sexta-feira, 30 de outubro de 2009

MEDICINA OCULTA NO COTIDIANO 11

DEVO MORRER
Devo morrer. Mais uma vez chegou um momento destas transformações tais que a pessoa que por isso passa, passa por uma morte! De quando em vez isso acontece, por isso deixamos de ser crianças e depois abandonamos o corpo da adolescência e por aí vai. Às vezes a mudança é mais profunda, pois não se revela na alteração dos corpos. Trata-se da descoberta e compreensão da necessidade de superação de determinados padrões de comportamento ditados pelo bom senso em dado período, tornados neuróticos (que é o mesmo que dizer: anacrônicos) com a passagem do tempo.
Mas, também devo acrescentar que aquilo que se tornou neurótico, portanto um peso, é aquilo a que estou acostumado. Se por um lado experimento o alívio por haver deixado para trás algo que desde há muito me causava incômodo, me custava muita energia manter, de outra maneira é também algo que configurava uma rotina de identificação. Olho-me no espelho e descubro-me outro. Desacostumado deste outro, estranhado entristeço. Vem a mim uma xenofobia de mim, ou melhor, deste eu que é novo, estranho, estrangeiro na terra daquilo que eu sou. Pior, aqueles que me conhecem pensam que eu sou o eu ao qual se acostumaram. Acreditam que ainda serei o mesmo no qual sempre depositaram suas esperanças de carinho, de brigas, de birras, de irascibilidade, de infantilidade, de jogos de dominação etc. Que não nos enganemos: No outro quando o encontramos esperamos aquilo que cremos seja o melhor para nós, ainda que esta crença tenha o silêncio das coisas do inconsciente. Existem algumas pessoas das quais esperamos sempre uma guerra. É horrível quando nos decepcionam. D’outras preferimos esperar um eterno ombro amigo. É horrível quando nos decepcionam. Há aquelas de onde nos nutrimos de pirraças discretas, e aquel'outras donde haurimos jogos de sedução, fingidas recompensas, falsas complementações, fugazes amores irrealizáveis, inigualáveis, porém inexistentes promessas de futuros adoráveis... Quando o outro muda e não nos avisa caímos no vazio do inesperado. Por isso aviso: Estou mudando!
Soma-se aos meus impedimentos que atrapalham meu processo de mudança, minha tão cara procrastinação, meu adorável tradicionalismo, minha companheira de tantas horas solitárias, a preguiça e meu amado conservadorismo. Minha diligência nas tarefas cotidianas me ajuda no esconder de mim o caminho da saída deste emaranhado de rotinas psíquicas que me foram tão úteis, mas que agora se mostram um estorvo. Também, minha habitual cegueira revela-se um forte apoio na manutenção do fardo mofado que devo abandonar. Soma-se aos meus próprios impedimentos o fato de que meus amigos, parentes, a gente que amo e também a que detesto, segue olhando para mim como se a morte não rondasse os meus passos, como se a transformação fosse apenas uma miragem no horizonte. Por isso aviso, mudei!
Um eu que era o eu a que se acostumaram descobriu certas coisas de si e existem certas coisas que uma vez descobertas tornam-se incômodas (como a roupa nova do rei) e, pior, impossíveis. Tem determinados aspectos de si que só se mantêm enquanto inconscientes, uma vez descobertos tornam-se insustentáveis, por isso não posso sequer mais dizer que estou mudando, daí repito: Mudei!
Por isso, vocês que me conhecem, não me tratem como se eu fosse aquela pessoa que conheceram e não esperem de mim as mesmas respostas. E, se os aviso, devo dizer que apenas sigo o conselho da escritora americana Lillian Hellman, falecida em 1984, que disse: “As pessoas mudam e, geralmente se esquecem de comunicar a mudança aos outros”.

Isso, queridos, é mto forte qdo resolvemos cuidar de nossa saúde de uma forma profunda. Cuidar mesmo é mudar!
Aureo Augusto.

3 comentários:

  1. Olá Dr.

    Bom poder falar para os amigos que estamos em constante mudança, que MUDAMOS.(um dia chego lá, rs..)
    belo texto!!!

    O Sr. é o Dr. Aureo do Beco da Coruja?
    Grande Abraço.
    Ada.

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  2. Sim, Ada, sou o mesmo do Beco da Coruja, mas isso foi há tto tempo que me pergunto se não foi um antepassado meu!
    Mudamos mais do que pensamos, e, na verdade, continuamos os mesmos. A vida é um paradoxo.
    Um abraço,
    Aureo Augusto

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  3. Rapaz!!!!!! Fiquei perplexa com o seu texto.Lindo!!!!!!!!!!Demais!!!!!!!!!!!1
    Tudo isso porque me senti contemplada,satisfeita.Como se eu mesma quisesse dizer isso a muita gente.Tornei-me sua visitante permanente.E olhe q tudo foi por acaso.Aliás, nada é por acaso.Mas, lendo a resposta q deu a moça aí em cima, quase q enlouqueçi.....Será possível? eu estava indo e voltei? Quero ver vc, conversar pessoalmente .Onde te encontro?

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