Dinha é uma pessoa generosa. Como poucas. Precise dela e verá. Sua bondade manifesta-se clara e fácil. Já houve quem se aproveitasse disso, o que é uma pena, mas é assim mesmo, como diz o povo daqui. Uma vez alguns rapazes, vindos de uma caminhada lá do Pati, passaram na casa dela e perguntaram se havia comida. Disseram que eram moradores “das Campinas”, uma comunidade alternativa que existe no início do caminho que vai dar em Lençóis. Como ela gosta do pessoal da comunidade, deu de comer aos caminhantes. Logo saíram felizes e, como eu estava indo para os lados do sul (que é o lado da casa de Dinha), cruzei com eles assim que deixaram a casa dela, o que ela percebeu. Perguntou-me se os conhecia e neguei. Quis saber se eram residentes daquela comunidade e eu disse que não porque à época conhecia bem todos os moradores de lá. Ela se aborreceu. Mas nem por isso abandonou sua generosidade. É que esta virtude costuma se enraizar com força nas pessoas que a desenvolvem. Talvez porque além de ser uma virtude é uma alegria, já que, de certa maneira, é uma forma de amor. Os povos mais primitivos têm-na na mais alta conta. Nos ensina Etienne Samain no seu livro Moroneta Kamayurá que entre as tribos do alto Xingu os líderes são tão mais respeitados quanto mais generosos forem. Interessante comparar com os costumes celtas, onde o líder só era querido e respeitado na mesma medida. Isso, evidentemente, não implica que não tenham outras qualidades, mas esta é muito importante. Alguns psicólogos evolucionistas, ou darwinistas, consideram que a generosidade é uma estratégia de um tal gene egoísta, que nos inspira a certas atitudes com o interesse de se autopreservar. Acho essas explicações um tanto estapafúrdias porque o mero bom senso me diz que a autopreservação pura (que seria um egoísmo) jamais levaria à doação de bens, pelo contrário, trataria de acumula-los. Dinha, fosse puramente ‘autopreservadora’, não sendo ela uma pessoa monetariamente rica, veria no pedido daqueles caminhantes uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro, que lhe fortaleceria a renda, principalmente se levarmos em conta o fato de que ela nada devia ou deve ao pessoal “das Campinas”; ainda mais se levarmos em conta que ela e sua família mourejam e muito para conseguir viver satisfatoriamente. Penso que às vezes os cientistas estão tão envolvidos com uma determinada explicação do mundo que se perdem da realidade. E nisso não são diferentes de nós, gente comum, e relativamente ignorante. Mas gosto do que comentou o biólogo Rolf Bencke em seu prefácio ao livro de Varela e Maturana, A Árvore do Conhecimento; disse que todos os seres sociais, inclusive nós, humanos, temos um impulso biológico fundamental para a cooperação e mesmo para o altruísmo. Dinha, assim me parece, corresponde com profunda leveza e tranqüilidade a este impulso.
Seguramente alguns, observando os noticiários, perguntam-se onde está este tal impulso biológico altruísta, uma vez que já estamos saturados de escutar ou ler as notícias de tantas mortes, guerras, roubos, extorsões etc. Sim, a generosidade pode não estar tão à mostra. Talvez seja porque, culturalmente aprendemos a não ter tanto interesse pelas boas notícias. Observe: Quando acontece uma situação desagradável rapidamente junta gente para ver; não é o mesmo número se acontece algo edificante. Mas isso não significa que não nos emocionemos com o bem, pelo contrário; o Brasil, tão rico em notícias lastimáveis, também é rico em gente que ajuda aos demais e de vez em quando, nos noticiários, espremidos entre as histórias terrificantes encontramos notas sobre aqueles que são como minha vizinha, Dinha. E estas notícias nos tocam o coração. Somos bem egoístas, não nego, nós os seres humanos, talvez tenhamos também um impulso biológico para o egoísmo, afinal não fosse nosso desejo de sobreviver, não viveríamos. No entanto, me parece que a generosidade é mais freqüente do que imaginamos. Precisamos apenas retirar os óculos de ver miséria e limpar os olhos com a água de ver generosidade.
Recebam um abraço de Aureo Augusto.
domingo, 13 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
FESTIVAL DE JAZZ NO CAPÃO
No último fim-de-semana tivemos aqui no Capão uma coisa maravilhosa: Um festival de Jazz! Tudo foi legal. Veio gente pra dar de pau! Teve um momento que assistia ao show (simplesmente delicioso) do Grupo Garagem e quando terminou saí com Cybele pra dar uma olhada geral. Fiquei impressionado com a quantidade de gente. Muita gente mesmo! Como eu nunca vi aqui no Vale.
E, no entanto, tudo tranqüilo. Nada de briga, ninguém muito bêbado. Tinha um ou outro cara que exagerou na bebida, mas não a ponto da inconveniência. A polícia rodoviária e a catingueira fizeram blitz na entrada do Vale, o que foi muito bom. Deram um tratamento muito bom às pessoas, não houve truculência e pegaram várias pessoas transportando drogas (inclusive crack) o que eliminou de imediato certo tipo de gente. A mera presença da polícia teve o papel de desestimular um grupo de pessoas bem desagradáveis que adoram dizer que a polícia é algo “baixo astral”, quando este grupo sim, que é baixo astral demais, com suas drogas, incluindo o álcool, o barulho e o desrespeito aos costumes locais.
O som na medida certa, nada de bate-estaca destruindo tímpanos. Banheiros químicos (olha só que chique, tive até vontade de ir lá só pra ver como era), horários sendo respeitados...
Penso que esta experiência é ótima para a população do Capão, por vários motivos. O primeiro é quanto à questão da organização. Ficou claro que com um bom planejamento, muita gente agride menos o ambiente e o modo de vida local do que pouca gente sem planejamento. As pessoas, bem informadas, evitaram espalhar lixo. Inevitavelmente houve sujeira, claro, mas nada daquela exaltação de mijo e bosta por toda parte. Nada daquele cheiro amoniacal nos cantos escuros ou menos visitados.
Também me parece muito boa a oportunidade da gente experimentar boa música. O Vale tem um padrão musical muito legal graças ao Coral do Vale, às escolas etc. Mas o bombardeamento da música barulhenta e midiática, voltada para a exploração e o incentivo de uma sexualidade adulterada (e não liberada como alguns dizem), que busca lucro fácil, está presente em toda parte. Por isso eventos como este nos ajudam a educar o ouvido e ensina-nos uma beleza também quente, menos fácil e viciante.
Uma mulher de meia-idade, nativa, conversou comigo de sua alegria porque não teve fedor de maconha. Comentou que quem quiser fumar que o faça em suas casas, não na praça, como acontece quando a polícia não está. Outras duas senhoras que encontrei na apresentação do Garagem estavam muito felizes porque tinham muito trabalho fazendo comida pra os visitantes e aproveitaram alguns minutos para deliciar-se na praça. Um jovem me disse que queria que fosse de Reggae. Mas depois disse que gostou apesar de tudo (!). Ainda bem que gostou, pois seu ouvido merece reggae, que é um ritmo muito gostoso, mas merece também samba, jazz, blues, clássicos e outros.
Para que exerçamos o livre arbítrio precisamos conhecer outras opções e não apenas o que nos martela a publicidade.
Teve trabalho para todos, alegria para todos, música para todos. Paz para todos!
Agora aguardo ansiosamente o próximo no ano que vem.
Um beijão pra todos, Aureo Augusto.
E, no entanto, tudo tranqüilo. Nada de briga, ninguém muito bêbado. Tinha um ou outro cara que exagerou na bebida, mas não a ponto da inconveniência. A polícia rodoviária e a catingueira fizeram blitz na entrada do Vale, o que foi muito bom. Deram um tratamento muito bom às pessoas, não houve truculência e pegaram várias pessoas transportando drogas (inclusive crack) o que eliminou de imediato certo tipo de gente. A mera presença da polícia teve o papel de desestimular um grupo de pessoas bem desagradáveis que adoram dizer que a polícia é algo “baixo astral”, quando este grupo sim, que é baixo astral demais, com suas drogas, incluindo o álcool, o barulho e o desrespeito aos costumes locais.
O som na medida certa, nada de bate-estaca destruindo tímpanos. Banheiros químicos (olha só que chique, tive até vontade de ir lá só pra ver como era), horários sendo respeitados...
Penso que esta experiência é ótima para a população do Capão, por vários motivos. O primeiro é quanto à questão da organização. Ficou claro que com um bom planejamento, muita gente agride menos o ambiente e o modo de vida local do que pouca gente sem planejamento. As pessoas, bem informadas, evitaram espalhar lixo. Inevitavelmente houve sujeira, claro, mas nada daquela exaltação de mijo e bosta por toda parte. Nada daquele cheiro amoniacal nos cantos escuros ou menos visitados.
Também me parece muito boa a oportunidade da gente experimentar boa música. O Vale tem um padrão musical muito legal graças ao Coral do Vale, às escolas etc. Mas o bombardeamento da música barulhenta e midiática, voltada para a exploração e o incentivo de uma sexualidade adulterada (e não liberada como alguns dizem), que busca lucro fácil, está presente em toda parte. Por isso eventos como este nos ajudam a educar o ouvido e ensina-nos uma beleza também quente, menos fácil e viciante.
Uma mulher de meia-idade, nativa, conversou comigo de sua alegria porque não teve fedor de maconha. Comentou que quem quiser fumar que o faça em suas casas, não na praça, como acontece quando a polícia não está. Outras duas senhoras que encontrei na apresentação do Garagem estavam muito felizes porque tinham muito trabalho fazendo comida pra os visitantes e aproveitaram alguns minutos para deliciar-se na praça. Um jovem me disse que queria que fosse de Reggae. Mas depois disse que gostou apesar de tudo (!). Ainda bem que gostou, pois seu ouvido merece reggae, que é um ritmo muito gostoso, mas merece também samba, jazz, blues, clássicos e outros.
Para que exerçamos o livre arbítrio precisamos conhecer outras opções e não apenas o que nos martela a publicidade.
Teve trabalho para todos, alegria para todos, música para todos. Paz para todos!
Agora aguardo ansiosamente o próximo no ano que vem.
Um beijão pra todos, Aureo Augusto.
sábado, 22 de maio de 2010
VERDADE INDETECTÁVEL
Ela era uma jovem bela, com um sorriso situado entre a matreirice e a timidez, além de um corpo que inspirou muitos desejos na juventude daquele distante lugar onde vivia. Lá um dia se interessou por um rapaz o qual deixou a esposa, uma daquelas amélias, sempre dizendo sim, sempre aceitando todas as suas idéias e acompanhando o marido em todas os caminhos. Não se sabe se ela, a jovem bela, não a esposa (boa pessoa, mas um tanto sem graça) foi quem deu o passo na direção do rapaz ou se foi este quem insistiu para que algo acontecesse. Fato é que se juntaram e os destinos de ambos se atrelaram por um bom tempo. Até que se soube que o cara abandonou-a, reorientando sua vida para o caminho daquela esposa sempre obediente e pronta para retornar com ele no momento em que os azares da vida o fizeram ver nela de novo alguém a quem poderia olhar com aquele sentido de ser dois. Mas o que se conta, conquanto ao certo ninguém sabe o que de certo aconteceu, é que ela, vivendo com ele, olhou tentada por um vizinho o qual por sua vez já tinha dona. Contam que engravidou deste vizinho e por isso a coisa desandou e foi tal o desandar que dizia àqueles mais próximos que queria perder a criança e que isso de melhor era para todos. Mas o que contam, sem endereço certo, ou seja, sem que se saiba de testemunho presente, é coisa sem muita validade.
Certo mesmo é que o médico a viu em companhias bizarras bebendo farreando muito, coisa que sua religião, naquele distante lugar jamais iria perdoar. Notou ele que seu agir estava em franco desacordo com o que dela já conhecia. Certo também foi que um dia lhe correram a chamar, melhor dito, o rapaz aquele que havia largado e voltado à esposa veio busca-lo em sua casa lhe pedindo ir vê-la que estava mal. O médico colocou o sobretudo que o tempo pedia e acorreu a ver a mulher que sofria. Ali a examinou e a história dela dizia de muitas cólicas iniciadas tão logo engravidara de uma desejada criança. E nisso ia até que agora, após quase quatro meses, muito bem catalogados, eliminara com dor atroz uma coisa globosa e muito sangue. O exame ainda mostrou o útero grande e sinais de que o abortamento não fora completo e que haveria risco para a vida da mãe, havia que ir ao hospital. Ela mostrou-lhe lágrimas porque o pai, e citava o nome do rapaz que havia ido buscar o médico (e que não era o vizinho que tanto se falava por aí) estava bastante contente com a gravidez e com o filho e agora esta perda era triste – mas o médico sabia que o rapaz já estava instalado na casa com aquela que era a sua esposa antes abandonada e agora retomada – e olhava longe como para apaziguar a dor...
Enquanto retornava para casa, curvando-se em consonância com as árvores ao vento, pensava se ela não sabia que o rapaz já estava com a esposa, ou será que ela chorava porque sabia, mas confiava que este filho novo lhe garantiria sua fidelidade a si, e era, portanto, um investimento àquela altura frustro. Porém, a esposa abandonada ela também tinha filhos com o rapaz, filhos estes que nada garantiram para ela. Por outro lado, se ela tanto queria aquela criança, porque a vida desregrada que adotou sabendo-se grávida? Ela lhe negara peremptória qualquer ato abortivo. Mas será? Outrossim, pode ser que o rapaz, depois de algum tempo, enciumado ou não do vizinho, com razão ou não, olhou por si só (com ou sem motivo especial) para a sua ex-esposa, e nela viu algo que antes não lhe tocara, ou que notara nos tempos do namoro e agora renascera. Pode ser que ele tenha se arrependido e voltado, como uma pessoa que faz uma viagem e retorna para casa, ou acorda de um sonho. Só que neste caso, a viagem, o sonho, era outra pessoa que não aceitou e sofreu. Algumas mulheres por estes campos usam de engravidar e parir para segurar homens – coisa que nunca deu muito certo, mas enfim... – e ela, a bela jovem no desespero quis e quando mesmo assim ele se foi ela oscilou entre querer e não e ficou alternando entre o cuidado materno e uma vida alheia à sua até então. O médico pensou tudo isso e pensou também que não adiantaria perguntar, porque ela jamais falaria a verdade. Há algumas coisas que as pessoas preferem ocultar. E, negar verdades, é uma forma de impedir certezas. Nem sempre é possível encontrar o que realmente aconteceu de uma coisa, e, registre-se, não apenas porque os protagonistas deliberadamente mentem, mas também porque aqueles que participam de uma história, vivem-na conforme crêem ou da maneira como suportam. Cada fato na vida tem o seu significado, mas este significado é construído não apenas com o fato cru, mas com toda a carga pregressa de tudo o que aprendeu-se, identificou-se, desenhou-se para si.
Nem história, nem medicina são ciências exatas!
Em 21/5/10, quero que vocês recebam um abraço, Aureo Augusto.
Certo mesmo é que o médico a viu em companhias bizarras bebendo farreando muito, coisa que sua religião, naquele distante lugar jamais iria perdoar. Notou ele que seu agir estava em franco desacordo com o que dela já conhecia. Certo também foi que um dia lhe correram a chamar, melhor dito, o rapaz aquele que havia largado e voltado à esposa veio busca-lo em sua casa lhe pedindo ir vê-la que estava mal. O médico colocou o sobretudo que o tempo pedia e acorreu a ver a mulher que sofria. Ali a examinou e a história dela dizia de muitas cólicas iniciadas tão logo engravidara de uma desejada criança. E nisso ia até que agora, após quase quatro meses, muito bem catalogados, eliminara com dor atroz uma coisa globosa e muito sangue. O exame ainda mostrou o útero grande e sinais de que o abortamento não fora completo e que haveria risco para a vida da mãe, havia que ir ao hospital. Ela mostrou-lhe lágrimas porque o pai, e citava o nome do rapaz que havia ido buscar o médico (e que não era o vizinho que tanto se falava por aí) estava bastante contente com a gravidez e com o filho e agora esta perda era triste – mas o médico sabia que o rapaz já estava instalado na casa com aquela que era a sua esposa antes abandonada e agora retomada – e olhava longe como para apaziguar a dor...
Enquanto retornava para casa, curvando-se em consonância com as árvores ao vento, pensava se ela não sabia que o rapaz já estava com a esposa, ou será que ela chorava porque sabia, mas confiava que este filho novo lhe garantiria sua fidelidade a si, e era, portanto, um investimento àquela altura frustro. Porém, a esposa abandonada ela também tinha filhos com o rapaz, filhos estes que nada garantiram para ela. Por outro lado, se ela tanto queria aquela criança, porque a vida desregrada que adotou sabendo-se grávida? Ela lhe negara peremptória qualquer ato abortivo. Mas será? Outrossim, pode ser que o rapaz, depois de algum tempo, enciumado ou não do vizinho, com razão ou não, olhou por si só (com ou sem motivo especial) para a sua ex-esposa, e nela viu algo que antes não lhe tocara, ou que notara nos tempos do namoro e agora renascera. Pode ser que ele tenha se arrependido e voltado, como uma pessoa que faz uma viagem e retorna para casa, ou acorda de um sonho. Só que neste caso, a viagem, o sonho, era outra pessoa que não aceitou e sofreu. Algumas mulheres por estes campos usam de engravidar e parir para segurar homens – coisa que nunca deu muito certo, mas enfim... – e ela, a bela jovem no desespero quis e quando mesmo assim ele se foi ela oscilou entre querer e não e ficou alternando entre o cuidado materno e uma vida alheia à sua até então. O médico pensou tudo isso e pensou também que não adiantaria perguntar, porque ela jamais falaria a verdade. Há algumas coisas que as pessoas preferem ocultar. E, negar verdades, é uma forma de impedir certezas. Nem sempre é possível encontrar o que realmente aconteceu de uma coisa, e, registre-se, não apenas porque os protagonistas deliberadamente mentem, mas também porque aqueles que participam de uma história, vivem-na conforme crêem ou da maneira como suportam. Cada fato na vida tem o seu significado, mas este significado é construído não apenas com o fato cru, mas com toda a carga pregressa de tudo o que aprendeu-se, identificou-se, desenhou-se para si.
Nem história, nem medicina são ciências exatas!
Em 21/5/10, quero que vocês recebam um abraço, Aureo Augusto.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
ESPERANÇA TRAQUINA
Tenho andado com o tempo bem apertado. Já comentei em outro momento e repito aqui que esse papo de vida bucólica do campo só dá mesmo para quem não tem o que fazer (no sentido de que corre do trabalho). É impressionante como o tempo pare coisa! Por isso tenho escrito relativamente pouco (embora esteja escrevendo algumas coisas para a vida profissional que um dia partilho com vcs). Este texto que se segue, escrevi-o em 4/10/05, há mto tempo portanto, mas gosto de sentir de novo o que ele diz e passo pra sua apreciação:
A criança estava sentada no colo da mãe. Tinha 3 anos e uma beleza traquina com suas duas tranças saindo dos lados da cabeça. Olhou-me e abriu um largo sorriso. Brinquei um pouco com ela enquanto esperava a ficha da pessoa que já aguardava sentada na sala de atendimento. As crianças sabem encontrar uma brecha para a alegria, pensei; penso. Sei. Outro dia estava revendo as belíssimas fotos de Sebastião Salgado no livro ‘Retratos de Crianças do Êxodo’ (Cia das Letras). Conta-nos o fotógrafo que em sua labuta de registrar os tantos desastres que a humanidade impinge a si mesma, além daqueles oriundos dos fenômenos naturais, as numerosas crianças vítimas destes eventos sempre lhe pediam para que as fotografasse e ele o fazia para satisfazer-lhes o desejo. Depois de fotografadas elas se retiravam a brincar. Enquanto os adultos se matam, as crianças, aquelas que ainda conseguem manter-se crianças, brincam.
Não dou para ser pediatra, é que crianças não falam a nossa língua fácil para nós adultos. Reconheço nelas a língua delas, mas reconheço também em mim uma incompetência na tradução e, por isso, prefiro que pessoas mais afins com este tipo de linguagem se ocupem de cuidar dos pequenos (mesmo que as crianças acabem gostando de mim). Dizia que não dou para ser pediatra, e isso é a mais pura verdade, mas o fato é que gosto dos pequenos, divirto-me com eles, ainda mais porque aqui, no Vale do Capão, até o momento não tinha outro médico e, na falta de algo melhor, foi eu que atendi muitas das crianças que padeceram de algum mal. Que jeito! E se jeito não há, o que terá que haver é a disposição de se alegrar. Daí a menina de olhar travesso entrar em sua hora de consulta muito da satisfeita e depois fixar em mim seus grandes e negros olhos enquanto eu explicava para a mãe que ela estava com lombrigas, daí a inapetência que, mesmo com os vermes melhorou (contou a mãe) com o uso da multimistura que a ‘pastoral da criança’ tanto divulga. Enquanto isso a criança ria me olhando. É interessante como esta turma miúda habitualmente quando retorna para uma nova consulta ou para trazer os resultados dos exames (caso da menininha) em geral já se sentem em casa no meu consultório. Concordamos nós quatro (Marilza, a enfermeira, inclusive, que estava presente) com a terapia a ser usada e a pequena saiu saracoteando sua capacidade de transformar o mundo.
Saiu a criança derramando esperança nos olhares das pessoas...
Receba um abraço de Aureo Augusto.
A criança estava sentada no colo da mãe. Tinha 3 anos e uma beleza traquina com suas duas tranças saindo dos lados da cabeça. Olhou-me e abriu um largo sorriso. Brinquei um pouco com ela enquanto esperava a ficha da pessoa que já aguardava sentada na sala de atendimento. As crianças sabem encontrar uma brecha para a alegria, pensei; penso. Sei. Outro dia estava revendo as belíssimas fotos de Sebastião Salgado no livro ‘Retratos de Crianças do Êxodo’ (Cia das Letras). Conta-nos o fotógrafo que em sua labuta de registrar os tantos desastres que a humanidade impinge a si mesma, além daqueles oriundos dos fenômenos naturais, as numerosas crianças vítimas destes eventos sempre lhe pediam para que as fotografasse e ele o fazia para satisfazer-lhes o desejo. Depois de fotografadas elas se retiravam a brincar. Enquanto os adultos se matam, as crianças, aquelas que ainda conseguem manter-se crianças, brincam.
Não dou para ser pediatra, é que crianças não falam a nossa língua fácil para nós adultos. Reconheço nelas a língua delas, mas reconheço também em mim uma incompetência na tradução e, por isso, prefiro que pessoas mais afins com este tipo de linguagem se ocupem de cuidar dos pequenos (mesmo que as crianças acabem gostando de mim). Dizia que não dou para ser pediatra, e isso é a mais pura verdade, mas o fato é que gosto dos pequenos, divirto-me com eles, ainda mais porque aqui, no Vale do Capão, até o momento não tinha outro médico e, na falta de algo melhor, foi eu que atendi muitas das crianças que padeceram de algum mal. Que jeito! E se jeito não há, o que terá que haver é a disposição de se alegrar. Daí a menina de olhar travesso entrar em sua hora de consulta muito da satisfeita e depois fixar em mim seus grandes e negros olhos enquanto eu explicava para a mãe que ela estava com lombrigas, daí a inapetência que, mesmo com os vermes melhorou (contou a mãe) com o uso da multimistura que a ‘pastoral da criança’ tanto divulga. Enquanto isso a criança ria me olhando. É interessante como esta turma miúda habitualmente quando retorna para uma nova consulta ou para trazer os resultados dos exames (caso da menininha) em geral já se sentem em casa no meu consultório. Concordamos nós quatro (Marilza, a enfermeira, inclusive, que estava presente) com a terapia a ser usada e a pequena saiu saracoteando sua capacidade de transformar o mundo.
Saiu a criança derramando esperança nos olhares das pessoas...
Receba um abraço de Aureo Augusto.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
DOS ENCERRAMENTOS
Nem sempre é fácil fechar um período em nossas vidas. Há bastante tempo eu vivia em uma comunidade alternativa (esta palavra pede comentários, mas não os farei agora). Nela vivia um jovem muito agradável. Ele mostrava-se feliz por ali viver e foi assim durante alguns anos, porém com o tempo uma inquietação tomou conta de seu corpo e ele já não estava mais tão bem naquele lugar. Durante o período em que ali viveu, foi um colaborador excelente, mostrando-se delicado com os demais e um trabalhador ativo, contribuindo efetivamente para o próprio bem estar e para o conforto de todos. No entanto chegara a ora de seguir outro caminho, porque às vezes os caminhos se separam e a trilha que é a nossa vida, de repente, pode embicar para um lado inesperado. Pensamos que as sendas que trilharemos no nosso viver serão de um determinado jeito e, quase sempre, acontece mais ou menos do jeito que pensamos. Mas ‘quase sempre’ não é ‘sempre’. Por isso sempre ‘alguma vez’ o de vez em quando se revela na tortuosidade do caminho.
Só que, como disse antes, nem sempre é fácil finalizar... Aquele jovem amava o lugar e era-lhe difícil afastar-se. Que fez então? Começou a ver com agudeza os defeitos do lugar e das demais pessoas que ali habitavam. Os tais defeitos sempre estiveram ali; e as qualidades não desapareceram, mas agora ele não conseguia afastar da visão os aspectos negativos da comunidade. Por sorte era pessoa bastante querida dos demais, que se preocuparam quanto ao que estaria acontecendo com ele. Nas muitas conversas que se estabeleciam durante os trabalhos ou descansos, aproveitava-se suas ausências tornando-o assunto delas; começou a nascer em alguns dos demais residentes um ressentimento, decorrente do fato de que ele havia mudado; outros eram mais compreensivos e queriam discernir o que nele se passava. Após algum tempo descobrimos que ele queria sair da comunidade, mas não sabia como faze-lo. Foi uma revelação! Inclusive para ele. Fui o encarregado de comunicar nossa constatação ao jovem, em uma de nossas reuniões periódicas; por isso, disse-lhe que já que ele queria sair, que o fizesse em paz, não era necessário encontrar motivos negativos para tanto. Podia faze-lo pelo positivo motivo que ele estava crescendo, que era jovem, o mundo e um mundo se abria a sua frente, daí era o mais natural que fosse ao encontro desse mundo. Desde esse momento as coisas seguiram um curso de paz saudosa.
Essa experiência me tem ajudado porque muitas vezes muitas coisas se terminaram em minha vida. No seu tempo eu também saí daquela comunidade; já morei um período no Chile, fechando um tempo em Salvador, minha cidade natal, para onde retornei, quando se completou o tempo fora do país; encerrei a quadra de moradia na grande cidade e vim para o Vale do Capão; trabalhei em vários hospitais, passei para outros, dos quais, a seu tempo também tive de me despedir. Nem sempre as finalizações foram a contento, porém a partir daquele episódio tive um mapa facilitador para mim e espero que possa essa leitura ter a mesma serventia para o leitor, afinal, se nós fossemos passar por todas as experiências úteis para adquirirmos todo o aprendizado necessário a uma vida harmônica, não haveria tempo de vida que desse. A história dos demais, se bem apreciada, vira experiência própria.
Aureo Augusto.
Só que, como disse antes, nem sempre é fácil finalizar... Aquele jovem amava o lugar e era-lhe difícil afastar-se. Que fez então? Começou a ver com agudeza os defeitos do lugar e das demais pessoas que ali habitavam. Os tais defeitos sempre estiveram ali; e as qualidades não desapareceram, mas agora ele não conseguia afastar da visão os aspectos negativos da comunidade. Por sorte era pessoa bastante querida dos demais, que se preocuparam quanto ao que estaria acontecendo com ele. Nas muitas conversas que se estabeleciam durante os trabalhos ou descansos, aproveitava-se suas ausências tornando-o assunto delas; começou a nascer em alguns dos demais residentes um ressentimento, decorrente do fato de que ele havia mudado; outros eram mais compreensivos e queriam discernir o que nele se passava. Após algum tempo descobrimos que ele queria sair da comunidade, mas não sabia como faze-lo. Foi uma revelação! Inclusive para ele. Fui o encarregado de comunicar nossa constatação ao jovem, em uma de nossas reuniões periódicas; por isso, disse-lhe que já que ele queria sair, que o fizesse em paz, não era necessário encontrar motivos negativos para tanto. Podia faze-lo pelo positivo motivo que ele estava crescendo, que era jovem, o mundo e um mundo se abria a sua frente, daí era o mais natural que fosse ao encontro desse mundo. Desde esse momento as coisas seguiram um curso de paz saudosa.
Essa experiência me tem ajudado porque muitas vezes muitas coisas se terminaram em minha vida. No seu tempo eu também saí daquela comunidade; já morei um período no Chile, fechando um tempo em Salvador, minha cidade natal, para onde retornei, quando se completou o tempo fora do país; encerrei a quadra de moradia na grande cidade e vim para o Vale do Capão; trabalhei em vários hospitais, passei para outros, dos quais, a seu tempo também tive de me despedir. Nem sempre as finalizações foram a contento, porém a partir daquele episódio tive um mapa facilitador para mim e espero que possa essa leitura ter a mesma serventia para o leitor, afinal, se nós fossemos passar por todas as experiências úteis para adquirirmos todo o aprendizado necessário a uma vida harmônica, não haveria tempo de vida que desse. A história dos demais, se bem apreciada, vira experiência própria.
Aureo Augusto.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Você notou que o tempo está encolhendo?
Você já notou que o tempo está encolhendo? Parece que já não há mais horário em nossas agendas e o ano nem bem começou e já se aproxima o São João. Alguns me dizem que está ocorrendo algo com o universo ou com a Terra e por isso o tempo está mais curto. Acho isso muito engraçado, porque, penso, se o tempo universal está encolhendo, nós, seres humanos, que estamos subordinados às leis do tempo não perceberíamos porque tudo estaria também mais rápido, inclusive nós, claro.
O tempo é em muito uma subjetividade e antigamente as pessoas não tinham pressa e não o tempo parecia se estender. Hoje, temos uma quantidade de compromisso tal que não cabem nestes intervalos temporais que denominamos horas do dia. Quando eu era criança meus compromissos eram com a escola, os deveres de casa (não muitos) e o restante das inúmeras horas de correrias e estripulias que variavam desde picula e guerrô a corrida de caracóis e guerra de bombas de São João. Isso sem falar de fura-pé, guiador, arraia, banho de mar, corrida nas pedras limosas da praia, caída nos Armazéns Gerais, e bota etc. nisso. Mas nada disso com hora marcada!
Hoje a criançada sai (aqui no Capão) da capoeira, para o circo, escola, deveres etc. tudo com hora marcada e na cidade grande a coisa é mais séria, pelo número de compromissos e pelo trânsito impiedoso. Quanto aos adultos a coisa é ainda pior! Por isso, parece-me o tempo ficou pequeno.
Mas o que fazer? Há coisa demais. Confesso que às vezes me ressinto disso, embora meu ‘avoamento’ me faz ficar um pouco desligado, o que não me impede de tomar sustos quando me dou conta que tal ou qual coisa que tinha que fazer ‘daqui há muito tempo’ já está na hora de ocorrer ou já passou.
Talvez a única solução seja labutar para conseguir estar permanentemente em estado de auto-consciência. Conta-se que Sidarta, o Buda, recomendava atenção como postura eminente das pessoas. Ou seja, o tempo não passa tão rápido se estamos conscientes do que fazemos, do que somos, de onde estamos... Penso que é bom pensar nisso.
Recebam um abraço, Aureo Augusto.
O tempo é em muito uma subjetividade e antigamente as pessoas não tinham pressa e não o tempo parecia se estender. Hoje, temos uma quantidade de compromisso tal que não cabem nestes intervalos temporais que denominamos horas do dia. Quando eu era criança meus compromissos eram com a escola, os deveres de casa (não muitos) e o restante das inúmeras horas de correrias e estripulias que variavam desde picula e guerrô a corrida de caracóis e guerra de bombas de São João. Isso sem falar de fura-pé, guiador, arraia, banho de mar, corrida nas pedras limosas da praia, caída nos Armazéns Gerais, e bota etc. nisso. Mas nada disso com hora marcada!
Hoje a criançada sai (aqui no Capão) da capoeira, para o circo, escola, deveres etc. tudo com hora marcada e na cidade grande a coisa é mais séria, pelo número de compromissos e pelo trânsito impiedoso. Quanto aos adultos a coisa é ainda pior! Por isso, parece-me o tempo ficou pequeno.
Mas o que fazer? Há coisa demais. Confesso que às vezes me ressinto disso, embora meu ‘avoamento’ me faz ficar um pouco desligado, o que não me impede de tomar sustos quando me dou conta que tal ou qual coisa que tinha que fazer ‘daqui há muito tempo’ já está na hora de ocorrer ou já passou.
Talvez a única solução seja labutar para conseguir estar permanentemente em estado de auto-consciência. Conta-se que Sidarta, o Buda, recomendava atenção como postura eminente das pessoas. Ou seja, o tempo não passa tão rápido se estamos conscientes do que fazemos, do que somos, de onde estamos... Penso que é bom pensar nisso.
Recebam um abraço, Aureo Augusto.
domingo, 18 de abril de 2010
O TODO E A PARTE
Tenho revisitado alguns textos antigos e encontrado algumas coisas que, penso, podem ser úteis para a reflexão, partilho mais uma:
Uma das coisas que mais me impressiona é que nenhum dos mestres de sabedoria, nenhum literato ou erudito, psicólogo ou filósofo conseguiu esgotar o significado do ser humano, ou explica-lo, ou, de maneira definitiva estabelecer como ele deve ser, sua melhor e mais categórica maneira. Não há uma escatologia definitiva para a vida humana, uma vez que esta, em realidade, é um largo processo ainda em fase de construção.
Não sou um erudito que já tenha lido tudo e, portanto, não posso basear minha afirmativa acima no fato de conhecer toda a enorme e diversificada produção intelectual ou espiritual humana, no entanto percebo que dentre os muitos seres extraordinários que se dedicaram à antropologia, ou seja, ao estudo do ser humano, uma significativa parcela deles acreditou que havia descoberto a pedra de toque que revelaria o ouro do conhecimento quanto ao que somos. Mas apenas tocava uma de nossas inumeráveis facetas. Alice Bailey comentou em um de seus livros que freqüentemente os buscadores descobriam pequenas porções da verdade, entreabriam janelas, e pensavam que haviam visto o Todo e se regozijavam com isso. Estes descobridores da parte afirmavam-se como detentores do Todo e, dessa maneira saíam (e saem) espalhando aquela secção do saber universal como se apresentasse a Verdade completa. Ocorre-me que esta visão equivocada é uma das causas do totalitarismo, bem como do fanatismo e do sectarismo, na medida em que esta identificação do Todo com a parte, faz da parte o Todo, na mente dos que crêem e a fração passa a adquirir valor que não tem (o valor do Todo). O resultado é que regras são estabelecidas e recebem o título de leis inabaláveis. Não obedecê-las representa uma ameaça a tudo aquilo que acreditamos e, o que é pior, como o que acreditamos é identificado com o Todo, não acreditar no que acreditamos torna-se uma ofensa ao Todo, ou no mínimo uma manifestação de desprezível ignorância.
Alguns vêem o ser humano como um consciente superficial “boiando” por sobre um enorme inconsciente basicamente sexual, outros nos consideram seres em busca de poder, para outros somos estruturas dissipativas autopoiéticas que passaram por variados saltos de complexidade; há quem veja à humanidade como o conjunto de aglomerações bioquímicas selecionadas pela natureza cujas interações físico-químicas produzem um epifenômeno chamado consciência. Há quem nos considere seres absolutamente imateriais iludindo-se a si mesmos com os sonhos de uma materialidade concreta... para outros somos parte de uma estrutura infinita com um fim determinado mas insondável e outros pensam o mesmo, mas sem fim determinado, onde um Grande Atrator é construído à medida em que avançamos no tempo... O pior, é que todos têm razão. Ou pelo menos, todos têm sua ração de razão.
Quando leio os sábios a que tive acesso admiro-me da percuciência com que penetram fundo na realidade das coisas. Vejo que alguns revelam fatos e propõem explicações sumamente pertinentes, coerentes, verdadeiras. Outros revelam fatos e propõem explicações de idêntico valor, tão verdadeiras quanto, porém opostas. Admira-me que os sábios estão todos certos e aqui vale um discreto e saudável ceticismo. Aplaudo a todos os sábios, honra-me apenas o fato de lê-los e de às vezes entende-los, mas sempre mantenho uma desconfiança de que ali tem uma maravilhosa parte de nós. Apenas isso!
Aureo Augusto, em 30/12/05.
Uma das coisas que mais me impressiona é que nenhum dos mestres de sabedoria, nenhum literato ou erudito, psicólogo ou filósofo conseguiu esgotar o significado do ser humano, ou explica-lo, ou, de maneira definitiva estabelecer como ele deve ser, sua melhor e mais categórica maneira. Não há uma escatologia definitiva para a vida humana, uma vez que esta, em realidade, é um largo processo ainda em fase de construção.
Não sou um erudito que já tenha lido tudo e, portanto, não posso basear minha afirmativa acima no fato de conhecer toda a enorme e diversificada produção intelectual ou espiritual humana, no entanto percebo que dentre os muitos seres extraordinários que se dedicaram à antropologia, ou seja, ao estudo do ser humano, uma significativa parcela deles acreditou que havia descoberto a pedra de toque que revelaria o ouro do conhecimento quanto ao que somos. Mas apenas tocava uma de nossas inumeráveis facetas. Alice Bailey comentou em um de seus livros que freqüentemente os buscadores descobriam pequenas porções da verdade, entreabriam janelas, e pensavam que haviam visto o Todo e se regozijavam com isso. Estes descobridores da parte afirmavam-se como detentores do Todo e, dessa maneira saíam (e saem) espalhando aquela secção do saber universal como se apresentasse a Verdade completa. Ocorre-me que esta visão equivocada é uma das causas do totalitarismo, bem como do fanatismo e do sectarismo, na medida em que esta identificação do Todo com a parte, faz da parte o Todo, na mente dos que crêem e a fração passa a adquirir valor que não tem (o valor do Todo). O resultado é que regras são estabelecidas e recebem o título de leis inabaláveis. Não obedecê-las representa uma ameaça a tudo aquilo que acreditamos e, o que é pior, como o que acreditamos é identificado com o Todo, não acreditar no que acreditamos torna-se uma ofensa ao Todo, ou no mínimo uma manifestação de desprezível ignorância.
Alguns vêem o ser humano como um consciente superficial “boiando” por sobre um enorme inconsciente basicamente sexual, outros nos consideram seres em busca de poder, para outros somos estruturas dissipativas autopoiéticas que passaram por variados saltos de complexidade; há quem veja à humanidade como o conjunto de aglomerações bioquímicas selecionadas pela natureza cujas interações físico-químicas produzem um epifenômeno chamado consciência. Há quem nos considere seres absolutamente imateriais iludindo-se a si mesmos com os sonhos de uma materialidade concreta... para outros somos parte de uma estrutura infinita com um fim determinado mas insondável e outros pensam o mesmo, mas sem fim determinado, onde um Grande Atrator é construído à medida em que avançamos no tempo... O pior, é que todos têm razão. Ou pelo menos, todos têm sua ração de razão.
Quando leio os sábios a que tive acesso admiro-me da percuciência com que penetram fundo na realidade das coisas. Vejo que alguns revelam fatos e propõem explicações sumamente pertinentes, coerentes, verdadeiras. Outros revelam fatos e propõem explicações de idêntico valor, tão verdadeiras quanto, porém opostas. Admira-me que os sábios estão todos certos e aqui vale um discreto e saudável ceticismo. Aplaudo a todos os sábios, honra-me apenas o fato de lê-los e de às vezes entende-los, mas sempre mantenho uma desconfiança de que ali tem uma maravilhosa parte de nós. Apenas isso!
Aureo Augusto, em 30/12/05.
terça-feira, 13 de abril de 2010
O PONTO DO MANINHO
Luis Quati, que também é conhecido por Maninho, está muito feliz porque acaba de fazer seu novo... Como direi? Lugar de encontro. Sim, porque não é um bar, tampouco uma mera lanchonete. Ali terá caldo de cana, mel, aipim, rede para se esticar, um córrego para se deliciar etc. É, ao mesmo tempo um lugar onde se pode comer, mas também um canto para descansar e bater papo, coisa, aliás, que é uma especialidade de Luís Quati. Para mim foi uma alegria conversar com ele hoje de manhã e escutar ele contar seu périplo até alcançar esta nova conquista na qual investiu muito. Ele tinha um pequeno barraco construído na beira da estrada perto de minha casa. Mas era na terra de um tio que tendo vendido o terreno despejou-o. Conta que sofreu muito, mas não perdeu a fé n’Ele (e aponta o dedo para cima), afinal, comenta, “não sou de prejudicar ninguém, não desejo mal a ninguém e quem é assim Ele protege” e aponta para cima... Decidiu que em seu novo espaço tudo será novo, segundo ele porque tudo tem que ser novo já que é novo. Não entendi muito o imperativo, mas aprovei com alegria. Ele chegou espalhafatosamente quando me viu adubando um pé de amora e me interrompeu candidamente para contar as novidades tão alvissareiras. Depois de meia hora de uma conversa que muito me fez feliz, ele à guisa de desculpa comentou que me interrompeu, mas depois acrescentou que não havia necessidade de pressa. Lembrou-se do finado pai de Biu que sempre dizia: “Faz melhor quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”. Eu, particularmente, na minha ignorância, havia escutado o ditado de outra forma, mas fui obrigado a concordar, pois muito mais vale estar com a força do Todo Poderoso do que acordar cedo. Nada contra madrugar, gosto disso e Luís não se furta, como todo mundo da roça, a acordar com as galinhas, porém entendi sua mensagem e continuei com o queixo descansando no cabo da enxada até que ele se foi deixando uma espécie de rastro, perfume, uma espécie de presença de prazer e realização. Porque assim é este meu vizinho: realizado prazerosamente.
Qualquer dia destes vou lá no, como direi, espaço de lazer que ele já batizou: “Ponto do Maninho”. Seguramente vou sentar e conversar um bocado. Escutar e aprovar. Aprender e deleitar-me com esta coisa simples e boa, rica e complexa, variada e única que é viver esta vida.
Este texto foi escrito há algum tempo, em 4/1/06, mas hoje eu vi Maninho lá no seu pto e me lembrei de como merece ser falado.
Recebam um abraço, Aureo Augusto
Qualquer dia destes vou lá no, como direi, espaço de lazer que ele já batizou: “Ponto do Maninho”. Seguramente vou sentar e conversar um bocado. Escutar e aprovar. Aprender e deleitar-me com esta coisa simples e boa, rica e complexa, variada e única que é viver esta vida.
Este texto foi escrito há algum tempo, em 4/1/06, mas hoje eu vi Maninho lá no seu pto e me lembrei de como merece ser falado.
Recebam um abraço, Aureo Augusto
segunda-feira, 5 de abril de 2010
APRENDENDO SEM REPETIR
Tenho tido a oportunidade de contatar freqüentemente com educadores, o que me traz muito aprendizado, como era de se esperar. Uma coisa importante que aprendi é que o ato mecânico da repetição não implica necessariamente na interiorização daquilo que deve ser aprendido. Aprender implica apreender. Apossar-se. Assumir autoria. Gosto do termo em castelhano: adueñarse, tornar-se (ou sentir-se) dono. Daí que o crescimento no aprendizado humano não é semelhante ao crescimento de uma rocha como a ardósia, por sobreposição. Na formação destas rochas, os sedimentos vão se sobrepondo uns aos outros e dessa maneira ela vai crescendo (quando a erosão desgasta tais sedimentos a pedra vai diminuindo). As pessoas que apenas repetem o que fizeram seus ancestrais, se crescem, o fazem como uma rocha e não como um ser vivo, cujo crescimento é de dentro para fora e não por acúmulo de elementos externos. Tais pessoas, quando em contato com o intemperismo que é a evolução da nossa sociedade, são erodidas em suas certezas, já que não desenvolveram a inteligência, vista aqui como a capacidade de responder a novos desafios, a novas questões. Os modelos de relacionamento que os antigos mantinham entre si, com a natureza, consigo mesmos, precisam sofrer transformações, na medida em que a humanidade passa por novos desafios, o aprendizado pode responder a este desafio, mas não o decorar verdades (ou inverdades) antigos e, muitas vezes, anacrônicos.
Entre os índios brasileiros era comum a queimada antes do plantio, o que a médio prazo empobrecia a terra. Quando ocupavam uma certa região, notavam que depois de algum tempo a terra enfraquecia e, por isso, seminômades que eram, abandonavam aquele local em busca de nova área. Ocorre que em algum tempo a área enfraquecida era tomada de volta pela floresta e recuperava suas condições originais, pois a capacidade de regeneração da mata é impressionante, assim como seu poder de transformar resíduos. Na floresta amazônica nada do que seja lançado como dejeto orgânico permanece intocado. Em poucos minutos uma multidão de insetos, vermes e outros seres, reduz o que quer que seja a adubo, que será rapidamente aproveitado pelas árvores. Mas os índios eram poucos, daí que as clareiras que abriam na mata e os resíduos que nela lançavam eram de pouca monta. Hoje, urge que haja uma mudança de relacionamento do ser humano com a floresta, pois que o volume da agressão à natureza é muito grande, já que não somos pouca gente e sim multidões. O desafio que os índios enfrentavam era quanto à própria sobrevivência, mas agora o nosso desafio é quanto à sobrevivência da nossa e das próximas gerações. A poetisa baiana Ester Ferreira nos traz uma reflexão em seu último livro Teu Filho Aguarda a Resposta: “Repetir o que fazem os mais velhos / será o caminho mais sábio?”. Com certeza a nossa resposta terá que ser não, senão desapareceremos.
Não repetir, não trilhar os mesmos caminhos... Mas, o que fazer com todo o conhecimento e a sabedoria dos mais velhos? Seguramente não devemos lançar tudo em uma espécie de balde de lixo da história. Talvez também aqui a reciclagem e o reaproveitamento tenham seu lugar.
Não tenho profunda admiração por guerreiros como Aquiles, ou Átila. Penso que não temos muito que aproveitar da crise infantilóide que o grande guerreiro grego teve quando abandonou a luta contra os troianos, um empreendimento de grupo, por causa do orgulho próprio ferido. Também as infindáveis querelas dos grupos celtas, que propiciaram um sangramento contínuo daquele extraordinário povo, são prova de que os antigos tinham bobagens tão grandes ou maiores do que as atuais. E o que não dizer dos nossos antepassados mais recentes? Os europeus tão bem educados, limpos e estudiosos, devastando o mundo no século XIX, torturando e matando para manter o poder, como hoje em dia faz qualquer destes tiranos do terceiro mundo? E as pessoas cheias de polidez dos séculos passados. Tão admiráveis, comendo da forma certa, curvando a cabeça para as mulheres enquanto se pervertiam no recôndito dos lares. Admiráveis senhores dos engenhos e cidades deliciando-se com o estupro de escravas. Como podemos ver, o mundo de antigamente era tão horrível como o de hoje, senão mais. A diferença é que agora nos horrorizamos um pouco mais, embora não em todos os lugares nem em todas as situações.
Admiro a competência de Aquiles e gostaria de ver esta mesma competência ser usada hoje quando da necessidade real de defesa e também e mais ainda, quando da necessidade de uma diplomacia sem pusilanimidade. É imprescindível que aprendamos com os celtas o seu sentido de liberdade e de nobreza, sua fé em que somos mais do que meros corpos lançados ao mundo. Gosto do senso de dever dos ingleses e do cosmopolitismo francês no século XIX. A coragem dos portugueses do décimo quinto século em seu “navegar é preciso, viver não é preciso” é admirável e sempre o será. Mesmo com todos os seus desvios, os senhores de engenho e das cidades coloniais honravam a própria palavra. Dar a palavra e cumpri-la, sempre será algo a ser emulado.
Não devemos copiar. Não podemos deixar-nos apanhar pela repetição impensada do jeito que aprendíamos a ler antigamente, repetindo “Ivo viu a uva”. No entanto, devemos usar nossa inteligência para atender aos novos desafios, com a coragem de mudar a nossa maneira de atuar no mundo, respeitando cuidadosamente aquilo que recebemos dos antigos, usando todo o enorme cabedal de experiências que deles recebemos, sem, contudo, deixar de construir algo próprio. Usar a coragem de Aquiles, o senso de liberdade celta, o cosmopolitismo francês, o individualismo dos primeiros americanos, o senso do dever inglês, a palavra honrada dos brasileiros (além da sua alegria), juntamente com o impulso ibérico em direção ao mundo novo além dos oceanos. Questionar tudo, experimentar o possível, lidar com o provável neste mundo de incertezas para construir o que há pouco parecia impossível. Erramos, erraremos, errantes, seguiremos acertando. Pois só acerta o alvo quem lança o dardo.
Aureo Augusto, em 10/4/06.
Entre os índios brasileiros era comum a queimada antes do plantio, o que a médio prazo empobrecia a terra. Quando ocupavam uma certa região, notavam que depois de algum tempo a terra enfraquecia e, por isso, seminômades que eram, abandonavam aquele local em busca de nova área. Ocorre que em algum tempo a área enfraquecida era tomada de volta pela floresta e recuperava suas condições originais, pois a capacidade de regeneração da mata é impressionante, assim como seu poder de transformar resíduos. Na floresta amazônica nada do que seja lançado como dejeto orgânico permanece intocado. Em poucos minutos uma multidão de insetos, vermes e outros seres, reduz o que quer que seja a adubo, que será rapidamente aproveitado pelas árvores. Mas os índios eram poucos, daí que as clareiras que abriam na mata e os resíduos que nela lançavam eram de pouca monta. Hoje, urge que haja uma mudança de relacionamento do ser humano com a floresta, pois que o volume da agressão à natureza é muito grande, já que não somos pouca gente e sim multidões. O desafio que os índios enfrentavam era quanto à própria sobrevivência, mas agora o nosso desafio é quanto à sobrevivência da nossa e das próximas gerações. A poetisa baiana Ester Ferreira nos traz uma reflexão em seu último livro Teu Filho Aguarda a Resposta: “Repetir o que fazem os mais velhos / será o caminho mais sábio?”. Com certeza a nossa resposta terá que ser não, senão desapareceremos.
Não repetir, não trilhar os mesmos caminhos... Mas, o que fazer com todo o conhecimento e a sabedoria dos mais velhos? Seguramente não devemos lançar tudo em uma espécie de balde de lixo da história. Talvez também aqui a reciclagem e o reaproveitamento tenham seu lugar.
Não tenho profunda admiração por guerreiros como Aquiles, ou Átila. Penso que não temos muito que aproveitar da crise infantilóide que o grande guerreiro grego teve quando abandonou a luta contra os troianos, um empreendimento de grupo, por causa do orgulho próprio ferido. Também as infindáveis querelas dos grupos celtas, que propiciaram um sangramento contínuo daquele extraordinário povo, são prova de que os antigos tinham bobagens tão grandes ou maiores do que as atuais. E o que não dizer dos nossos antepassados mais recentes? Os europeus tão bem educados, limpos e estudiosos, devastando o mundo no século XIX, torturando e matando para manter o poder, como hoje em dia faz qualquer destes tiranos do terceiro mundo? E as pessoas cheias de polidez dos séculos passados. Tão admiráveis, comendo da forma certa, curvando a cabeça para as mulheres enquanto se pervertiam no recôndito dos lares. Admiráveis senhores dos engenhos e cidades deliciando-se com o estupro de escravas. Como podemos ver, o mundo de antigamente era tão horrível como o de hoje, senão mais. A diferença é que agora nos horrorizamos um pouco mais, embora não em todos os lugares nem em todas as situações.
Admiro a competência de Aquiles e gostaria de ver esta mesma competência ser usada hoje quando da necessidade real de defesa e também e mais ainda, quando da necessidade de uma diplomacia sem pusilanimidade. É imprescindível que aprendamos com os celtas o seu sentido de liberdade e de nobreza, sua fé em que somos mais do que meros corpos lançados ao mundo. Gosto do senso de dever dos ingleses e do cosmopolitismo francês no século XIX. A coragem dos portugueses do décimo quinto século em seu “navegar é preciso, viver não é preciso” é admirável e sempre o será. Mesmo com todos os seus desvios, os senhores de engenho e das cidades coloniais honravam a própria palavra. Dar a palavra e cumpri-la, sempre será algo a ser emulado.
Não devemos copiar. Não podemos deixar-nos apanhar pela repetição impensada do jeito que aprendíamos a ler antigamente, repetindo “Ivo viu a uva”. No entanto, devemos usar nossa inteligência para atender aos novos desafios, com a coragem de mudar a nossa maneira de atuar no mundo, respeitando cuidadosamente aquilo que recebemos dos antigos, usando todo o enorme cabedal de experiências que deles recebemos, sem, contudo, deixar de construir algo próprio. Usar a coragem de Aquiles, o senso de liberdade celta, o cosmopolitismo francês, o individualismo dos primeiros americanos, o senso do dever inglês, a palavra honrada dos brasileiros (além da sua alegria), juntamente com o impulso ibérico em direção ao mundo novo além dos oceanos. Questionar tudo, experimentar o possível, lidar com o provável neste mundo de incertezas para construir o que há pouco parecia impossível. Erramos, erraremos, errantes, seguiremos acertando. Pois só acerta o alvo quem lança o dardo.
Aureo Augusto, em 10/4/06.
sábado, 3 de abril de 2010
CHUVA E QUARESMEIRAS
Para aqueles que vivem na cidade grande, a chuva, o mais das vezes é um abuso. O lixo largado a toa compromete do sistema de esgotamento, as inundações são comuns, o transito fica mais caótico, a roupa molhada nos ônibus apertados... Os pintores impressionistas fizeram belas imagens da chuva em Paris, da névoa em Londres, do belo efeito da garoa sobre a paisagem urbana. Mas, naquela época as cidades ainda experimentavam a explosão de população, havia, portanto, aquela sensação de novidade de modo que os problemas sociais e a miséria que já existiam ficavam um pouco minimizados. Na verdade, a grande cidade antes da revolução industrial já era terrível para o pobre (e, às vezes, mesmo para o rico). Os carros, a iluminação pública, o serviço de esgotamento, melhoraram as condições de vida para todos, até que o crescimento fez com que a cidade se tornasse algo monstruosamente grande, maior do que os sonhos.
Mas, falava da chuva. Para quem vive no campo a chuva é uma benção. O dia de São José é esperado neste nordeste de pouca água. Noto, aliás, qualquer pessoa com mais de 30 anos por aqui, que a chuva tem reduzido aqui no Vale do Capão. Antigamente esperava-se a chuva das águas desde finais de novembro e sabíamos que a coisa não seria de pouca monta, e não era. Agora temos notado que não vem. Não chove mais como antes. Por isso Cybele e eu ficamos com os corações felizes nesta noite escutando o ronco da trovoada e a força da chuva que caiu grossa como cordões de prata.
Agora olho pela janela e vejo as flores das quaresmeiras agitadas pelo vento, como que lutando contra a agitação para beber a água da chuva, agora transformada em garoa. Há um silêncio no mundo, um silêncio povoado de goteiras! A luz é diferente.
Quando o sol bate forte, sua luz é avassaladora. Quando chove e nasce o dia, a luz se torna difusa e penetra suave, parece que emana das coisas.
OUTRA COISA:
Estamos em plena época das quaresmeiras. Estas flores dão ao Vale um charme todo especial. O legal é que há uma outra planta, o São João, que também tem sua floração nesta época. Suas flores são amarelas, vai daí que o carmim, violeta, roxo, magenta das quaresmeiras se mistura ao amarelo forte do São João. Fica especialmente bonito. Você não pode perder!
Este ano a coisa ficou melhor porque estamos fazendo o festival da quaresmeira durante todo o mês de abril. Teremos exposição, muitas apresentações de música, de artes circenses, teatro, dança, muita coisa, muita mesmo! Eu estarei fazendo uma exposição de pintura, com o título A CANÇÃO DAS QUARESMEIRAS, no restaurante Casa das Fadas. Vai ficar todo o mês. Venha!
Receba um abraço em 3/4/2010 de Aureo Augusto.
Mas, falava da chuva. Para quem vive no campo a chuva é uma benção. O dia de São José é esperado neste nordeste de pouca água. Noto, aliás, qualquer pessoa com mais de 30 anos por aqui, que a chuva tem reduzido aqui no Vale do Capão. Antigamente esperava-se a chuva das águas desde finais de novembro e sabíamos que a coisa não seria de pouca monta, e não era. Agora temos notado que não vem. Não chove mais como antes. Por isso Cybele e eu ficamos com os corações felizes nesta noite escutando o ronco da trovoada e a força da chuva que caiu grossa como cordões de prata.
Agora olho pela janela e vejo as flores das quaresmeiras agitadas pelo vento, como que lutando contra a agitação para beber a água da chuva, agora transformada em garoa. Há um silêncio no mundo, um silêncio povoado de goteiras! A luz é diferente.
Quando o sol bate forte, sua luz é avassaladora. Quando chove e nasce o dia, a luz se torna difusa e penetra suave, parece que emana das coisas.
OUTRA COISA:
Estamos em plena época das quaresmeiras. Estas flores dão ao Vale um charme todo especial. O legal é que há uma outra planta, o São João, que também tem sua floração nesta época. Suas flores são amarelas, vai daí que o carmim, violeta, roxo, magenta das quaresmeiras se mistura ao amarelo forte do São João. Fica especialmente bonito. Você não pode perder!
Este ano a coisa ficou melhor porque estamos fazendo o festival da quaresmeira durante todo o mês de abril. Teremos exposição, muitas apresentações de música, de artes circenses, teatro, dança, muita coisa, muita mesmo! Eu estarei fazendo uma exposição de pintura, com o título A CANÇÃO DAS QUARESMEIRAS, no restaurante Casa das Fadas. Vai ficar todo o mês. Venha!
Receba um abraço em 3/4/2010 de Aureo Augusto.
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