Para mim Portugal tem a ver com chapéu. Melhor dito, tinha, e logo saberás (viu o acento lisboeta?) o porquê do verbo no passado. Acontece que na minha cabeça, sempre associei o país ao grande poeta Fernando Pessoa. Nada mais óbvio já que era português. E em todos os desenhos e fotos que conheço de Pessoa, sempre ostentava um chapéu. Por isso pensei que estando aqui logo encontraria lojas e mais lojas de chapéu e todas as pessoas nas ruas estariam com chapéus na cabeça e não bonés como em tudo quanto é canto hoje em dia. Como o meu chapéu está bem velhinho, pensei que aqui encontraria outro, barato e de boa qualidade. Para minha tristeza o que mais vi foram os onipresentes bonés. Nem uma única loja de chapéus. Aliás, nenhum português de chapéu. Só então me dei conta de que Fernando Pessoa era de uma outra época, na qual todos usavam aquele objeto, hoje visto como anacrônico, mas que para mim não é, haja vista o sol que arde cada vez mais nestes tempos de camada de ozônio mais tênue. Mas a realidade é que a nossa mente faz umas coisas! Não é que tenha feito conscientemente a associação. Mas fiz, lá por baixo do pano, por dentro das gavetas fechadas que se comunicam entre elas de um jeito que as maçanetas e os puxadores não sabem. A mente faz umas associações estranhas e nem percebemos. Há que tomar cuidado com a mente.
Hoje saí com o desejo de, além de ver as belezas daqui, comprar o meu chapéu porque o sol tem sido bem forte e fico procurando as marquises. Chapéu para mim é uma marquise portátil, o que é muito legal. Fui para a Lisboa antiga e pergunta daqui, pergunta dali, descobri a única chapelaria. Ali encontrei uma senhora já de alguma idade, em uma loja com um jeito dos anos 1920. Ela e a loja eram feitas uma para a outra. Delicada me atendeu e mostrou-me os vários modelos masculinos. Escolhi um. Ela sorriu e me disse que este era o modelo usado por Fernando Pessoa. Depois, como não tinha um que desse bem em minha cabeça ela colocou dentro do chapéu uns pedaços de cortiça de modo a que ficasse justo, mas não apertado. Sua mão tremia muito e por isso a ajudei. O preço foi o mesmo que aquele que encontro na Bahia, quando compro na mão de um português que já foi mascate e vendia seus produtos no Vale do Capão de antigamente.
Saí feliz com meu chapéu de Fernando Pessoa!
Aliás, por coincidência encontrei o primeiro lisboeta de chapéu. Um sujeito com a cara toda enrugada, cabelos canosos, olhar esquisito, todo vestido de negro, do sapato à gravata, paletó e ao chapéu. Ele me olhou e quando passei por ele, perguntou: “Marijuana?”. Então entendi o porquê do seu aspecto decadente. Segui meu caminho. Espero que a partir de agora eu não faça uma associação entre chapéu e venda de drogas!
Um beijo para todos.
Aureo Augusto
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