Vejam as surpresas da vida: Aqui no Vale tem um rapaz (já não tão rapaz) que é motoboy. Ele é um sujeito meio troncudo, rude, não no trato, mas por natureza. É difícil entender o que fala, pois mais pra dentro diz as coisas. A gente ao redor fica no esforço de entender e em geral capta por pedaços o seu pensamento. Outro dia usei de seus serviços e quando passamos por perto de umas flores que aqui chamam de açucenas (não é, com certeza). Então ele parou e me disse que quando está agoniado, nervoso, tenso, pára a moto e recolhe uma daquelas flores e fica aspirando o perfume. Em pouco tempo está calmo. O jeito de ele falar era tão poético, tão lindo que me causou uma sensação muito legal. Olhava para aquele gorila e não acreditava que havia tido a sensibilidade de descobrir aquela terapêutica. Na verdade minha surpresa revela um preconceito. Só porque o cara é meio bronco não significa que seja insensível. Aprendi. Aprendo todo dia. Isso é bom, saber que podemos aprender todo dia. Hoje tenho 56 anos no couro (como se diz) e tenho a sensação que agora estou mais capacitado a aprender do que quando era mais jovem. É que depois dos 40 parece que metade da necessidade de estar certo foi embora. Evaporou. Desapareceu. Também lá se foi aquele imperativo de salvar o mundo. É, que onipotência!
Agora olho o mundo se descortinando a minha frente e não me surpreendo quando a ira enrubesce minha face à visão da injustiça, da negligência, da inoperância, da incompetência, da desonestidade... A lista não é pequena. Mas a par da ira, com ela e de braços dados, vem uma coisa que me diz de fazer o que for possível. Xingar quando necessário e calar de outro momento. Arregaçar as mangas e trabalhar com intensidade e prazer, mas hoje já não estou tão atado ao resultado.
Um dia Cybele me viu acordar com cenho franzido. Perguntou por quê. Expliquei que havia acordado com determinadas preocupações. Ela disse que eu já tinha vivido muito, mais de 50 anos, já tinha feito de tudo, ajudado tantos, laborado outro tanto e que agora deveria ficar mais bebendo da doçura do mundo (a primeira doçura é o sorriso dela). Deveria ficar mais tranqüilo e não querer resolver tudo. Tomei na ponta da letra (e não na ponta da faca). Passaram-se uns dias e um amigo de São Paulo telefonou para ela e em dado momento perguntou por mim. Ela respondeu que eu agora estava bem, que tudo o que ela falava eu respondia que tinha mais de 50 anos e que não dava mais para muito esforço ou preocupação. Eles riram muito por lá pelo telefone, e eu cá com meus botões, pois em muito (mas infelizmente não em tudo) tem verdade nesta fala.
Depois de certa idade, embora tenhamos menos tempo para viver, o tempo parece que se estica.
Em 21 de outubro de 2009, receba um abraço carinhoso.
Aureo Augusto
Lindo e verdadeiro, este seu post.
ResponderExcluirMeu marido tb me diz o mesmo que a sua Cybele lhe diz. Eu tb já ultrapassei o portal dos 5.0. EStou com 5.1 e agradecendo a cada momento, a dádiva da vida.
E é isso mesmo. Vamos beber o néctar adocicado do tempo que nos é reservado ainda (espero ainda que seja um bocado de tempo rs rs), fazendo o BEM, sem olhar a quem e AMANDO ao próximo como a nós mesmo.
E colocando DEUS antes de qualquer coisa.
Um grande abraço e continue postando......
Preciso escrever, até para me lembrar. Neste momento estou num pique grande (e delicioso) de trabalho. Embora delicioso, me trouxe graves preocupações que me abateram a saúde. A postagem foi uma forma de me trazer a realidade boa de meus 5.6
ResponderExcluirum beijo,
Aureo Augusto
A lição do poeta Bronco,calhou para mim na ponta do lápis,foi muito mais além do que eu imagina saber... repito; é uma verdadeira lição.Sou grata por encontra-lo por acaso.beijinhos e muitas felicidades.
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