quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ACEITANDO O NOVO

Uma peculiaridade do povo do Vale do Capão é a capacidade de receber o novo com pouca resistência. Há quase trinta anos cheguei aqui e, naturalmente atraímos, eu e aqueles que me acompanhavam, a curiosidade. Mas logo começaram a chegar outras pessoas a visitar ou fixar residência e esta curiosidade perdeu motivo. Os recém-chegados se inseriram na vida dos nativos e vice-versa, influenciando-se mutuamente. Talvez a maior (e melhor) influência que recebi foi uma certa calma na resolução das coisas. Uma vez o carro que me conduzia a Palmeiras para ir a Salvador quebrou. Fiquei muito angustiado, mas o povo que diligentemente procurava ajudar, não estava nem um pouco agoniado. Pensei que talvez fosse porque eles não tinham compromissos lá em Salvador como eu tinha, mas observando melhor encontrei que nos próprios compromissos a postura era a mesma. Há uma certa paciência no fazer as coisas. Quando participei dos mutirões da construção do coreto, notei que os pedreiros iam chegando, acendiam o fogo, preparavam o moquém para suas carnes (e meus aipins), rindo felizes, brincando entre si, depois começavam a fazer a massa e depois entravam no trabalho com vigor. Não havia preguiça, havia uma coisa depois da outra. Fui aprendendo embora não seja bom aluno. E o povo daqui aprendeu com a gente imigrante. Uma vez vi crianças nativas brincando de roda, cantando uma música em castelhano, lá do jeito deles, mas enfim. Quando tivemos uma gincana e nela se propôs um coral, este se tornou fixo e está aí até hoje. O povo gosta de novidade. Hoje, há pouco cheguei ao posto e encontrei Dêja dando aula de tai-chi-chuan para um grupo de senhoras. Todas nativas, todas felizes, estão adorando esta novidade de milhares de anos vinda do outro lado do mundo. Quando vou ao Pilates, noto as senhoras e senhores daqui fazendo a ginástica novedosa que todos aceitam, admiram e gostam. Claro que temos exceções, mas é impressionante como têm abertura para as coisas que não conhecem e que o mundo traz. E, entenda-se, não isso significa que deixem de ser eles mesmos.
Já andei por um bocado de lugares interioranos. A onipresença da televisão tem destampado as cabeças trazendo e as vezes impingindo aberturas para costumes alheios aos hábitos locais, mas mesmo assim há desconfiança para com o estrangeiro. Aqui não é isso o que acontece. O Brasil, que é um país de estrangeiros se bem o notamos, já que portugueses, africanos, japoneses, espanhóis que fazem de nosso sangue esta mescla de aqui não são. E daqui os que são, índios, o são em franca minoria. Vai daí que é do Brasil a competência para olhar o diferente sem aquele assombro de medo e rejeição. E aqui no Capão vejo que essa virtude se concentrou.
Recebam um abraço carinhoso em 1/10/09. Aureo Augusto.

2 comentários:

  1. Caro professor Aureo, estou sempre lendo seus texto e eles são para mim muito valiosos porque fortalece minhas crescas na natueza viva de todos nós. Felicidades

    Itabuna-Ba
    Marisane Mendes

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  2. Marisane,
    fico feliz em saber que vc acompanha estas "conversas". Para mim todos nós precisamos descobrir a relação que temos com a natureza, tto aquela óbvia, biológica, qto a sutil, que poderíamos chamar de espiritual.
    Seu comentário é um incentivo.
    Um abraço,
    Aureo Augusto

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