Nos últimos dias tem sido um pouco difícil contatar à internet, ou mesmo escrever, porque fico na estrada ou nas ruas e à noite o cansaço não me deixa escrever. O ato da conexão é muito fácil porque compramos um pen drive de uma empresa local que faz facilmente a ligação on line como um telefone pré-pago, por um preço semelhante àqueles praticados no Brasil. Nos hotéis, os valores cobrados para fazer a ligação são altos. Saímos de Évora até Aveiro de carro. As estradas aqui em Portugal são interessantes. Os nomes não os consigo entender bem, mas é algo mais ou menos assim. Tem uma estrada incrível, um tapete, sem sombra de buraco, vazias, onde podemos viajar a grande velocidade, com pedágio caro; para nós brasileiros, bastante caro. Paralela a esta estrada tem uma outra, que chamam de principal ou nacional, que se assemelha às estradas do nordeste do Brasil, porém sem buracos. Nem sempre, ou melhor, a maior parte das vezes, sem acostamento, muito movimentadas e, que não permitem, por causa do movimento, desenvolver maiores velocidades. Além destas tem as estradas asfaltadas secundárias que são lenhadinhas, mas não terríveis (pelo menos as que experimentei) e ainda tem as bagaceiras do interiorzão, que não conheci, fui informado. Observe-se que as estradas com pedágio seguem o mesmíssimo roteiro das nacionais ou principais; gastaram dois dinheiros para a mesma coisa! Cada país tem o seu jeito de ser.
Cada país com o seu jeito. Fomos ao cinema, pra ver como era. Um filme português, filmado nos EUA, em inglês. Gostei, embora o título não tinha nada a ver com a história e, no final, o diretor ou o autor tenha caído naquela tentação tão comum de matar o herói no final para dar um toque mais intelectual, já que intelectual que se preza não pode ser feliz, porque felicidade é, para os entendidos – não em felicidade, claro – coisa superficial e piegas. Em dado momento do filme, as luzes se apagaram e pensei que tinha faltado luz (mas ninguém gritou, como quando eu era pequeno, faltava luz, e o bairro inteiro gritava, repetindo o grito quando a luz voltava). Segundos depois apareceu na tela um aviso: “Intervalo, sete minutos”. Caí na gargalhada! Claro que cada um com o seu jeito, mas achei engraçado. Pensei também como seria o banheiro feminino em dia de casa lotada. Em sete minutos a mulherada não ia conseguir satisfazer suas necessidades essenciais.
Aliás, tive nova experiência de banheiro. Estava em um restaurante na cidadezinha de Veiras. Após almoçar fui ao banheiro, não para a parte do desaguar e sim para a área de descomer. Notei que não tinha chave e fui solicitar, mas me disseram que era assim mesmo. Então me sentei na latrina com o receio de que alguém de repente entrasse e desse de cara comigo. Uma sensação estranha, pelo menos para mim, brasileiro. Ademais, ali tinha um daqueles sistemas para não gastar muita eletricidade. Um detector de movimento mantinha a luz acesa, quando cessava o movimento a luz se apagava segundos depois. Normalmente quem está descomendo está quietinho. Daí logo a luz apagava e por isso eu era obrigado a periodicamente balançar os braços no alto da cabeça. O que me levou a imaginar o que pensaria alguém que entrasse e me visse sentado, mas balançando os braços. Talvez fantasiasse que a dificuldade de eliminar fosse grande. Não sei. Seja como for não foi muito confortável. Nós, os turistas, passamos por tais dissabores.
Nestes dias conheci, Aveiro, Vieras, Ovar, Estarreja, Torreiras. Todas em uma mesma região onde se combinam um pântano (chamado de Ria) e o mar. Área lindíssima. A, digamos, capital da região é Aveiro, cognominada a Veneza de Portugal, como dizemos que Recife é a Veneza brasileira. Porém se Recife for tão Veneza como é Aveiro, não tem nada daquela cidade italiana. Aveiro tem um canal no meio da cidade (que por sinal e muito bonita) e pronto. Nem é muito grande ou largo. Os barcos daqui são bem bonitos, com popa e proa elevados ostentando pinturas. A cidade é agradável, bonita, mas não é Veneza (e não precisa desta apodo).
Agora estou em Óbidos, que é um espetáculo, com seu castelo do século XII (sobre fundações mouras mais antigas) e cercada por muralhas medievais feitas dois séculos depois da construção do castelo. A cidade parece um presépio. Lindíssima e caríssima. Deus do Céu!!! A turma aqui arranca o couro! Também tive uma sensação de que algo estava estranho. É estranhamente sem vida. Pelas fotos me pareceu que ganha vida quando tem as procissões e eventos religiosos, mas agora, sem o chilrear das crianças, sem camponeses indo para a roça. É uma vila muito pequena, com poucos habitantes intramuros e poucos fora destes. As sensações aqui são divididas entre o encantamento da beleza medieval e o estranhamento da ausência de vida natural, de gente indo e vindo, estudantes, camponeses, vendedores ambulantes, em que pesem as inúmeras lojas vendendo lembranças à multidão de turistas.
A cidade foi decretada patrimônio da humanidade pela UNESCO. Ótimo e merecido. No entanto, pergunto-me, como manter a essência vital de um lugar além de preservar-lhe as características físicas? Há algo de casca de ovo vazio em Óbidos, coisa que não acontece em Évora, por exemplo, com suas ruínas, suas tradições, suas casas antigas preservadas e o povo nas ruas.
Com estes comentários me despeço por hoje.
Recebam todos um beijo saudoso.
Aureo Augusto
Êh, maninho, que delícia os seus comentarios lusos! E me lembrei do Áureo apaixonado pela cultura grega, que misturava - com propiedade - saveiros, alagados e colunas em áureas dimensôes, na sua, nossa, mocidade.
ResponderExcluirViver, é preciso, navegar, mais ainda! Abraços,
Élcio.
Você vai à Portugal, à Aveiro (onde fiz meu doutorado), e não me diz nada...
ResponderExcluirOs textos estão muito bons! Um (re)viver...
Um abraço, e aproveita bastante.
Oi, Aureo
ResponderExcluirQue bom ter noticias suas de alem-mar!!
Eu amo Portugal, ja fiz um roteiro muito parecido com o seu e, concordo com voce, dessas cidades que voce citou, Evora foi a que mais me encantou e surpreendeu. Falando nisso, voce esteve no Capela dos Ossos, em Evora? Eh de arrepiar!!!
Nao sei se estao no seu roteiro as cidades mediavais que ficam na fronteira com a Espanha...simplesmente lindas!!!! A minha preferida: Monsaraz. Se puder, da uma chegadinha ate la, vale a pena.
Beijos...boa viagem!
Mto bom pra mim saber das pessoas que por aqui andaram. Cláudio, eu nem sabia que seu doutorado tinha sido em Aveiro. A cidade é linda e a gente de lá é mto legal.
ResponderExcluirSolange querida, não está no roteiro passar por aquelas cidades. Mas por aqui tem tto para ver. Para mim tem sido um mergulho na história de uma grande parte de mim, que é portuguesa.
Élcio, vc falou legal. É isso mesmo, um saveiro com colunas jônicas.