sexta-feira, 24 de julho de 2009

MEDICINA OCULTA NO COTIDIANO 5

Por mim postava um novo texto todos os dias. Mas ultimamente o tempo tem andado meio escasso. Saúde é algo que parece depender apenas do que fazemos com o nosso corpo. Alguns mais profundos pensam também nas emoções. Ocorre-me que devemos atentar também para a nossa filosofia de vida. Como vivemos, qual são nossas crenças, o que queremos. Epicuro foi um filósofo que viveu em Atenas quase 500 anos antes de Jesus nascer; vivia uma vida simples, mas intensa, no sentido de estar atento para cada detalhe dela. Se puder leia seu pequeno livro: Carta a Meneceu. É uma delícia! Agora vamos ao texto de hoje.
A LIÇÃO DE EPICURO AOS ESTÓICOS
Cícero, citado por Montaigne, dizia que optou por ser estóico, seita filosófica que preconizava forte severidade e intensa emulação da virtude, porque achava os ideais de Epicuro extremadamente elevados para sua capacidade. Disse que “aqueles que chamamos amigos do prazer, são na realidade amigos da honestidade e da justiça, respeitando e praticando todas as virtudes”. Ocorre que temos uma idéia completamente diferente do que seja epicurismo. Os estóicos, ou melhor, alguns estóicos inventaram mentiras acerca do epicurismo, que eles viam como a busca do prazer, o que é verdade, mas não a busca de qualquer prazer e sim o encontro do prazer na virtude. Concordo com Cícero, que apesar de sua opção pelo estoicismo, considera o epicurismo superior e muito difícil de ser alcançado. Não é fácil ser estóico, pois esta proposta de vida implica uma luta constante contra as más inclinações do caráter. Sendo eu covarde, como portar-me corajosamente? Primeiro terei que ter a coragem de reconhece-lo, o que não é fácil. Sempre tendemos a esconder de nós mesmos aquilo que em nós vemos como reprovável. Há que vencer também a inclinação a justificar tal covardia, ou considera-la virtuosa, chamá-la, por exemplo, de prudência. E este é um jogo comum e, por comum, difícil de ser identificado. Uma vez vencida esta etapa, o candidato à virtude estóica deverá enfrentar seu vício e lançar-se ao aprendizado, ou ao desenvolvimento, ao cultivo da coragem. Mas como ser aquilo que não se é? Daí a labor dura da fomentação. Aprendi com um amigo, Aydano de Seabra, que quando uma população não se dá conta de sua potencialidade agrícola, cabe ao bom governante fomentar, isto é, ajudar à gente camponesa fornecendo-lhe os implementos necessários até que, uma vez incorporado o novo caminho, possam seguir com as próprias pernas. Seria um trabalho semelhante esta fomentação da coragem em si mesmo. Mas tudo isso pressupõe sofrimento, luta, cansaço. Sofrimento, luta e cansaço estes que levariam a uma maior satisfação interior uma vez que a vitória fosse consolidada. E aqui, na palavra satisfação, é onde o estoicismo se funde ao epicurismo. O grande passo de Epicuro, e o que o tornava sumamente difícil, é que para ele a virtude só o é, na medida em que exercida com agrado, malgrado todas as dificuldades. Mas não apenas no fim consolidado; também durante o processo. Lembro-me de algumas pessoas “virtuosas”, que são profundamente infelizes. Fazem o bem, mas este fazer é tão doloroso; dizem-se honestas, porém me passam a impressão de que o são apenas por falta de oportunidade ou coragem de praticar o mal. Na modorra de suas vidas não há lugar para o prazer virtuoso. Pior: Para aqueles jovens com quem se relacionam passam a triste mensagem de que o bem é um fardo, e, na verdade, efetivamente para eles é um peso que carregam como se burros de carga fossem. Mourejam no exercício do bem, propagandeiam sua infelicidade para que todos saibam de suas dores e sacrifícios, atormentam os demais com suas propaladas bondades, exigem que se lhes sigam os exemplos, disseminam a idéia de que o bem é um abuso. Por isso Epicuro neles.
E quanto a mim, e quanto aos muitos que são como eu, covardes e lassos para a virtude? Montaigne é uma boa resposta. Há uma filosofia para os heróis e outra para as pessoas como eu. Todos nós temos uma propensão para o bem, até porque esta é uma boa forma de conviver em paz com todos. Daí que a nossa saída é aproveitar tal propensão e de uma forma suave e delicada ir fomentando o progresso desse bem, inabilitando aos poucos aos vícios. Seguir Antístenes (também citado por Montaigne): “Desaprender o mal”. Algumm sucesso obtive nesta empreitada portando-me desta forma. Coisa que não ocorreu quando, muito equivocadamente, pensei de mim que era um herói.
Recebam um abração.

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