É marcante a diferença entre os lisboetas e o pessoal daqui desta cidade sensacional. O pessoal aqui é mais relaxado, risonho, mais dado. O turismo é muito forte, mas a atividade artesanal (com cortiça principalmente) é marcante, assim como a agricultura. Caminhar em Évora é andar sobre o passado. Procurava uma construção do século XVII e no caminho encontrei as ruínas de um templo romano supostamente dedicado a Diana. A visão daquelas colunas coríntias fez meu corpo tremer. Lágrimas me saltaram dos olhos. Desde que eu era muito criança já me apaixonara pela antiguidade. Com onze anos tinha 4 cadernos de desenho sobre mitologia grega. Meus colegas de escola me apelidaram “rato grego” pelo meu tamanho e pela minha paixão. Agora estava vendo e tocando em um objeto arquitetônico que me levou diretamente àquela gente (mesmo sendo romano, o modelo era grego da ordem arquitetônica coríntia) que tanto me preenchera a infância e a adolescência. Fiquei um tempo tocando as pedras desgastadas, sentindo umas coisas por dentro.
A cidade está bem conservada e é um amálgama de romanos, mouros e cristãos medievais, renascentistas e modernos, tudo dentro das muralhas construídas pelos primeiros e preservadas e modificadas pelos demais. Antes de todos eles os celtas moraram aqui e antes destes, os povos que construíram os dólmenes e menhires que, como é comum se dizer, se perdem na noite dos tempos.
Não sei o que verei adiante, mas Évora é a cidade. Caso morasse em uma cidade de Portugal, com certeza escolheria Évora.
Estamos na época abominável dos trotes e Évora (como Lisboa) está tomada por bandos de estudantes veteranos manifestando seu sadismo sobre os calouros. Alguns destes até que se divertem, mas a maioria mostra-se constrangida. Não gostei quando fui calouro e reagi e fugi ao trote. Não gosto do que vejo aqui. Os professores também se manifestam contra, mas não adianta. Penso que se poderia organizar alguma brincadeira com os novos estudantes e até pintar as caras, além de manifestações de boas-vindas, porém é evidente que os veteranos, ou melhor, alguns dentre eles que participam nisso, não demonstram contemplação.
Mas apesar disso, a cidade nos olha de suas pedras.
Para minha surpresa o hotel onde estou tem toda uma sessão do restaurante dedicada ao vegetarianismo. Uau! Estou passando bem. Pão integral, frutas, grande variedade de legumes crus e cozidos etc. Apenas o arroz e a farinha de trigo em algumas receitas são ‘brancas’, porém o restante dá pra encher os olhos e a barriga. E a pizzaria que fomos ontem à noite, Cybele, eu e a vice-reitora da universidade (uma pessoa muito simpática e simples, apesar dos numerosos títulos acadêmicos, coisa que nem sempre encontramos) oferecia pizza vegetariana. Parece que estamos conquistando o mundo!
Évora é a principal cidade de uma região chamada Alentejo (que vem do fato de estar além do rio Tejo – eles gostam da onda; outro lugar chama-se Ribatejo porque fica rio acima), que tem forte presença de uma planta, o sobreiro. Dela a cada 10 anos retira-se a casca e com ela são fabricadas milhões de rolhas. Portugal é o maior produtor de rolhas do mundo. É a nossa conhecida cortiça. Mas eles fabricam de tudo com a cortiça. Aventais, sapatos, bolsas, esculturas, cintos, bandejas, roupas... E o resultado é lindo. Quando viajamos pelo campo vemos os sobreiros depois da retirada da casca. Ficam com o tronco muito vermelho exposto, como se fossem as ovelhas tosquiadas da família das árvores. O legal é que o processo não prejudica a planta que 10 anos depois será novamente “tosquiada”.
Estou encantado com este lugar.
Recebam um abraço cortical.
Aureo Augusto
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