sexta-feira, 31 de julho de 2009

MEDICINA OCULTA NO COTIDIANO 6

A CARNE DE LILI
Lili é um sujeito especial aqui no Vale do Capão. Seu empreendedorismo faz dele um destaque entre os de sua geração nascida neste lugar tão bonito. Primeiro começou a trabalhar com Medinho, outro exemplo, em seu supermercado, mas logo observou as pessoas que para cá imigraram e construíram pousadas e campings. Aprendeu delas e fez sua própria pousada. Depois percebeu a necessidade de uma boa quitanda e construiu uma. Para que a quitanda tivesse produtos de qualidade precisou de uma caminhonete para buscar produtos e também para trazer o esterco utilizado na horta orgânica que toca juntamente com um irmão, horta esta enorme, que produz de tudo, inclusive um tomate delicioso. Sensível às necessidades sociais, fundou, juntamente com Tião, filho de Araci, uma escolinha de futebol para crianças, condicionando a participação à presença na escola. Agora recebi a notícia que ele acaba de fundar a primeira churrascaria do vale. Lili não vai parar e isso o torna um exemplo para todos nós.
No entanto devo confessar que me agradaria mais se fizesse um restaurante natural em vez de uma churrascaria. Mas ele sabe, pois não nasceu ontem, que um restaurante natural não daria lucro. Encontrei-o no supermercado e falei que iria visitar seu novo restaurante e muito alegre já me disse que as saladas que serve são maravilhosas. Isso me alegrou. Quando faço longas viagens de carro, as churrascarias são um porto seguro. Ali, embora eu não coma carne, encontro saladas maravilhosas, mesmo em lugares inesperados, como no litoral nordestino, onde fora de frutos do mar e arroz branco, é difícil encontrar o que comer (embora a situação esteja mudando rapidamente, pois em Alagoas, lugar que há algum tempo salada era sinônimo de tomate e cebola, hoje existe uma pousada encantadora confortável, tudo feito com um bom gosto impecável e uma excelente comida natural para aqueles que gostam e querem, além da comida usual – Pousada da Amendoeira, em S. Miguel dos Milagres). Mas voltando às churrascarias, elas me dão a possibilidade de almoçar e o mais legal é que na hora de cobrar, os garçons ficam meio sem saber o que fazer porque eu não comi justo o principal, para eles, que é a carne.
Quando vim morar aqui no Vale do Capão, há mais de vinte anos, as pessoas quase não comiam carne. Era cara. Às vezes eu via sobre o telhado de alguma casa um troço de ossos descarnados e descobri que ali era a geladeira deles. Sorte do povo que faz frio e não tem urubu, bicho que só aparece nos períodos mais quentes, e se hoje não são tão comuns por aqui, no passado o eram bem mais raros. Agora temos dois açougues. Indicador claro da melhoria das condições econômicas locais. Indicador também de que um movimento mundial atinge este lugar. Isso me faz lembrar um editorial do British Medical Journal, o mais antigo e mais respeitado jornal médico. Refiro-me a uma edição de dezembro/96, onde o autor, professor de epidemiologia na London School of Hygiene and Tropical Medicine, Dr. A.J. Mc Michael, comenta que o consumo de carne derivada de ruminantes (boi, por exemplo) na sociedade humana nunca foi tão alto. O referido professor demonstra sua preocupação, pois não só “os estudos epidemiológicos indicam que os vegetarianos vivem um pouco mais tempo do que as pessoas que comem carne”, e conseqüentemente seria de se indicar um consumo moderado das carnes. Também alerta para os prejuízos ecológicos desta revolução alimentar, já que “a produção de carne é uma forma de produção muito lesiva a nível do ambiente”. Milhares de hectares de matas vêm sendo sistematicamente destruídas para a ‘plantação de gado’ e as conseqüências se fazem sentir na degradação ambiental. Isso é tão sério que Mc Michael cita as palavras do Dr. V. Smil: “As dietas ricas em carne são uma aberração muito recente insustentável a uma escala global”. E, infelizmente esta aberração está se espalhando rapidamente, tendo chegado inclusive no Vale do Capão. Observem que esses comentários não foram publicados em um folheto ‘natureba’ e sim no prestigioso BMJ, que não pode ser taxado de alternativo, místico, nem fantasista. Não custa pensar nisso. Voltarei ao tema.
Recebam um abração, Aureo Augusto.

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