho baratofobia. Detesto formigas, moscas, moriçocas, morcegos e para o seu desespero, até cachorros. Então?

    Tenho me reeducado em relação a cachorros pois aqui em Cações tem um totó de nome Astro, que lembra um lobo e o danado me adora. Aonde eu vou, ele vai atras e eu já estou caidinha por ele e por um outro, de nome Bibi. Mas não consigo comer nada, se um cachorro estiver por perto. Sinto ansias de vômito e fico enjoada. Alías eu não consigo comer com nenhum bicho por perto. O caso é tão sério que se eu estiver comendo eu não gosto nem quem fale de bichos. Vixe......meu caso te cura? *risos*

    Mas admiro muito quem ama os bichinhos. São espiritos mais evoluidos, talvez.

    Mas é bom eu deixar resgistrado que eu JAMAIS MACHUCO OU MALTRATO animais gratuitamente.A não ser que me ataquem. Nem baratas eu consigo matar. Então? Tenho salvação????

    Um abraço e continue postando. Adoro lê-los.

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  2. Cara Jussiara,
    fiquei impressionado com o seu relato. O legal é que vc não os odeia, o que leva a não maltratar. É uma pena que tenha estas fobias, pq os animais são mto legais. Vc já ouviu falar no psicólogo Miklos Burger? Acredito que ele poderia lhe ajudar.
    Fico feliz que vc gosta dos meus textos, mto feliz mesmo.
    Um abração

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